Garrafas de cerveja: a Ambev, que tem sede em São Paulo, está fazendo o ajuste fino nas operações em meio a uma queda projetada de 4 por cento na venda de bebidas neste ano (Mike Fuentes/Bloomberg)
Da Redação
Publicado em 9 de agosto de 2013 às 10h04.
São Paulo - Os brasileiros estão tomando menos cerveja pela primeira vez em dez anos. A Cia. de Bebidas das Américas, a maior cervejaria da América Latina, diz que ainda pode aumentar seus lucros.
A Ambev, como é conhecida a unidade brasileira da Anheuser-Busch InBev NV, está promovendo as cervejas premium, de maior margem, e reembalando os produtos mais baratos para torná-los mais acessíveis após uma queda surpresa no volume, disse o CEO João Castro Neves na semana passada, em uma teleconferência.
A empresa também está se expandindo no Norte e no Nordeste, onde as vendas não desaceleraram como em outras regiões.
“Mesmo que estejamos esperando que os volumes caiam, é um número de volume, não de lucro”, disse Lauren Torres, analista do HSBC Holdings Plc, por telefone, de Nova York. “Eles ainda poderiam fazer a empresa crescer, gerar caixa e pagar dividendos”.
A fabricante de bebidas, que tem sede em São Paulo, está fazendo o ajuste fino nas operações em meio a uma queda projetada de 4 por cento na venda de bebidas neste ano, disse o CEO Nelson Jamel em teleconferência com jornalistas, em 31 de julho.
Este poderá ser o primeiro declínio anual desde 2003, segundo apresentações da Ambev a analistas e investidores. Após a Copa das Confederações, em junho, ajudar a manter as vendas temporariamente, uma inflação maior e os aumentos dos impostos federais sobre refrigerantes e cervejas estão reduzindo o consumo.
Rally de ações
De 14 analistas que acompanham as ações da Ambev, sete dizem comprar, incluindo Torres, que tem um rating superestimado. Sete recomendam segurar as ações. A fabricante das cervejas Skol e Brahma e engarrafadora dos refrigerantes PepsiCo subiu 0,5 por cento em 2013 até ontem, enquanto o Ibovespa caiu 20 por cento.
Alan Alanis, analista da JPMorgan Chase Co., disse que os executivos estão reescalonando marketing e investimentos enquanto trabalham para quantificar a queda em volume e assegurar que as metas financeiras serão alcançadas.
Torres, do HSBC, disse que o estilo agressivo de gerenciamento de custos do bilionário Jorge Paulo Lemann, dono da 3G Capital Inc., maior acionista na AB InBev, controladora da Ambev, vai ajudar a enfrentar o declínio.
“Se eles não entregam, não são pagos”, disse Alanis, em entrevista por telefone, de Nova York. Das últimas vezes que os executivos não alcançaram suas metas -- em 2003 e 2008 -- os bônus não foram pagos, disse ele. “É uma cultura que alinha a valorização do acionista com uma remuneração por gerenciamento melhor do que em qualquer outra empresa da região.”
Risco de queda
O corte de custos e as estratégias de novos produtos podem não ser suficientes se as vendas de cervejas continuarem a cair bruscamente, disseram, em comunicado, analistas da Goldman Sachs Group Inc., liderados por Luca Cipiccia, em 31 de julho. “Uma nova deterioração das dinâmicas de volumes no Brasil é o principal risco de queda”, disse Cipiccia, que foi neutro em relação às ações.
A Ambev espera que “a indústria de cerveja brasileira se mantenha ou mostre uma queda de um dígito no ano”, disse o CEO Castro Neves. “Os planos para o ano permanecem”, disse ele, incluindo crescimento de um dígito da receita líquida por cada 100 litros de cerveja produzidos.
Vendas, salários e custos operacionais subirão menos que a inflação, de acordo com a empresa, que não divulga previsões detalhadas dos ganhos.
O lucro líquido no segundo trimestre caiu 1,1 por cento em comparação com o ano anterior, para R$ 1,88 bilhão (US$ 823 milhões), informou a Ambev na semana passada. A receita subiu 10 por cento, para R$ 7,5 bilhões.
“Viemos fortes no segundo trimestre, o que foi ótimo, mas definitivamente temos que seguir assim durante o segundo semestre do ano -- sem dúvida nenhuma”, disse Castro Neves, na teleconferência. A assessoria de imprensa da Ambev em São Paulo preferiu não fazer novos comentários a respeito da empresa.
Influência de Lemann
Em 1989, Lemann e seus parceiros juntaram uma série de cervejarias latino-americanas na compra da Cervejaria Brahma, que se tornou Ambev em 1999. Em 2004, eles arquitetaram a fusão de US$ 11 bilhões da Ambev com a Interbrew SA, da Bélgica. Eles seguiram em 2008 com uma união de US$ 52 bilhões com a Anheuser-Busch, criando a maior cervejaria do mundo.
A Berkshire Hathaway Inc., de Warren Buffett, uniu-se com a 3G Capital no início deste ano para adquirir a HJ Heinz Co. em um negócio de US$ 28,8 bilhões que inclui financiamento de dívidas. A fabricante de ketchup informou em junho que 11 executivos estavam saindo após a 3G e a Berkshire mudarem a gerência.
Como líder de mercado, com 68 por cento da venda de cervejas, a Ambev poderá repassar os aumentos de impostos federais esperados para outubro aos consumidores, disse Alanis, da JPMorgan. As exportações também podem ajudar a aumentar os lucros em um momento em que a moeda brasileira está enfraquecendo, disse ele.
“É uma companhia de alto nível que sabe como gerenciar em meio a condições difíceis”, disse Torres, do HSBC. “Demora um tempo convencer as pessoas de que as coisas irão para a direção certa”.