CASAS BAHIA: a Via Varejo viu seu lucro encolher 98,7% no primeiro trimestre / Germano Lüders (Germano Lüders/Exame)
Karin Salomão
Publicado em 28 de março de 2018 às 10h00.
Última atualização em 29 de março de 2018 às 09h04.
São Paulo – A dona da Casas Bahia e Pontofrio está atraindo olhares estrangeiros. À venda, a Via Varejo já chamou interessados como a Lojas Americanas e empresas multinacionais como a chinesa Alibaba e, mais recentemente, a americana Amazon.
Com mais de 900 lojas e uma operação forte em comércio eletrônico, a companhia é um atrativo interessante para estrangeiras que queiram investir no Brasil.
No entanto, desde que o Grupo Pão de Açúcar (GPA), controlador da Via varejo, anunciou sua intenção de vender o ativo, em novembro de 2016, ainda não houve negociações mais concretas. O que pode estar delongando as conversas?
De acordo com especialistas ouvidos pelo site EXAME, as brigas internas entre acionistas, a crise econômica, da qual o país ainda não se recuperou totalmente e até os bons resultados apresentados pela companhia podem dificultar a venda.
O Casino, controlador do GPA, está interessado em se desfazer do ativo. "O Casino não tem, globalmente, outras operações no segmento de eletrônicos e eletrodomésticos. O conhecimento na área é importante, porque esse setor é muito complexo e competitivo", afirmou Marcos Gouvêa de Souza, diretor-geral do Grupo GS& Gouvêa de Souza.
Outra razão para querer vender a Via Varejo é o desempenho aquém do esperado da varejista. Em 2016, o Brasil estava no centro de uma crise econômica que derrubou as vendas no varejo, principalmente o de linha branca e eletrônicos. No ano, a companhia teve um prejuízo de 95 milhões de reais.
Porém, com a recuperação da economia, cortes de custos e melhora na eficiência, a companhia conseguiu reverter os resultados negativos e apresentou um lucro de 195 milhões de reais em 2017.
“A retomada do mercado favorece o Casino nessa negociação. Ele pode negociar sem pressão de tempo para tomar uma decisão e em patamares de valores bem diferentes, hoje, do que os de 2016, quando o cenário era ruim”, diz Gouvêa de Souza.
Mesmo assim, para Jéssica Costa, sócia da consultoria AGR, "o crescimento da linha branca está voltando muito aos poucos e as varejistas estão sofrendo, com exceção do Magazine Luiza". Ela lembra que o Walmart, concorrente do Grupo Pão de Açúcar, estuda vender a sua operação no Brasil por conta dos anos de prejuízo. “Para investir em um grande grupo brasileiro, o investidor precisa ter mais segurança do potencial do mercado brasileiro", diz ela.
Outro entrave nas negociações podem ser as brigas internas, apontam especialistas.
A Via Varejo foi criada a partir da união das operações da Casas Bahia, da família Klein, e a Pontofrio sob o guarda-chuva do Grupo Pão de Açúcar. Atualmente, o Grupo Pão de Açúcar detém 43,3% da Via Varejo, a família Klein é dona de 25,3%, e 31,4% são negociados na Bolsa de Valores. Durante sua história, houve diversas brigas e discussões entre seus acionistas.
A Pontofrio, criada como Globex em 1946 pelo imigrante romeno Alfredo João Monteverde, foi comprada pelo Grupo Pão de Açúcar em 2009. No mesmo ano, o grupo anunciou a incorporação da Casas Bahia, criada em 1952 pela família Klein.
A integração das adquiridas com as lojas Extra Eletro fizeram do grupo uma das maiores empresas de varejo do Brasil. Mesmo assim, a operação foi turbulenta: a família Klein se arrependeu logo depois do fechamento da fusão e exigiu uma renegociação e indenizações.
A discussão entre Abilio Diniz, então presidente do Grupo Pão de Açúcar, e a família Klein não eram as únicas a abalar o grupo. O empresário também tinha embates com os executivos do Casino, companhia francesa que detinha participação e, depois, o controle do GPA. A briga levou anos e custou quase meio bilhão de reais aos sócios até que, em 2013, Abilio deixou a presidência do conselho de administração do grupo.
Para Jéssica Costa, os desentendimentos internos podem deixar investidores inseguros em comprar o negócio ou firmar uma parceria. No entanto, a entrada de outro parceiro externo poderia dar um fim a essas discussões, acredita ela.
Um dos erros da Via Varejo, dizem especialistas, foi operar as vendas online e off-line separadamente durante anos e mudaram diversas vezes de nome e organização.
As operações de comércio eletrônico já se chamaram Nova Pontocom e depois mudaram para Cnova Brasil, com a fusão da marca Cdiscount, do grupo Casino em 2014. Já o nome Via Varejo, que concentrava as operações físicas, só surgiu em 2013 quando a Globex Utilidades S.A., a antiga dona da Pontofrio, trocou sua identidade para esse nome.
As companhias Via Varejo e Cnova passaram anos operando separadamente as vendas físicas e online das marcas Casas Bahia e Pontofrio. Ao operar separadamente, as duas empresas competiam entre si e ainda perdiam dinheiro, com estruturas duplicadas como equipe, logística, marketing e estoque. A Cnova ainda sofreu um baque, em 2015, quando foram descobertas fraudes na gestão de estoques, que geraram perdas contábeis de R$ 400 milhões ao seu patrimônio.
Foi só em agosto de 2016 que elas resolveram se unir, com a incorporação da Cnova pela Via Varejo. Com a fusão, a empresa economiza cerca de 245 milhões de reais por ano. Além disso, melhora seus resultados e pode desenvolver serviços como a retirada em loja de compras feitas pela internet.
Depois da fusão entre as operações online e off-line, o Grupo Pão de Açúcar decidiu colocar a Via Varejo à venda. O processo começou em novembro de 2016 e desde então os resultados da divisão já são apresentados separadamente do negócio de alimentos do grupo, que concentra as lojas das marcas Extra, Pão de Açúcar e Assaí.
Entre as possíveis interessadas, estão brasileiras como a Lojas Americanas e empresas multinacionais como a Alibaba. O rumor mais recente é que a Amazon estaria interessada na companhia.
O GPA disse que o processo de venda da Via Varejo está em andamento e “não há nada material para divulgar neste momento”. Via Varejo e Amazon no Brasil não comentaram o assunto.
A Via Varejo pode ser um ativo interessante para os investidores. Resta saber quem irá fechar o negócio e escrever o próximo capítulo da empresa.