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Acordo de Paris: Como empresas se beneficiam da regulamentação do Artigo 6

O país pode gerar até US$ 72 bilhões em receitas até 2030 com o mercado global de carbono, estimular o setor produtivo e financiar a transição para uma economia verde, mostra o CEBDES

Empresas ganham com a regulamentação do Artigo 6º do Acordo de Paris, que pode ser regulamentado nesta COP 26 (//Thinkstock)

Empresas ganham com a regulamentação do Artigo 6º do Acordo de Paris, que pode ser regulamentado nesta COP 26 (//Thinkstock)

Marina Filippe

Marina Filippe

Publicado em 15 de outubro de 2021 às 08h33.

Última atualização em 5 de novembro de 2021 às 13h11.

A regulamentação do Acordo de Paris, proposto em 2015, e em especial do artigo 6º com a intenção de que o aquecimento global se mantenha abaixo de 2˚C em relação aos níveis pré-industriais, e com esforços para limitar o aumento da temperatura média em 1,5˚C, estão em destaque na Conferência das Partes, a COP26, que ocorrerá em Glasgow na Escócia na primeira quinzena de novembro.

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Para além das decisões governamentais, que envolvem compromissos e regulações de 193 países, visando trabalhar em prol de um bem em comum e definir suas Contribuições Pretendidas Nacionalmente Determinadas (iNDCs), as empresas também podem se beneficiar dos ajustes.

Isto porque, as definições devem favorecer a geração de inovação em busca de soluções mais sustentáveis, e até mesmo de zerar o balanço de suas emissões de gases causadores do efeito estufa.

A regulamentação do artigo 6ª ainda deve incentivar as empresas a buscarem projetos específicos com menos barreiras comerciais do que as atuais.

“Abre-se uma oportunidade de negócios: a criação de projetos para compensação das emissões”, diz a pesquisadora Talita Assis, do portal A Amazônia em EXAME.

Com isto, a criação do mercado global de carbono pode trazer recursos para o país, gerando empregos e renda e contribuindo para o combate às mudanças climáticas.

De acordo com o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, o CEBDES, o Brasil é um dos países com maior potencial de venda de créditos de carbono.

O país pode gerar até US$ 72 bilhões em receitas até 2030 com o mercado global de carbono, estimular o setor produtivo e financiar a transição para uma economia verde.

“As empresas poderão gerar e vender créditos de carbono quando promoverem ações e projetos que removem ou deixam de emitir gases do efeito estufa. Já as companhias que ainda não conseguem ter uma produção limpa e querem compensar suas emissões podem comprar esses créditos”, afirma o CEBDES por meio de nota enviada pela assessoria de imprensa.

Para Henrique Pereira, sócio fundador da empresa de soluções em sustentabilidade WayCarbon, é interessante entender também as ações que já estão ocorrendo.

“Por exemplo, se eu tinha uma caldeira que consumia carvão e agora tenho uma caldeira a biomassa e bagaço de cana, que emite menos gases nocivos, estou melhorando os processos. Isto está no radar das empresas, o que pode mudar é a intensidade dessa lógica em busca de receita e sustentabilidade, com clareza de como emitir e utilizar créditos de carbono”, afirma.

Há, porém, dúvidas de que atitudes efetivas sejam tomadas a partir da COP 26, de modo a regulamentar os processos. Mas, para o CEBDES esta é a COP da ação.

“É o momento de destravar esse mercado global de carbono e promover ainda mais uma economia verde. Além disso, o Brasil pode criar seu mercado regulado nacional".

O CEBDS teve participação no projeto de lei que está em discussão na Câmara e que debate esse assunto, escrevendo o substitutivo que está sendo avaliado pelos deputados e defendendo sua votação.

"Não há nenhum tipo de oposição ou conflito na criação de vários mercados de carbono. Os diversos tipos de comércio global de carbono se comunicam com venda de créditos e o mercado regulado brasileiro e o mercado voluntário nacional vão assim também coexistir. São sistemas diferentes, com créditos diferentes - mas todos visando estimular uma economia verde e sustentável”, afirmam.

Mercado de carbono acelera

Para Luis Felipe Adaime, criador da Moss, a primeira bolsa de carbono do país, o mercado já está deslanchando e há muito interesse envolvido.

“Não é à toa que as maiores empresas do mundo ocidental, como Amazon, Microsoft, Apple, Nike, Facebook, Google e mais, anunciaram compromissos de neutralização de carbono. Os benefícios com esse anúncio são imensos, de crescimento de receita à conquista do consumidor", diz.

Assim, há um esforço das empresas para serem protagonistas e inovadoras nesta frente. “Um estudo da fabricante de bens de consumo Unilever mostra como os consumidores estão dispostos a pagar mais por marcas sustentáveis”, diz Adaime.

A pesquisa divulgada em 2017 mostra que 21% das 20.000 pessoas entrevistadas disseram que escolheriam ativamente as marcas que deixassem suas credenciais de sustentabilidade mais claras nas embalagens e no marketing.

Na época, isso representava uma oportunidade potencial inexplorada de € 966 bilhões de um mercado total de € 2,5 trilhões para produtos sustentáveis.

O estudo também sugere que há uma tendência de compra sustentável ainda maior em países emergentes. Enquanto 53% dos compradores no Reino Unido e 78% nos Estados Unidos dizem que se sentem melhor quando compram produtos produzidos de forma sustentável, esse número sobe para 88% na Índia e 85% no Brasil e na Turquia.

Deste modo, a regulamentação do Artigo 6º na COP 26 favorece um cenário que já vem sendo desenhado no Brasil e outros países com forte atuação da indústria que entende a necessidadeda sustentabilidade para asobrevivência e os bons resultados de negócios.

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