Odebrecht: as declarações de culpa da Odebrecht e da Braskem foram as primeiras nos EUA após três anos de investigação no Brasil (foto/Bloomberg)
Reuters
Publicado em 22 de dezembro de 2016 às 21h15.
Lima/Quito - Políticos e investigadores da América Latina exigiram mais informações da Odebrecht nesta quinta-feira, após a empresa admitir uma década de grandes pagamentos de propina na região.
Ao concordar pagar pelo menos 3,5 bilhões de dólares a procuradores brasileiros, norte-americanos e suíços, a maior penalidade já aplicada num caso de corrupção no exterior, a Odebrecht admitiu ter pago a autoridades para obter contratos de construção em 12 países, abrindo caminho para novos processos.
Quase 80 por cento dos executivos e funcionários da Odebrecht também concordaram em virar testemunhas como parte de um acordo de leniência, e espera-se que os testemunhos deles forneçam mais evidências sobre corrupção em diversos países.
O presidente do Peru e o líder da oposição venezuelana disseram que a Odebrecht deve explicar os pagamentos nos países deles, enquanto o Equador abriu uma investigação, e o governo da Colômbia pediu à procuradoria-geral para também avançar com uma.
"Promotores vão ter que trazer pessoas da Odebrecht aqui para que explicar para quem elas pagaram", declarou o presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, à imprensa, em referência aos 29 milhões de dólares que a Odebrecht disse que pagou a autoridades no país entre 2005 e 2014, período que abrange três governos.
As declarações de culpa da Odebrecht e da Braskem foram as primeiras nos EUA após três anos de investigação no Brasil.
A Odebrecht e a Braskem foram acusadas de conspirar para violar o Ato de Práticas de Corrupção no Exterior norte-americano, que tem como objetivo impedir que empresas corrompam autoridades no exterior.
A Odebrecht afirmou ter pago 439 milhões de dólares fora do Brasil, incluindo Venezuela, República Dominicana e Panamá. Procuradores do país disseram que o Panamá não cooperou com as investigações.
O governo do Panamá disse que apoia uma investigação pela Justiça local que "puniria as empresas e pessoas envolvidas nesses atos". A promotoria federal do Panamá disse que estava pedindo informações sobre a investigação para os EUA.
Procuradores se dizem seguros que a forma da Odebrecht de fazer negócios no Brasil, onde é acusada de pagar 2 bilhões de dólares em propinas nos últimos 15 anos, é a maneira com a qual ela operava em todo mundo.
Argentina e Peru abriram investigações sobre os contratos de construção da Odebrecht por suspeitas de propina a ex-políticos.
Promotores no Peru recentemente voltaram de uma viagem de trabalho à Suíça, que entregou dados sobre cerca de mil contas bancárias a autoridades brasileiras por conta de suspeitas de que elas estariam ligadas ao escândalo de corrupção.
A polícia no Brasil diz que a Odebrecht pode ter pago propina ao ex-presidente do Peru Ollanta Humala e para autoridades argentinas.
Humala nega irregularidades. Kuczynski, que não foi citado na investigação brasileira, mas era ministro quando a Odebrecht concordou em pagar propina a uma alta autoridade em 2005, disse que não estava envolvido em nenhum esquema de corrupção.
Galo Chiriboga, procurador-geral do Equador, declarou que pediu informações para Brasil e o Departamento de Justiça dos EUA. "Vamos encontrar quem recebeu propina da Odebrecht", disse.
O chefe da promotoria especial anticorrupção da Guatemala afirmou que já estava investigando as propinas da Odebrecht a uma autoridade de governo, e o presidente Jimmy Morales declarou que o seu governo revisaria todos os contratos com a Odebrecht.
Especialistas em corrupção empresarial afirmaram que as admissões da Odebrecht numa dezena de países, que também incluem México e Angola, poderia levar a novas investigações.
O promotor argentino responsável pelo caso da Odebrecht, Sergio Rodríguez, disse que o acordo da teria um impacto direto na sua investigação, que mira quatro projetos da companhia. Ele tentava contactar promotores brasileiros para saber mais.
"Temos um caso aberto", disse Rodríguez à Reuters.