Negócios

A startup gaúcha que criou um aplicativo para ajudar os donos de pets a encontrar seus bichinhos

Cerca de 32.000 animais de estimação podem ser identificados com ajuda da plataforma criada por uma empresa cuja sede ficou embaixo da água

Rafael Abreu, Diego Vilela, Rodney Silva e Gabriel Azambuja, da Be220: startup fica no Instituto Caldeira, que ficou embaixo da água com as enchentes (Be220/Divulgação)

Rafael Abreu, Diego Vilela, Rodney Silva e Gabriel Azambuja, da Be220: startup fica no Instituto Caldeira, que ficou embaixo da água com as enchentes (Be220/Divulgação)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 29 de maio de 2024 às 07h33.

Tudo sobreNegócios em Luta RS
Saiba mais

Uma das imagens mais avassaladoras da crise climática que assola o Rio Grande do Sul são as centenas (senão milhares) de animais de estimação sendo resgatados, mas ainda longe de seus tutores. Segundo a Defesa Civil, mais de 12.000 pets foram resgatados de áreas inundadas ou de risco. 

Uma empresa de tecnologia de Porto Alegre quer ajudar esses cães e gatos a voltarem a encontrar seus tutores. 

É a Be220, uma desenvolvedora de aplicativos para negócios sediada no Instituto Caldeira, em Porto Alegre. A sede da tech também foi inundada, mas isso não fez os cerca de 20 funcionários pararem. Juntos, eles desenvolveram um software que consegue puxar bancos de dados para saber quais são os donos de 32.000 pets de Porto Alegre.

Como? Por causa de uma ação do Gabinete da Causa Animal da prefeitura de Porto Alegre.

No ano passado, quando animais eram castrados e vacinados pelo gabinete, recebiam também um microchip com um código único. Esse microchip, do tamanho de um grão de arroz, é instalado sob a pele do animal, num lugar seguro. O código que ele carrega, quando acessado pelas planilhas da prefeitura, traz informações sobre quem é o tutor responsável pelo pet e os contatos. 

Ao todo, 32.000 pets foram microchipados.

“A prefeitura fez essa ação com cachorros e gatos de pessoas com baixa renda. E acontece que muitas dessas pessoas tiveram que sair de suas casas e se separaram de seus animais de estimação”, diz Diego Vilela, CEO e fundador da desenvolvedora de apps.

Mas como ela entra nessa história? Acontece que os códigos dos pets e a planilha de informações estavam desencontrados. 

“Um cachorrinho era escaneado, conseguíamos acessar o código, mas então era preciso ir em várias planilhas de Excel procurar o número”, afirma Vilela. “Demandava muito tempo”.

A startup desenvolveu um aplicativo que consegue puxar todos os dados e fazer a associação com o número rapidamente, e com uma ferramenta de pesquisa que faz essa associação em poucos segundos. 

O projeto ficou pronto e começou a ser testado nos últimos dias. Desde então, já ajudou a identificar 20 animais de estimação.

Serial pets: eles têm cinco negócios para animais de estimação — e a ideia é não parar por aí

Como está funcionando a busca pelos animais

Há duas frentes no momento usando o aplicativo. A primeira é com a equipe do Gabinete de Causa Animal, que está escaneando animais em abrigo e fazendo a busca pelos tutores com o aplicativo feito pela Be220. 

A segunda é pela via oposta: donos que têm o código de seus cachorros e querem ver se eles já foram identificados.

Para essa alternativa, a equipe da Be220 montou uma central de atendimento que está ajudando a equipe da prefeitura, de maneira voluntária.

“Entendemos que a demanda vai aumentar nos próximos dias porque a prefeitura fez um chamamento para veterinários voluntários, e eles vão ajudar a localizar esses bichinhos”, diz Vilela. “Além disso, o programa passará a ser mais divulgado, o que deve aumentar, também, as procuras”. 

Como surgiu a ideia de ajudar 

A Be220 já trabalhava com o Gabinete de Causa Animal quando surgiu a necessidade de ajudá-los na identificação dos bichinhos perdidos. No ano passado, eles tinham ajudado a desenvolver um software que monitorava alguns animais cuidados pela prefeitura. 

O projeto obteve o primeiro lugar no Programa AceleraX POA Inovadora, do Sebrae, em março deste ano, e está contemplado em uma Prova de Conceito em andamento com a Prefeitura de Porto Alegre, via Gabinete da Causa Animal e Gabinete de Inovação. Ou seja, está sendo testado sem custos para a prefeitura.

“Como estávamos por dentro, já sabíamos da dor deles e resolvemos que era a hora de ajudar”, diz Vilela.

O aplicativo foi desenvolvido em dois dias, incluindo o tempo de desenvolvimento e o de importação das tabelas — a parte mais demorada, segundo o fundador da startup. 

Na Be220, cerca de 40% dos clientes são gaúchos. A empresa está monitorando agora se poderão ter algum impacto financeiro com o fim de contratos. Dos 20 funcionários, três precisaram sair de casa. A startup também deu suporte a eles. 

Negócios em Luta

A série de reportagens Negócios em Luta é uma iniciativa da EXAME para dar visibilidade ao empreendedorismo do Rio Grande do Sul num dos momentos mais desafiadores na história do estado. Cerca de 700 mil micro e pequenas empresas gaúchas foram impactadas pelas enchentes que assolam o estado desde o fim de abril.

São negócios de todos os setores que, de um dia para o outro, viram a água das chuvas inundar projetos de uma vida inteira. As cheias atingiram 80% da atividade econômica do estado, de acordo com estimativa da Fiergs, a Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul.

Os textos do Negócios em Luta mostram como os negócios gaúchos foram impactados pela enchente histórica e, mais do que isso, de que forma eles serão uma força vital na reconstrução do Rio Grande do Sul daqui para frente. Tem uma história? Mande para negociosemluta@exame.com.

Acompanhe tudo sobre:StartupsEnchentes no RSNegócios em Luta RS

Mais de Negócios

Startup do Recife quer ser o primeiro serviço centralizado para mulheres grávidas

Como o grupo da Leroy Merlin quer faturar R$ 3 bilhões com atacarejo de construção no Brasil

Esta agência de conteúdo carioca começou com R$ 300 e hoje fatura R$ 3 milhões

Quer trabalhar na Tesla? Na montadora, salário menor é compensado por ações