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Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 15h53.
O laboratório Aché, segundo maior do país em receita e terceiro em unidades vendidas, prepara uma abertura de capital, ainda sem prazo para acontecer. As três famílias fundadoras da empresa de quatro décadas, que há sete anos opera sob gestão profissional, esperam apenas as "condições ideais" para ir à Bolsa.
Segundo o diretor-geral de operações do Aché, José Ricardo Mendes, o laboratório já está pronto para as exigências do mercado quanto a transparência e governança corporativa, mas ainda espera por fatores que ajudariam a dar mais sucesso à abertura, como a conquista do grau de investimento pelo Brasil. "Isso poderia elevar de 20% a 30% os múltiplos [cálculos que relacionam indicadores da empresa e são usados para determinar o preço das ações]", diz Mendes.
Ainda de acordo com o diretor, não há pressa para a emissão porque a companhia, que anunciou nesta terça-feira (17/4) uma receita líquida superior a 1 bilhão de reais em 2006, não depende do capital que angariar para os projetos futuros: "Temos muito acesso a crédito".
A abertura poderia ser um recurso no caso de uma grande aquisição no exterior, que não é vista como provável pela administração do laboratório. Mendes, no entanto, confirma que o Aché está de olho em possíveis alvos, tanto no mercado nacional quanto no estrangeiro - mais especificamente Estados Unidos e Europa, que concentram quase 80% das vendas mundiais de medicamento.
A idéia da companhia é desenvolver pesquisa nas plantas adquiridas lá fora, seguindo coordenação brasileira, para facilitar a aceitação dos produtos por órgãos reguladores estrangeiros. Um avanço em um novo mercado não descartará a possibilidade de compras no mercado brasileiro. "Sempre mantemos empresas no radar", afirma Mendes, que diz priorizar possíveis compras nas áreas de medicamentos vendidos com prescrição e de medicamentos isentos de prescrição (MIP), das quais o Aché detém, respectivamente, 6,9% e 3% das vendas no Brasil. Hoje 77% da receita da companhia provém da venda de remédios com prescrição, 8% de MIPs e 15% de genéricos.
Até que as aquisições vinguem, a porta de entrada do Aché para novos mercados deve vir por meio de outras companhias. No ano que vem, a companhia colocará no mercado mexicano um medicamento voltado para disfunções cardiológicas por meio de uma parceria com o laboratório Silanes. Também está prevista para 2008 a chegada a Portugal, por conta da facilidade da língua, ou à Itália, onde o Aché mantém acordos de licenciamento com empresas que poderiam distribuir os produtos brasileiros. A grande aposta é nos produtos fitoterápicos, que possuem grande demanda no continente europeu.
Nos Estados Unidos, maior mercado mundial e berço das maiores multinacionais do setor, a meta de desembarque é 2010 - um atraso em relação à Europa justificado pelas barreiras não-tarifárias do país, como a política do Food and Drug Administration (FDA). É possível, segundo o diretor Mendes, que o Aché tente antes disso uma investida no mercado americano com produtos que não precisem passar pelo crivo do órgão regulador, como vitaminas e suplementos alimentares. Outras opções estudadas para exportação são África e Oriente Médio.
A busca por mercados internacionais foi iniciada pelo Aché em 2005 com a compra do laboratório Biosintética - que vendia para o Peru, Venezuela e Caribe. Com a aquisição, o Aché abocanhou vendas externas que devem ficar entre 6 e 7 milhões de dólares neste ano e em 15 milhões de dólares em 2008. Agora, para se preparar para os mercados americano e europeu, o Aché promete gastar 150 milhões de reais em um novo complexo produtivo, que adaptará, até junho deste ano, o laboratório a padrões internacionais de fabricação. Além disso, a empreitada aumentará a capacidade de produção do Aché de 150 milhões de unidades de medicamentos por ano para 250 milhões de unidades.
A companhia também anunciou hoje um investimento de pelo menos 20 milhões de reais neste ano em pesquisa e desenvolvimento, valor que pode ser aumentado se surgirem novos projetos, segundo o diretor-geral. Em 2006, o valor gasto nessa área foi de cerca de 12 milhões de reais. No ano passado, a companhia registrou uma receita líquida de 1,017 bilhão de reais, frente aos 756 milhões conseguidos em 2005. O lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação (conhecido pela sigla em inglês Ebitda) também registrou alta no ano passado: cresceu 66,5% e chegou a 290 milhões de reais.
Para 2007, o objetivo é reforçar a atuação das unidades de medicamentos genéricos e sem prescrição, sem que o carro-chefe da companhia, os medicamentos de prescrição, percam força. A empresa pretende lançar neste ano 5 novos produtos de prescrição e 20 novos genéricos, dos quais 5 voltarão ao mercado depois de passarem por atualizações.
Em 2006, o mercado brasileiro de medicamentos rendeu um faturamento de 23,8 bilhões de reais aos laboratórios, um crescimento de 6,94%. No mundo, a alta foi similar, de 7%, com receita total de 643 bilhões de dólares.
Etanol
O diretor-geral do Aché também anunciou nesta terça-feira que as famílias Siaulys, Dellape Baptista e Depieri, sócias da companhia, investirão 300 milhões de reais em um projeto de etanol. Para que o projeto se concretize, no entanto, será necessária uma mudança na estrutura societária do laboratório.
Hoje 92,64% do capital da companhia está dividida de forma igual entre empresas dos três sócios fundadores. A fatia restante é detida pela Magenta Participações, uma holding também de propriedade dos sócios do Aché, voltada para empreendimentos imobiliários. Em uma data ainda não divulgada, a Magenta deve se desfazer da participação que detém do Aché e dedicar-se à produção do etanol. Segundo Mendes, que também é presidente da Magenta, a intenção dos sócios é atingir uma produção de 2,3 milhões de litros de álcool no Mato Grosso em até três anos.