Negócios

Após perder tudo em incêndio, mineira fatura R$ 97 mil com óleos essenciais

Aos 60 anos, Cleicy Alves mira faturamento de R$ 200 mil este ano – entre as estratégias estão capacitação, abertura de uma loja física e aumento da produção

Cleicy Alves de Brito Zanetti, fundadora da Florinda Óleos Essenciais: “Desistir de um sonho é como anular uma parte de quem você é”

Cleicy Alves de Brito Zanetti, fundadora da Florinda Óleos Essenciais: “Desistir de um sonho é como anular uma parte de quem você é”

Caroline Marino
Caroline Marino

Jornalista especializada em carreira, RH e negócios

Publicado em 10 de março de 2025 às 14h10.

Última atualização em 10 de março de 2025 às 15h16.

O discurso de que a produtividade está atrelada à juventude anda ultrapassado. Com o aumento da expectativa de vida e a busca das pessoas por mais saúde e formas de se manterem ativas, o desenho do mercado de trabalho está mudando e desafiando o estigma da aposentadoria. De acordo com um levantamento do Sebrae, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), 4 milhões de negócios são liderados por empreendedores sêniores, um crescimento de 42% entre 2012 e 2023.

É o caso da mineira Cleicy Alves de Brito Zanetti, fundadora da Florinda Óleos Essenciais, localizada em Batatais (SP). Aos 60 anos, ela conquistou o primeiro lugar na etapa estadual e o terceiro na nacional do Prêmio Sebrae Mulher de Negócios 2024, na categoria Produtora Rural, e segue cheia de planos. Atualmente, está cursando a faculdade de Farmácia para aprofundar ainda mais seus conhecimentos e contribuir com o crescimento da empresa.

Entre os planos de 2025, estão o aumento da produção de óleos – de 50 para 500 litros por mês, a expansão das áreas de cultivo e a inauguração de um espaço físico com salas para atendimento e um showroom de produtos. Com isso, a meta é alcançar um faturamento de R$ 200 mil, aproximadamente o dobro do registrado no ano anterior, que foi de R$ 97 mil."

No entanto, o caminho até aqui não foi simples. “Quando comecei a me aprofundar mais nos benefícios dos óleos para a saúde, por volta de 2014, poucas pessoas acreditavam e fui chamada de ‘a doida da melaleuca’, a primeira planta que pesquisei para iniciar o negócio”, lembra. Além disso, quando conseguiu tirar o plano do papel e iniciar a plantação, a partir de uma sociedade, perdeu 50 mil pés de melaleuca por conta de um incêndio na região. “Foi desesperador e meu sócio literalmente ‘jogou a toalha’ e desistiu”, diz.

À Exame, ela conta como reverteu a situação, suas inspirações para seguir e de que forma o empreendedorismo surgiu em sua vida.

Uma paixão que atravessa gerações

A conexão de Cleicy com as plantas medicinais vem de família. Desde pequena, acompanhava de perto o trabalho da avó, uma raizeira experiente que utilizava ervas para tratar diferentes problemas de saúde, e depois de sua mãe, que deu continuidade ao trabalho. Apesar de inicialmente ter seguido um caminho diferente – graduando-se em Pedagogia –, o encanto pelos poderes curativos da natureza nunca a deixou.

Quando seu filho, Gabriel, ingressou na faculdade de Agronomia na Universidade Federal de Lavras (UFLA), em Minas Gerais, essa conexão foi restabelecida. Durante esse período, por Gabriel enfrentar alguns problemas de saúde, ela decidiu deixar a fazenda onde morava, em Batatais, para acompanhá-lo. Pelo fato dele ser avesso a remédios alopáticos, buscou alternativas naturais. Com os ensinamentos que já trazia da família, decidiu mergulhar ainda mais fundo nesse universo.

“Comecei a me aprofundar no estudo dos óleos essenciais”, conta. Foi então que descobriu o núcleo de estudos em plantas medicinais da UFLA. Movida por curiosidade e paixão, passou a frequentar congressos e cursos, incluindo um em aromaterapia oferecido dentro da própria universidade. O acesso ao horto medicinal da UFLA e ao conhecimento acadêmico abriu novas portas, dando início a uma jornada de pesquisa e aprendizado que transformaria sua vida.

O interesse se transformou em paixão e, pouco tempo depois, em um negócio. Ao voltar para casa, em 2017, iniciou o cultivo das plantas e a comercialização dos produtos de forma modesta, por meio do boca a boca. Os primeiros rótulos eram feitos à mão por um afilhado e a produção acontecia em pequena escala.

O desafio do incêndio e a reconstrução

A empresa vinha crescendo, até que, em 2021, um incêndio atingiu a região e destruiu a plantação, que contava com 50 mil pés de melaleuca. Seu sócio na época desistiu do projeto, e a empreendedora se viu diante do dilema de abandonar o sonho ou recomeçar. Foi então que Gabriel decidiu se envolver. Ele desenvolveu um estudo acadêmico sobre o uso da melaleuca como alternativa ecológica para o controle de pragas na agricultura. A pesquisa comprovou a eficácia do produto, trazendo uma nova perspectiva para o empreendimento da família.

A partir desse ponto, mãe e filho decidiram reerguer o negócio. Ela aproveitou sua vasta rede de contatos, formada ao longo dos cursos e capacitações que participou, e conseguiu parcerias com pequenos produtores que forneciam a matéria-prima necessária. Aos poucos, a Florinda Óleos Essenciais voltou ao mercado, agora com uma estrutura mais profissional e legalizada.

Um dos fatores essenciais para a retomada foi o investimento em capacitação. A produtora rural participou de diversas formações, incluindo o Programa Agente Local de Inovação (ALI) do Sebrae, e o Empretec Rural Feminino, promovido pela ONU e realizado em 40 países, que a ajudou no entendimento de estratégias de gestão, precificação e planejamento de negócios.

“Desistir de um sonho é como anular uma parte de quem você é”

Este é o recado que Cleicy deixa às mulheres mais maduras que desejam empreender, mas têm medo. Segundo ela, não existe idade ou tempo, e a base para tirar planos do papel é a união de  resiliência, determinação e capacitação. "Nunca desistam. Muitas vezes, o preconceito e os desafios parecem intransponíveis, mas se você acredita no seu sonho, siga em frente", finaliza.

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