(Peter Nicholls/Reuters)
Mariana Desidério
Publicado em 5 de março de 2019 às 08h00.
Última atualização em 5 de março de 2019 às 08h00.
O CEO da Anheuser-Busch InBev, Carlos Brito, tem um recado para os investidores que receiam que o colapso financeiro da Kraft Heinz na semana passada se repita: a cerveja não seguirá o exemplo do ketchup.
Há muitas razões para temer o contágio. As duas empresas compartilham membros da diretoria e implementam o mesmo mantra de corte de custos defendido pela firma de private equity 3G Capital. E a dona da Budweiser já havia alarmado os acionistas quando reduziu seu dividendo, em outubro.
A AB InBev aplacou algumas dessas preocupações na quinta-feira, quando informou um crescimento dos resultados que superou as estimativas. A diferença pode ser ainda mais profunda, já que Brito disse que, apesar de ser fiscalmente prudente, está disposto a investir no crescimento.
Os acionistas não estão pedindo que a diretoria da AB InBev entregue "todo o dinheiro que puder na forma de dividendos", disse Brito em uma entrevista na sede da cervejaria, em Lovaina, na Bélgica. "Se você pensa em eficiência, a decisão mais eficiente é fechar a empresa. Aí os custos vão a zero. Mas não é exatamente para isso que estamos aqui."
Em seus resultados, a AB InBev adicionou ao panorama uma linha que sugere que a companhia está se distanciando da abordagem da Kraft Heinz em relação aos resultados. Em vez de simplesmente cortar as despesas gerais e elevar os preços para aumentar o lucro, a empresa planeja ampliar os gastos de marketing para tentar vender mais cerveja.
Isso seria um desvio da estratégia de Jorge Paulo Lemann, maior acionista da AB InBev e sócio-fundador da 3G, que assumiu a HJ Heinz em 2013 com o apoio da Berkshire Hathaway, de Warren Buffett. Após a aquisição da Kraft Foods, as duas empresas foram combinadas e os custos foram reduzidos para alcançar as maiores margens de lucro do setor. A baixa contábil de US$ 15,4 bilhões da semana passada sobre o valor de ativos como as marcas Kraft e Oscar Mayer, que provocou uma queda de 27 por cento nas ações, evidenciou os limites dessa estratégia.
A AB InBev aplicou anteriormente uma receita similar. Três décadas de aquisições em série, seguidas por disciplina extrema em gastos, transformaram-na na maior e mais lucrativa cervejaria do mundo. No entanto, a correlação com a queda da Kraft Heinz é limitada, disse Brito.
"Aqui, a eficiência nunca foi um fim em si", disse ele. "Era um meio para um fim."
Sob o comando de Brito, os investimentos recentes se concentraram em manter a AB InBev a par das mudanças nas tendências, ao invés de buscar sinergias de corte de custos. A empresa adquiriu cerca de uma dúzia de cervejarias artesanais na tentativa de contratar mais talento empresarial, está aumentando os gastos com tecnologia e recentemente fez uma parceria com a Tilray para pesquisar bebidas com cannabis.
"A diretoria da AB InBev tem um longo mandato e um profundo conhecimento da categoria de cerveja", escreveram analistas da Evercore, liderados por Robert Ottenstein, em uma nota para clientes sobre os contrastes entre a cervejaria e a Kraft Heinz. A empresa "investiu intensamente em vendas, marketing e dispêndio de capital, inclusive nos EUA, nos últimos anos, como parte de sua transição para o crescimento orgânico".