Rio de Janeiro/São Paulo - Em um momento em que repercussões de uma crescente investigação derrubaram a Petrobras para o grau especulativo, traders no mercado de derivativos sinalizam que o apoio do governo, por si só, pode não ser suficiente para evitar novos rebaixamentos do rating da empresa.
Ao se comparar o custo para um investidor se proteger de um calote da dívida e da empresa, o custo de proteção para bonds da Petrobras mais do que dobraram desde que surgiram as acusações de corrupção e subornos na produtora de petróleo controlada pelo governo, em novembro.
O prêmio saltou para 3,50 pontos porcentuais na semana passada, o maior da história.
A Moody’s Investors Service reduziu o rating de crédito da Petrobras em dois degraus, nesta semana, devido à preocupação de que a investigação irá prejudicar a capacidade da empresa de obter financiamento e controlar sua dívida de US$ 135 bilhões, a maior entre as produtoras de petróleo de capital aberto do mundo.
“O governo parece estar disposto a dar apoio à empresa, mas isso não parece ser suficiente” no que diz respeito à qualidade de crédito, disse Paulo Gala, estrategista da Fator SA Corretora de Valores, por telefone, de São Paulo.
O governo liberou à Petrobras até R$ 6 bilhões (US$ 2,1 bilhões) de bancos estatais para reforçar a posição de caixa da companhia, informou o jornal O Estado de S. Paulo na quinta-feira, citando um executivo não identificado da empresa.
A Petrobras, que foi praticamente excluída dos mercados internacionais de dívidas devido à investigação federal, possui cerca de US$ 52 bilhões em bonds.
Rebaixamento no rating
A assessoria de imprensa da Petrobras preferiu não comentar o potencial apoio do governo e a reportagem do Estadão.
Em um comunicado, na quarta-feira, a empresa com sede no Rio de Janeiro disse que estuda opções de financiamento e cortes de custos após o rebaixamento pela Moody’s, no dia anterior.
A Petrobras também disse que planeja divulgar resultados auditados “o mais brevemente possível” e que está adotando medidas para preservar caixa e reduzir dívida.
A Moody’s manteve uma perspectiva negativa para o rating da Petrobras após rebaixá-lo para Ba2, dois níveis abaixo do grau de investimento e três degraus abaixo da nota do governo.
O rebaixamento de dois níveis é o segundo corte realizado pela Moody’s em menos de um mês.
Embora provável, o apoio do governo não será suficiente para evitar mais rebaixamentos para o grau especulativo, disse Fabiano Santin, analista de crédito da XP Investimentos CCTVM SA.
“Se estivesse dentro eu sairia, porque a probabilidade de outro rebaixamento é real”, disse ele, do Rio de Janeiro.
Swaps sobem
A Fitch Ratings e a Standard Poor’s classificam a Petrobras como BBB-, os mais baixo patamar do chamado grau de investimento.
A Fitch, em resposta por e-mail a perguntas, disse que não alterou sua perspectiva para a Petrobras. A S&P preferiu não comentar a respeito de uma potencial mudança no rating da empresa.
Os derivativos chamados de credit default swap de cinco anos da Petrobras subiram 2,8 pontos porcentuais, para 6,06 pontos porcentuais, desde 13 de novembro, o dia anterior ao que a polícia prendeu mais de 20 pessoas como parte da investigação que apura se os executivos da empresa exigiram subornos de construtoras em troca de contratos.
Contratos similares do Brasil custam 2,56 pontos porcentuais.
Embora o Brasil não garanta explicitamente a dívida da Petrobras, a posição do governo de maior acionista da empresa historicamente deu aos investidores a confiança de que o apoio estatal, em um momento de dificuldades, estaria praticamente assegurado.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sinalizou neste ano que haveria uma maior austeridade fiscal e uma participação menor de bancos públicos na concessão de crédito no país.
“Haverá outros rebaixamentos”, disse Jorge Piedrahita, CEO da corretora Torino Capital em Nova York, em um e-mail. “Os negócios da Petrobras ainda estão em desordem”.
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1. Tempos difíceis
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1/9 (Divulgação/EXAME)
São Paulo – De suspeitas de corrupção a multas bilionárias, a
Petrobras tem sido protagonista de algumas das principais - más - notícias do Brasil nos últimos tempos. Alvo de uma das maiores investigações de corrupção corporativa do país, a petroleira hoje sofre uma crise de credibilidade que a faz perder valor de mercado a cada novo fato divulgado. E tem sido um exemplo de que realmente tudo pode dar errado ao mesmo tempo agora. Listamos oito fatos recentes sobre a Petrobras que comprovam que o ruim pode sempre piorar.Veja nas fotos.
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2. Operação Lava Jato
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2/9 (Arquivo/Agência Brasil)
Deflagrada em março de 2014, a
Operação Lava Jato investiga um esquema de corrupção dentro da Petrobras em que um possível esquema de lavagem de dinheiro e contratos irregulares por meio de licitações beneficiaria partidos políticos. Desde então, pessoas, grandes transações e contratos fechados com irregularidade são alvo de investigação da Polícia Federal. A operação em curso ainda tem muito que apurar – e a lista de possíveis envolvidos no escândalo só aumenta. Inclui grandes empreiteiras, fornecedores e políticos.
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3. Fornecedores na mira
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3/9 (Germano Lüders/Exame)
Até agora, 23 empreiteiras foram indiciadas por envolvimento na operação. Em uma segunda etapa, mais recente, outras 82 empresas de setores diversos foram indiciadas. Além de executivos presos, algumas das companhias citadas passam por dificuldades de acesso a crédito, falta de pagamentos de aditivos de contratos com a Petrobras e contam com muitas obras paradas e prejuízo. Algumas dessas empresas já
decretaram falência. Outras, como a Camargo Correa, fizeram
demissão em massa. O estrago até o fim da operação pode ser ainda maior. A estimativa é que a Petrobras tenha hoje cerca de 6.000 fornecedoras no país.
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4. Balanço incompleto
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4/9 (REUTERS/Paulo Whitaker)
O atraso na divulgação de resultados da companhia, previsto inicialmente para outubro do ano passado, acabou criando uma expectativa negativa no mercado sobre o que estaria por vir. Mas o estrago foi ainda maior que o previsto quando a empresa fez a efetiva publicação do balanço, no final de janeiro. No relatório, a estatal divulgou uma diferença de quase R$ 62 bilhões entre o valor real dos ativos e o contabilizado no balanço anterior, do segundo trimestre. A diferença não foi identificada como perdas com corrupção e a auditoria de todos os ativos não foi feita de maneira independente. A revelação do número assustou e gerou ainda mais incertezas nos investidores. Acabou criando uma situação insustentável para a Petrobras, que viu suas ações desabarem.
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5. Mudança de comando
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5/9 (Ueslei Marcelino/Reuters)
Dias depois da divulgação dos resultados,
Graça Foster e outros cinco diretores da companhia
renunciaram ao comando da Petrobras. Por dois dias, ficou no ar a dúvida sobre quem assumiria a responsabilidade de liderar a maior empresa do país em meio a um turbilhão de incertezas e denúncias. A expectativa era a de que o governo escolhesse alguém do mercado, que tivesse independência para decidir os rumos da empresa de agora em diante. Dilma Rousseff anunciou o nome de
Aldemir Bendine para o cargo. Tido como
um perito em crises e aliado do governo, Bendine deixou o comando do Banco do Brasil para assumir como presidente da Petrobras. A notícia azedou ainda mais o humor dos investidores.
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6. Acidente fatal
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6/9 (REUTERS/Gabriel Lordello)
Uma semana depois da troca de comando, um novo desastre atingiu a empresa – esse vindo dos mares e com consequências fatais. A explosão a bordo do navio-plataforma FPSO Cidade de São Mateus, no Espírito Santo, causou a
morte de cinco pessoas e deixou outras dez feridas – duas delas em estado grave. A norueguesa BW Offshore era a proprietária da embarcação e trabalhava para a petroleira brasileira. Ainda não se sabe o que causou a explosão.
A única certeza é a de que o acidente foi o terceiro maior desse tipo na história da empresa e que ela terá de arcar com uma multa, caso fique comprovado erro de operação.
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7. Revolta dos acionistas
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7/9 (Scott Eells/Bloomberg)
Além dos problemas internos, a Petrobras e seus acionistas no Brasil podem enfrentar uma possível revolta dos investidores estrangeiros. A estatal tem ações na Bolsa de Nova York e, se as denúncias de corrupção forem comprovadas, uma multa bem pesada pode chegar. Nos Estados Unidos,
uma ação simultânea da Securities and Exchange Comission (SEC), do Departamento de Justiça (DoJ) e dos tribunais americanos já fez com que técnicos fossem enviados ao Brasil para analisar o caso da Petrobras. A punição para a Petrobras, caso se comprove fraudes contra os acionistas, pode superar os valores de casos emblemáticos, como o da elétrica Enron, fechado em US$ 7,2 bilhões em 2006.
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8. Dívidas em dólar
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8/9 (Scott Eells/Bloomberg)
O momento ruim da Petrobras ainda conseguiu piorar com ajuda da alta do dólar. A valorização da cotação, a mais alta desde 2004, fez com que a dívida da companhia explodisse ao patamar da maior de toda a sua história. Calcula-se que 70% do endividamento da Petrobras estejam atrelados à moeda estrangeira, por isso um baque tão grande. Além do aumento do endividamento, fica mais caro para a Petrobras importar insumos, o que, por consequência, reduz seu caixa.
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9. Agora, veja 14 fatos incríveis sobre a Apple
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9/9 (Divulgação)