O BR Partners ficou em sexto lugar este ano na assessoria de fusões no Brasil no ranking de número de operações até o fim de novembro (Divulgação)
Da Redação
Publicado em 12 de dezembro de 2012 às 08h33.
São Paulo - Andrea Pinheiro pensou que estava fora do mundo dos bancos quando um amigo a convidou para começar uma butique de fusões e aquisições em 2009.
Três anos depois, o BR Partners, a empresa que Andrea e Ricardo Lacerda, ex-presidente do Goldman Sachs Group Inc. no Brasil, fundaram em São Paulo, é um banco de investimento que está tirando fatia de mercado de concorrentes maiores graças às conexões de seus executivos e a um foco singular no Brasil.
O BR Partners ficou em sexto lugar este ano na assessoria de fusões no Brasil no ranking de número de operações até o fim de novembro. De acordo com dados compilados pela Bloomberg, a instituição deixou para trás gigantes internacionais como o JPMorgan Chase & Co., sediado em Nova York. O valor em dólar das operações do BR Partners representa 13 por cento do mercado, em comparação com 2,1 por cento em todo o ano passado.
“Há espaço para um banco de investimento com menos conflito e para pessoas que falam a nossa língua e que estarão aqui no Brasil aconteça o que acontecer”, disse Andrea, 46, em entrevista em São Paulo.
Assim como Dilma Rousseff, a primeira mulher a presidir o País, Andrea Pinheiro está abrindo caminho para profissionais do sexo feminino em um país no qual os homens ocupam a maioria dos postos no setor de banco de investimento. As mulheres foram apenas 29 por cento do total de executivos contratados por bancos de atacado por meio da empresa de recrutamento Fesa Global Recruiters entre 2010 e o primeiro trimestre de 2012.
Andrea, diretora operacional do BR Partners, diz que o conhecimento local conquista clientes. A francesa Casino Guichard-Perrachon SA, por exemplo, contratou o BR Partners para assessorá-la na briga pelo controle da Cia. Brasileira de Distribuição Grupo Pão de Açúcar, maior varejista do País, no começo do ano.
Jaime Pinheiro
A família Pinheiro está no setor bancário há quatro gerações. O pai de Andrea, Jaime Pinheiro, vendeu o Banco BMC para o Banco Bradesco SA por cerca de R$ 800 milhões reais em 2007. Jaime e Andrea, sua única filha mulher, são investidores do BR Partners.
Ela se formou em administração de empresas na Faap e tem MBA na Leonard N. Stern Business School em Nova York de 1996. Seu primeiro trabalho foi como estagiária no BMC e depois gerente financeira na Cotece SA, empresa têxtil de sua família. Depois do MBA, Andrea foi trabalhar no time de fusões e aquisições e depois de analistas do SG Warburg & Co., hoje UBS AG.
“Fui uma analista de bancos, mas eu só fui realmente entender um balanço de banco trabalhando com meu pai”, disse.
Andrea se tornou o braço direito de Jaime Pinheiro como diretora vice-presidente responsável pelas áreas de relações com investidores, controles, financeira, marketing e planejamento do BMC. Depois que o banco foi vendido, ficou dois anos no Bradesco supervisionando a área de crédito consignado e depois tirou um período sabático até Lacerda, o presidente do BR Partners, persuadi-la a se juntar à sua equipe.
Investimento inicial
“Eu não queria trabalhar mais no mercado financeiro, estava cansada e queria mais flexibilidade para ficar com meu filho”, disse ela, acrescentando que Gabriel, com 12 anos, diz querer seguir os seus passos e se tornar banqueiro. Ela tem também uma filha, Isabella, 19 anos, cantora, que pretende se tornar uma jornalista.
“Em vez de me prometer salários enormes, Lacerda me convenceu a colocar meu próprio dinheiro em risco para obter o emprego”, disse ela, acrescentando que não conseguiu resistir às tentações de começar um banco do zero.
Desde 2010, o BR Partners dá um retorno anual ao redor de 15 por cento sobre o capital dos acionistas, de R$ 210 milhões.
“Andrea acrescenta muito ao nosso time, pois é a única banqueira de origem”, disse Lacerda. Os contatos dela com empreendedores locais de empresas de médio porte brasileiras ajudam o banco a competir, disse.
"Sedutora"
No mundo masculino das finanças da América Latina, Andrea aprendeu como agir. Ela conta um episódio, no início de sua carreira, quando um executivo argentino resolveu compartilhar com ela o quão sedutora ele considerava a mulher brasileira. “Eu era muito jovem e comecei a gritar -- na frente de 15 pessoas”, ela diz. “Hoje em dia, eu teria me controlado e deixado para lá.”
Andrea cuidou das negociações com o Banco Central para obter em junho a licença de banco de investimento e corretora para o BR Partners.
“Andrea tem uma personalidade forte e sabe se impor em um ambiente masculino”, disse Lacerda.