Roger Agnelli: "É difícil falar sobre o Brasil que eu vejo, eu prefiro falar sobre o Brasil com o qual eu sonho" é a frase do executivo que estava na publicação (Oscar Cabral/VEJA)
Estadão Conteúdo
Publicado em 30 de dezembro de 2016 às 19h28.
Londres - O jornal britânico Financial Times fez uma homenagem nesta sexta-feira, 30, a empresários, industriais, financiadores e inovadores que morreram este ano e que representam "perdas proeminentes para o mundo dos negócios em 2016". Na lista da publicação está o brasileiro Roger Agnelli.
"Enquanto a maioria dos falecidos estava aposentada há muito tempo, algumas empresas perderam seus presidentes e executivos: o turco Mustafa Koç e o brasileiro Roger Agnelli estavam com pouco mais de 50 anos quando morreram, como resultado de um ataque cardíaco e de um acidente aéreo, respectivamente", enfatiza o FT.
Abaixo da foto do executivo do setor financeiro e de mineração, há a transcrição da frase que disse durante uma entrevista em 2012: "É difícil falar sobre o Brasil que eu vejo, eu prefiro falar sobre o Brasil com o qual eu sonho".
Também são citados no obituário do Financial Times o industrial Roland Peugeot, o executivo de energia e infraestrutura André Bénard, o operador de título John Gutfreund, o ex-executivo e presidente da Intel Andy Grove, o publicitário Bill Backer, o industrial Denys Henderson, o banqueiro e político Rodney Leach, o executivo da Pepsi Roger Enrico, o empresário do petróleo 'Tiger Mike' Davis, o executivo Steve Bollenbach e o criador do Big Mac, Michael 'Jim' Delligatti.
'Era de ouro'
O obituário de Agnelli lembra que ele morreu em um acidente aéreo de fim de semana, aos 56 anos, e que supervisionou a era de ouro da Vale, transformando a mineradora do Rio de Janeiro no maior produtor de minério de ferro do mundo e uma vitrine para negócios brasileiros no exterior.
No comando da empresa de 2001 a 2011, o lucro líquido da Vale subiu de US$ 1,3 bilhão para US$ 22,9 bilhões e os preços das ações subiram 1.500%.
"Com a empresa agora enfrentando perdas profundas, bem como escrutínio sobre um desastre que matou várias pessoas em uma barragem de sua joint venture Samarco, não é de estranhar que a resposta dos investidores tem sido muitas vezes: 'Se Roger ainda estivesse no comando'."
O Financial Times salienta que ele também exerceu cargos de diretoria não executiva em empresas como a WPP do Reino Unido e a suíça ABB.
"Depois de uma carreira de 19 anos na área bancária, o bravo e incansável executivo assumiu a Vale apenas quatro anos depois de a mineradora ter sido privatizada.
Por uma década, Agnelli passou muitas vezes mais de 16 horas por dia no escritório, transformando a inchada empresa estatal em um dos maiores grupos globais do Brasil", cita a publicação.
A Vale, menciona o jornal, se tornou a primeira empresa brasileira a ser classificada como grau de investimento. O feito foi apontado pelo Financial Times como uma "façanha invejável", já que o título soberano apenas alcançaria a mesma classificação três anos depois.
A publicação comenta também que, aproveitando o boom das commodities liderado pela China, Agnelli encabeçou uma onda de aquisições que conquistou o respeito dos investidores em todo o mundo.
Em 2012, ele foi classificado pela Harvard Business Review como o quarto melhor executivo do mundo depois de Steve Jobs, Jeff Bezos (Amazon) e Yun Jong-Yong (Samsung).
Nascido em 3 de maio de 1959, em São Paulo, em uma família de classe média italiana, Agnelli estudou economia na Fundação Armando Alvares Penteado antes de ingressar no Bradesco.
Depois de atuar como chefe da holding Bradespar do Bradesco, gerenciando a grande participação do banco na Vale, entrou para o conselho da mineradora e elaborou um plano de expansão para a empresa, que tinha acabado de ser privatizada.
"Como o candidato óbvio para executar as mudanças, foi nomeado seu executivo principal."
O Financial Times diz ainda que, durante os primeiros anos no cargo, Agnelli teve um relacionamento acolhedor com Luiz Inácio Lula da Silva, presidente do País na época.
"No entanto, o governo logo se voltou contra o executivo depois que ele despediu 2 mil trabalhadores na esteira da crise financeira global. Apenas alguns meses depois de Dilma Rousseff assumir a presidência, Agnelli foi forçado a sair da empresa em um episódio que causou desconforto entre os investidores desde então."
Após a sua saída, ele formou sua própria empresa de mineração, AGN Participações - um projeto ainda em sua infância quando seu avião caiu no sábado, dia 19 de março.
"Quando você percebe que pode morrer, começa a ver a vida de forma diferente", disse ele em 2012, após um susto de saúde, com problemas na coluna cervical. "Você quer construir algo que você pode deixar como um legado."