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Após duas décadas, Volks deve perder a liderança do mercado da China, o maior do mundo. Por quê?

Quando a Volkswagen abriu sua primeira fábrica na China há quatro décadas, a concorrência era praticamente inexistente. Com o modelo Santana, a montadora alemã dominou o mercado. Hoje, a situação é completamente diferente

Fábrica da Volks na China: As vendas da montadora alemã caíram mais de 10% somente neste ano, depois de cair de 4,2 milhões de veículos em 2019 para 3,2 milhões no ano passado (Qilai Shen/Bloomberg/Bloomberg)

Fábrica da Volks na China: As vendas da montadora alemã caíram mais de 10% somente neste ano, depois de cair de 4,2 milhões de veículos em 2019 para 3,2 milhões no ano passado (Qilai Shen/Bloomberg/Bloomberg)

Bloomberg Businessweek
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Publicado em 21 de abril de 2023 às 13h11.

Última atualização em 21 de abril de 2023 às 13h13.

Quando a Volkswagen abriu sua primeira fábrica na China há quatro décadas, a concorrência era praticamente inexistente. A Jeep tinha acabado de chegar, e um punhado de locais com nomes como First Auto Works e Second Auto Works, que se especializaram principalmente em caminhões pesados ​​e ônibus, desviaram-se ocasionalmente em veículos populares como o East Wind e o Red Flag.

Por que a VW virou um sucesso na China

Assim, o Santana da VW — um sedã quadrado e sem maiores atrativos baseado em uma versão inicial do Passat — rapidamente se tornou o meio de transporte preferido de ambiciosos executivos de corporações, chefes políticos e, mais tarde, da crescente classe média. A empresa alemã logo se tornou a marca líder na China e, em alguns anos, suas operações forneceram quase metade da receita global da VW.

Como outras marcas estrangeiras, a VW foi obrigada a firmar parcerias em joint ventures que controlariam oficialmente a operação, uma estratégia que visava transferir as responsabilidades de design, engenharia e marketing para empresas locais.

Hoje, a VW tem três:

  • Xangai
  • Jilin
  • Anhui

Como as montadoras chinesas ganharam mercado

Esses parceiros, e empresas mais novas iniciadas por pessoas que já trabalharam nelas, provaram ser alunos muito hábeis.

Atualmente, as montadoras domésticas da China controlam metade do mercado, se comparada a um quarto em 2008. As vendas da VW caíram mais de 10% somente neste ano, depois de cair de 4,2 milhões de veículos em 2019 para 3,2 milhões no ano passado. “O progresso tecnológico feito naquele país é realmente notável”, disse Oliver Blume, CEO da VW, durante a apresentação de resultados da empresa em março. “Isto constitui um grande desafio.”

A tendência está sendo acelerada pelo rápido crescimento de veículos movidos a bateria, com veículos elétricos (VEs) e híbridos plug-in a caminho de atingir cerca de 40% das entregas de veículos da China em 2023. Isso tem sido uma benção para a BYD, maior fabricante de VEs da China, que no primeiro trimestre saltou à frente da VW em vendas de automóveis de passageiros.

O lucro da BYD, que é endossada por Warren Buffett, mais do que quintuplicou no ano passado, para US$ 2,4 bilhões, e a empresa está a caminho de se tornar a principal marca de carros da China até dezembro, encerrando as duas décadas da VW no topo.

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(Bloomberg/Bloomberg)

Blume está visitando o salão do automóvel de Xangai, que abre em 18 de abril, em sua terceira viagem à China desde que assumiu o cargo principal da VW em setembro. Desta vez, ele traz a diretoria da empresa para entender melhor os desafios que a VW enfrenta em seu maior mercado.

No salão, a montadora diz que exibirá 20 VEs em suas várias marcas e destacará parcerias destinadas a criar carros sob medida para a China. A estrela da linha VW será o 100% elétrico ID.7, um sedã que pretende atrair a preferência chinesa por carros espaçosos.

Em um pavilhão separado, a Porsche apresentará a outra estreia do Grupo VW para o salão: uma reformulação de seu SUV Cayenne — com motor a combustão (a versão totalmente elétrica não é esperada antes de 2026).

Quais foram as montadoras chinesas beneficiadas pelo governo

Embora os fabricantes chineses tenham ficado muito atrás dos estrangeiros na venda de carros movidos a gasolina, o governo impulsionou os campeões locais de VEs, dando aos consumidores incentivos para comprar seus veículos.

Esse esforço beneficiou:

  • BYD
  • Nio
  • Geely
  • bem como empresas como a CATL (Contemporary Amperex Technology, maior fabricante mundial de baterias para veículos elétricos)
  • e o Grupo Ningbo Tuopu, que fabrica componentes para a Tesla e agora atende a dezenas de clientes.

“O impulso chinês para a eletrificação foi principalmente uma forma de nivelar o campo de jogo entre os titulares alemães e os profissionais chineses”, diz o analista da Jefferies, Philippe Houchois.

Cada vez mais, a VW se vê competindo com suas próprias afiliadas de joint venture. Sua parceira em Xangai, a SAIC Motor, juntou-se à gigante da internet Grupo Alibaba para formar a especialista em veículos elétricos, a IM Motor.

A empresa diz que conseguiu colocar seu primeiro modelo, o L7 SUV, no mercado em menos de dois anos, bem menos da metade do tempo que a VW levou para iniciar a produção do seu elétrico ID.3. “Temos que nos tornar mais rápidos”, disse Ralf Brandstaetter, CEO da VW na China, em fevereiro. “O mercado exige rapidez”.

Quais empresas de tecnologia chinesas também saíram ganhando

As crescentes fileiras de engenheiros de software da China ajudaram os rivais domésticos a ultrapassar a VW em tecnologias emergentes. A Xpeng está focada em recursos de direção autônoma que, segundo ela, são melhores do que os da Tesla nas estradas da China.

E os cupês, sedãs e SUVs da Nio apresentam um robô de painel chamado Nomi com um rosto animado que pode ser programado para entreter as crianças no banco de trás acenando, piscando e fazendo expressões engraçadas. Os pais podem usar o recurso para ajustar a temperatura ou abrir as janelas por comando de voz.

A VW tem sido confrontada por reclamações de falhas de conectividade e telas que escurecem abruptamente — problemas que a empresa reconhece e diz que está trabalhando para consertar. “As pessoas veem que as marcas chinesas têm vantagem tecnológica”, diz Jing Yang, diretor de pesquisa da Fitch Ratings em Xangai. Yang, que possui um carro a combustão Mercedes-Benz, diz que pode mudar para um VE e está se inclinando para uma marca local porque oferece superiores recursos de direção autônoma.

A ascensão das montadoras locais foi auxiliada pelos gigantes da tecnologia da China, que juntos investiram mais de US$ 19 bilhões em tecnologias relacionadas a veículos desde 2021. A fabricante de equipamentos de telecomunicações Huawei Technologies e o rei dos mecanismos de busca Baidu estão trabalhando em ferramentas de direção autônoma e nos chamados recursos de cabine inteligente com foco na segurança e no conforto do motorista e dos passageiros. E a gigante dos smartphones Xiaomi está desenvolvendo seu próprio carro, esperando iniciar a produção em massa no ano que vem.

Como a VW pretende reagir

A VW pretende reagir mais do que triplicando sua capacidade de produção de veículos elétricos na China para 1 milhão de carros por ano até meados da década. A empresa diz que planeja lançar mais meia dúzia de modelos totalmente elétricos no país até 2025, e espera ter mais de 30 até o final da década.

Sua divisão de software, a Cariad, está formando uma parceria com a empresa local de codificação, ThunderSoft,  para reforçar dispositivos automotivos, como sistemas de entretenimento. E está desenvolvendo tecnologia de direção autônoma com uma empresa de Pequim chamada Horizon Robotics Technology R&D. A montadora disse em outubro que investiria € 2,4 bilhões (US$ 2,6 bilhões) em uma joint venture com a Horizon para produzir semicondutores que formarão a espinha dorsal desses sistemas.

A VW precisará reorientar drasticamente suas operações chinesas em direção aos veículos elétricos, produzindo modelos que se mostrem tão populares quanto seus carros a combustão, diz Jochen Siebert, da consultoria de Xangai, JSC Automotive.

Isso nunca seria fácil e está ficando mais difícil à medida que os rivais domésticos se fortalecem e fabricam veículos cada vez melhores. Mas o fluxo de caixa abundante e a escala maciça da VW significam que ela tem uma chance tão boa quanto qualquer outra de fazer a mudança, diz Siebert. “A Volkswagen já passou por momentos difíceis antes”, diz ele. “Do ponto de vista histórico, eles sabem como sair disso.”

Tradução de Anna Maria Dalle Luche.

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