Negócios

Alstom quer transformar Brasil em base de expansão na AL

Depois das usinas de Jirau e Santo Antônio, empresa francesa quer fechar parceria com Belo Monte e expandir negócios no Equador, Peru, Colômbia e Chile

Marcos Costa: "Queremos ser mais fortes no Brasil e ganhar mais peso na América Latina" (.)

Marcos Costa: "Queremos ser mais fortes no Brasil e ganhar mais peso na América Latina" (.)

DR

Da Redação

Publicado em 14 de agosto de 2013 às 11h21.

São Paulo - Depois de uma sucessão de governos darem de ombros para a infraestrutura, o Brasil inicia o maior ciclo de grandes obras dos últimos 30 anos para desatar o nó do setor que freia o desenvolvimento do país. Os investimentos em energia são um dos mais discutidos entre os projetos atuais.

Isso porque o país tem hoje três grandes usinas hidrelétricas na região norte: Jirau, Santo Antônio e o tumultuado projeto de Belo Monte, que há 30 anos está no papel e, finalmente, deve se concretizar.

Por trás de todos esses empreendimentos está a empresa francesa Alstom, líder mundial no fornecimento de turbinas e geradores -- material responsável pelo funcionamento das usinas. A empresa agora mantém negociações para fechar um contrato para o fornecimento de materiais para Belo Monte, que pode movimentar até 7 bilhões de reais.

No Brasil, o faturamento da Alstom em 2009 foi em torno de 2 bilhões de reais -- 60% vindo do setor de energia. Em março, a empresa inaugurou a Indústria Metalúrgica e Mecânica da Amazônia (IMMA), fruto de uma joint venture com a Bardella, líder no fornecimento de equipamentos para os setores industriais de metalurgia, energia, petróleo e gás.

Os projetos da empresa na região geram 11.000 empregos diretos. O objetivo de tudo isso é claro: "Queremos ser mais fortes no Brasil e ganhar mais peso na América Latina", disse ao site de EXAME Marcos Costa, vice-presidente da área de Energia da Alstom para a América Latina. Confira a entrevista.

EXAME - Por fornecer equipamentos para infraestrutura, a Alstom depende de projetos públicos. Qual é a fatia do faturamento que vem de obras públicas e privadas?
Marcos Costa -
Nos principais projetos da empresa, que são as usinas de Santo Antonio e Jirau, a parcela é 49% de investimentos públicos e o restante de empresas privadas. Isso é uma tendência dos empreendimentos de infraestrutura que vai continuar. Não há como o estado investir sozinho, nem as empresas privadas. É um volume muito grande de dinheiro, por isso essas parcerias são cada vez mais necessárias.

EXAME - Qual das fontes renováveis é a mais promissora e em qual delas a Alstom investirá?
Costa -
Não tem como negar que a energia hidrelétrica ainda é o grande potencial a ser explorado e nós queremos estar presentes em todos os projetos nacionais. O Brasil precisa diversificar sua fonte energética. Além dessa, eu destacaria a energia eólica, que vai colocar o Brasil no cenário global também nesse tipo de tecnologia.

EXAME - Recentemente, a Eletronorte exigiu uma nova cotação de preços das fornecedoras, entre elas a Alstom, no projeto da usina de Belo Monte. De que forma isso influencia os negócios da companhia?
Costa -
Na verdade, ainda não havia nada decidido. Temos um consórcio formado com as empresas Voith Hydro e Andritz Hydro, e o que fizemos foi oferecer um novo preço para a Eletronorte. Não sei quanto vamos ganhar, caso o contrato seja fechado. Isso está em fase de negociação e não temos um prazo certo para definir.

EXAME - A usina de Belo Monte vem enfrentando dificuldades regulatórias. Isso afeta os planos de investimento da Alstom no projeto?
Costa -
Não atrapalha, porque acreditamos na importância da usina. Além disso, as questões ambientais que a envolvem estão bem definidas.


EXAME - Como a Alstom trabalha a questão do meio ambiente em projetos tão polêmicos como Jirau, Santo Antônio e Belo Monte?
Costa -
Levamos em conta os impactos ambientais dos projetos. Muito tem se falado do caso de Belo Monte, mas não haverá impacto nenhum para as aldeias indígenas, por exemplo. Houve uma diminuição da capacidade energética da usina para minimizar os impactos ambientais na região.

EXAME.com- A Alstom tem sua maior unidade em Taubaté, mas agora com os projetos nas hidrelétricas na região norte, a construção de unidades produtoras geraria um ganho com logística. Há planos para novas fábricas na região ou a Indústria Metalúrgica e Mecânica da Amazônia (IMMA) atende toda a demanda?
Costa -
A IMMA foi construída para atender os projetos da região norte do país, mas não descartamos a possibilidade de outras fábricas. Isso vai depender do desenrolar dos projetos da região. Há projetos do governo de ampliação e construção de rodovias que facilitarão o acesso aos países andinos. Seria natural que nós nos tornássemos os fornecedores para os projetos da região pela proximidade.

EXAME.com - Essas possíveis unidades poderiam ser uma estratégia para fornecer equipamentos para outros países?
Costa -
A fábrica faz parte da estratégia da Alstom de ser forte no Brasil e também ter presença na América Latina. Há cerca de 10 projetos hidrelétricos no Equador, Peru, Chile e Colômbia, que representam 7.500 MW. Não há nada fechado, mas a possibilidade de nós sermos os fornecedores é grande. Estamos de olho nisso.

EXAME.com - A Alstom planeja um investimento de 50 milhões de reais em uma montadora de equipamentos eólicos que será inaugurada na Bahia. Por que os senhores decidiram investir numa fonte que ainda não se mostrou tão rentável por conta dos custos de produção?
Costa -
A energia eólica vem ganhando cada vez mais importância no país e há a necessidade de diversificar as fontes de energia. Não podemos depender de apenas uma. No caso da energia hidrelétrica, dependemos dos volumes dos rios, das chuvas. Com a eólica, dependemos dos ventos. Por isso é importante diversificar. A eólica se mostrou a fonte mais barata no leilão realizado em dezembro, mais em conta do que a biomassa. Nossa fábrica será inaugurada já em abril de 2011. Com isso, a Alstom estreia neste segmento no país. Teremos capacidade de produção de 300 megawatts por ano.

EXAME.com - A Eletrosul vai montar o primeiro parque. A Alstom tem projetos na região?
Costa -
Ainda não. Mas pretendemos investir onde houver oportunidade. Não é porque teremos a fábrica apenas na Bahia que não vamos fornecer para outras regiões. A unidade atenderá a projetos de energia eólica em todo o país e América Latina. O Sul também tem grande potencial. É o mesmo raciocínio que temos para as hidrelétricas: queremos ser fortes no Brasil e ganhar mais peso na América Latina.

EXAME.com- O senhor acredita que o Brasil terá papel relevante no desenvolvimento de novas fontes de energia?
Costa -
Sem dúvida. Temos diversas fontes onde podemos investir e até nos tornar um modelo de geração de energia.

EXAME.com - Como o senhor avalia a consolidação do setor de energia agora que há investimentos pesados em infraestrutura e que sempre foi um nó do país?
Costa -
Acho que é um ponto que sempre afasta investidores, mas agora vai começar a melhorar. Temos o problema do câmbio, das taxas tributárias e do custo de transporte. Porém, com os investimentos em infraestrutura, acredito que novos investidores podem apostar no setor.

Acompanhe tudo sobre:AlstomAmérica LatinaBelo MonteEmpresas francesasEnergia elétricaEntrevistasUsinas

Mais de Negócios

Esta empresária catarinense faz R$ 100 milhões com uma farmácia de manipulação para pets

Companhia aérea do Líbano mantém voos e é considerada a 'mais corajosa do mundo'

Martha Stewart diz que aprendeu a negociar contratos com Snoop Dogg

COP29: Lojas Renner S.A. apresenta caminhos para uma moda mais sustentável em conferência da ONU