Reposicionamento: Com cerca de 60% das despesas em dólar, as empresas aéreas nacionais vêm sofrendo um choque de custos e, ao mesmo tempo, sentem a demanda esfriar diante da recessão (Aktron / Wikimedia Commons)
Da Redação
Publicado em 14 de setembro de 2015 às 14h21.
São Paulo - Tratores elétricos para carregar bagagem, tablets para mecânicos aeronáuticos e aplicativos capazes de prever que o passageiro vai perder o voo e trocar a passagem.
Esses são alguns exemplos de tecnologias que as empresas aéreas brasileiras estão usando como aliadas na corrida para aumentar a eficiência e tentar recuperar a rentabilidade.
O setor aéreo opera tradicionalmente com margens apertadas, mas, neste ano, ficou ainda mais difícil ser lucrativo no Brasil.
Com cerca de 60% das despesas em dólar, as empresas aéreas nacionais vêm sofrendo um choque de custos e, ao mesmo tempo, sentem a demanda esfriar diante da recessão.
A ordem para os gestores é encontrar oportunidades de fazer mais com menos. Só o grupo Latam, dono da TAM, pretende reduzir em US$ 650 milhões o seu custo anual até 2018. Além de um corte de 10% na malha nacional e de 2% na equipe, a inovação é outra frente da TAM para ficar mais eficiente.
A TAM montou um programa de batalhas entre gerentes para buscar inovação dentro de casa. Ideias como mudanças no procedimento para viagens dos executivos e a troca do aspirador de pó dos aviões já renderam economia de R$ 5 milhões ao ano.
"Os nossos técnicos ficavam muito isolados no seu nicho. Percebemos que tínhamos de fazê-los trabalhar juntos", disse o vice-presidente de operações da TAM, Ruy Amparo.
Atualmente, os 80 gerentes da companhia estão debruçados na próxima batalha, que tem como meta economizar R$ 10 milhões no orçamento de 2016.
Já a Azul trocou alguns treinamentos presencias por cursos a distância e poupou 78% do custo da área. "Discutimos cada centavo e assim economizamos R$ 100 milhões este ano sem demitir", disse o presidente da Azul, Antonoaldo Neves.
Combustível
O investimento em tecnologias que tragam redução do consumo de combustível, insumo que responde por 40% do custo do setor no país, é uma das principais frentes de inovação das empresas aéreas.
A Gol trouxe em agosto um componente para seus aviões de maior alcance, os Boeing 737-800, capaz de reduzir em 1% o combustível gasto no voo. Trata-se de um winglet (uma espécie de aba de fuselagem) que vai na parte inferior da asa.
"Os aviões da próxima geração da Boeing, os 737 MAX, virão da fábrica com essa tecnologia. Mas antecipamos em três anos a inovação na frota da Gol", disse o diretor executivo de Operações da Gol, Sergio Quito. A meta é instalar o componente em 15 aviões - sete ainda este ano.
Na mesma linha, a TAM vai economizar R$ 450 mil este ano com a substituição de veículos a diesel que carregam as bagagens até o avião por modelos elétricos.
A inovação foi implementada para atender a uma exigência do Aeroporto de Guarulhos no novo Terminal 3, mas a empresa decidiu trocar a frota de outros aeroportos ao constatar que a opção era mais econômica.
A TAM já tem 38 tratores elétricos em uso e vai receber mais 25 até o fim do ano. Até 2019, 40% dos carrinhos de bagagem da empresa serão substituídos por veículos elétricos.
A maioria dos projetos para corte de custo de setores diversos inclui evoluções tecnológicas, explica o diretor executivo da Accenture Strategy, Matthew Govier.
"Isso requer decisões de investimento, que são complicadas em tempos de crise. "A solução é transferir recursos mal empregados pela companhia para os projetos que gerem eficiência."
Digital
Todas as empresas aéreas estão investindo em aplicativos e totens nos aeroportos para facilitar o autoatendimento - e reduzir a necessidade de atendentes.
"Isso é estratégico. Conseguimos embarcar mais passageiros com a mesma quantidade de pessoas no balcão sem gerar filas", disse o presidente da Azul. Hoje, 52% dos clientes da companhia fazem o check in fora do balcão, número que era de 30% há um ano e meio.
As empresas estão acrescentando funcionalidades a seus aplicativos. O app da Gol passou a ter geolocalização em fevereiro e a avisar quando o cliente está adiantado ou atrasado para o voo e permitir que ele troque a passagem. Até agosto, 98 mil trocas foram feitas no APP.
O próximo passo é levar os dispositivos móveis para a mão dos funcionários, conta Neves. A Azul já comprou tablets para os mecânicos de três aeroportos. "Eles não terão de sair da frente do avião para consultar o manual. Isso reduz o tempo de serviço e do avião parado", diz.