Aéreas brasileiras não têm conseguido repassar para o preço das passagens a explosão de custos que o setor atravessa (Felipe Varanda/VEJA Rio)
Da Redação
Publicado em 8 de outubro de 2012 às 11h54.
Rio de Janeiro - Diferentemente do que planejaram, as companhias aéreas brasileiras não têm conseguido repassar para o preço das passagens a explosão de custos que o setor da aviação atravessa. Com um primeiro semestre ainda com excesso de oferta de assentos, as empresas não puderam elevar muito o valor dos bilhetes, sob risco de ver a ocupação dos voos cair. Prova de que as passagens aéreas ainda não estão pesando mais no bolso do brasileiro este ano é que o item acumula queda de 5,3%, até setembro, no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). A inflação oficial, aferida pelo indicador, tem alta de 3,77% no ano.
Os números, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), referem-se basicamente a passagens compradas para turismo e lazer. Em trechos em que o movimento de passageiros que voam a negócios é mais intenso, como na ponte aérea Rio-São Paulo, o consumidor se depara com bilhetes caros. A percepção do setor é de que, se os preços subirem amplamente, a nova classe média, que puxou o boom da demanda nos últimos anos, voltará a andar de ônibus. A combinação indigesta para as companhias - bilhetes muito baratos e dólar, combustível e taxas aeroportuárias em alta - resultou em prejuízos bilionários em 2011, cenário que persiste.
"Estamos num momento em que o passageiro incorporado com a última redução de preço está chegando no limite de sua capacidade. Se o preço subir, muita gente sai do avião e volta para o ônibus", diz o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz. Cálculo da entidade aponta que, para cada 1% de aumento de preço, a demanda por transporte aéreo cai 1,4%.
Líder no segmento doméstico, a TAM admite que não foi possível fazer o repasse como pretendia no primeiro semestre, mas vê espaço para as passagens subirem na segunda metade de 2012. A principal base para isso seria uma maior disciplina na oferta vista desde meados do ano. A TAM planeja reduzir a oferta em 2% agora, e em cerca de 7% em 2013. Na Gol, vice-líder no mercado doméstico, a meta de redução é de entre 2% e 4,5%. A empresa não divulgou projeção para o ano que vem.
Além disso, o segundo semestre é historicamente mais aquecido do que o primeiro, com a presença de feriados importantes. "Agora, sim, conseguiremos ver essa retomada no crescimento do preço das passagens. A partir de julho, já começamos a ver isso acontecer mais fortemente", afirma a vice-presidente da unidade de Negócios Domésticos da TAM, Cláudia Sender.
A executiva diz que as passagens mais baratas não vão desaparecer do mercado, mas ressalta que o consumidor terá de planejar sua viagem com tempo para conseguir preços baixos. "Ainda existem disponíveis no mercado tarifas de lazer, mas vai ser cada vez mais importante o passageiro se programar com antecedência para comprar", explica Cláudia.
Sobre as atribulações do setor, a Gol diz que a combinação de demanda e preço no primeiro semestre ainda não foi o suficiente para fazer um resultado positivo. A Azul também reconhece que o ano está sendo complicado, mas aposta no ganho de escala que a fusão com a Trip lhe dará para atravessar o período de turbulências. Juntas, as duas empresas se consolidam como a terceira colocada nas rotas domésticas, com participação de 15% no mercado.
A companhia diz que o último trimestre, especialmente, foi complicado para o setor no que diz respeito à recuperação dos yields (valor pago por passageiro por quilômetro transportado), e só vê um cenário menos nublado nestes últimos três meses do ano. "Vemos um quadro melhor agora para o quarto trimestre", diz o diretor de Comunicação da Azul, Gianfranco Beting.
Mesmo que o aumento das passagens de fato venha, não deve ocorrer na proporção que gostariam as companhias aéreas. Na avaliação da Abear, a saída para que as aéreas voltem a dar lucro está na redução de custos. Para isso, a entidade tem mantido conversas constantes com o governo. Entre os interlocutores estão pelo menos quatro ministros e a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).
O governo tem demonstrado preocupação com a saúde financeira das aéreas e, no mês passado, as incluiu na lista de setores que tiveram desoneração da folha de pagamento. Com isso, as cinco maiores empresas do setor no Brasil (TAM, Gol, Azul, Trip e Avianca) devem ter uma economia de R$ 300 milhões.
De acordo com Sanovicz, o próximo alvo é o combustível de aviação, que acumula alta de 18,9% este ano até 1.º de outubro. Além de o querosene custar mais que em outros países, as aéreas reclamam da alta carga de ICMS sobre o insumo. As conversas devem começar nas próximas semanas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.