Avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo: o Brasil fechou 2018 com 58 bilionários (Germano Luders/Exame)
Carolina Riveira
Publicado em 10 de novembro de 2019 às 08h00.
Última atualização em 14 de junho de 2021 às 13h06.
Um relatório da consultoria PwC e do banco de investimentos suíço UBS divulgado nesta semana mostrou que a riqueza acumulada dos 2.101 bilionários no mundo em 2018 caiu pela primeira vez desde 2015.
Mas, no Brasil, a tendência não foi seguida. Ao analisar os dados específicos do país, o estudo mostra que tanto o número de bilionários quanto a riqueza acumulada teve alta entre 2017 e 2018.
O país fechou o ano passado com 58 bilionários, ante 42 que tinha em 2017. A riqueza acumulada desses afortunados foi de 176,7 bilhões de dólares em 2017 para 179,7 bilhões de dólares em 2018, alta de 1,7%.
A alta na riqueza foi maior do que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, que teve alta de 1,1% em 2018.
Entre 2016 e 2017, segundo histórico do mesmo estudo do UBS, a riqueza dos bilionários brasileiros já havia crescido, saindo de 173,4 bilhões de dólares em 2016, alta anual de 1,9% (enquanto o PIB em 2017 subiu 1,1%). Entre 2016 e 2018, portanto, a riqueza dos bilionários brasileiros cresceu em 3,6%.
A riqueza dos bilionários brasileiros conseguiu ter alta mesmo em um cenário adverso para a economia local. Além do baixo crescimento do PIB, o real também se desvalorizou sobremaneira no ano passado. O dólar subiu cerca de 17% durante o ano de 2018, com a moeda americana saindo da casa dos 3,30 reais no fim de 2017 e passando dos 4 reais em vários momentos do ano -- parte em virtude da instabilidade gerada pela eleição presidencial, somada à fraca recuperação da economia brasileira. Isso implica que o patrimônio dos bilionários brasileiros cresceu em dólar, moeda padrão usada pelo UBS no comparativo, mesmo com a moeda brasileira desvalorizada.
Também na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou a edição deste ano da Síntese de Indicadores Sociais, com o pior índice de extrema pobreza no país desde 2015. O estudo mostra que, em 2018, 13,5 milhões de brasileiros viviam com menos de 145 reais, situação considerada de extrema pobreza -- um contingente de pessoas maior do que a população da Bolívia.
A desigualdade de renda no Brasil, isto é, a diferença de ganhos entre os mais ricos e os mais pobres, também vêm crescendo desde 2015.
Com a economia da América Latina caminhando a passos lentos, Brasil e Peru foram os únicos países da região, dentre os cinco que tiveram seus dados detalhados no relatório do UBS, em que a riqueza dos bilionários teve alta.
A região, que inclui os países da América do Sul, América Central e México, terminou 2018 com mais bilionários do que em 2017 (97 ante 84 no ano anterior), mas com riqueza acumulada menor. Os bilionários latino-americanos possuíam, ao todo, 371,6 bilhões de dólares em patrimônio em 2018, baixa de 3,7%.
A Argentina, que vive uma de suas piores crises econômicas, passou de 9 para 5 bilionários entre 2017 e 2018, e viu a riqueza deste grupo cair de 15,6 bilhões de dólares para 10,9 bilhões, baixa de 30,1%.
O Chile fechou o ano com 11 bilionários, mesmo número de 2017, mas patrimônio de 37,3 bilhões de dólares, baixa de 1,1%.
Entre os maiores bilionários brasileiros, estão nomes como o banqueiro Joseph Safra (99,9 bilhões de reais em patrimônio), Jorge Paulo Lemann, do fundo 3G Capital (92,8 bilhões de reais), Marcel Telles e Beto Sicupira, sócios de Lemann no 3G (39,5 bilhões e 34,6 bilhões de reais, respectivamente), e o co-fundador do Facebook, Eduardo Saverin (44,5 bilhões de reais), com patrimônios calculados segundo ranking da revista americana Forbes (veja aqui a lista completa dos brasileiros mais ricos).
No resto do mundo, o patrimônio dos bilionários fechou o ano 4,3% menor, a primeira baixa desde 2015. Ainda assim, se considerado o acumulado entre 2013 e 2018, a riqueza dos bilionários mundo afora subiu 34,5%, chegando a 8,5 trilhões de dólares.
A América do Norte (Estados Unidos e Canadá, com exceção do México) segue sendo a região com maior número de bilionários no mundo, totalizando 652 pessoas. A China vem em segundo, com 436 bilionários, seguida pela Europa Ocidental, com 397.
Apesar da queda na riqueza dos bilionários, um setor não viu a desaceleração chegar perto: o de tecnologia. Com o advento de novas tecnologias e startups com crescimento exponencial, o setor de tecnologia foi o único que cresceu em 2018. A riqueza entre os titãs do setor saltou 3,4% no ano, chegando a 1,3 trilhão de dólares.
É da tecnologia que vêm boa parte dos empresários mais ricos do mundo. Estão entre os dez mais ricos nomes como Jeff Bezos, fundador da Amazon (e atualmente o homem mais rico do mundo), Bill Gates, fundador da Microsoft, Mark Zuckerberg, do Facebook, Larry Ellison, da Oracle, e Larry Page e Sergey Brin, criadores do Google.
O bom momento do setor, inclusive, faz bem às fortunas acumuladas nos Estados Unidos, que é líder no setor e tem grandes empresas de tecnologia no país. Por outro lado, as fortunas globais sentiram os efeitos de temas como o Brexit, saída do Reino Unido da União Europeia, a guerra comercial entre China e Estados Unidos (que vem desde o ano passado) e uma potencial desaceleração da economia global.
Entre outros fatores destacados pelo estudo do UBS, está o crescimento do número de mulheres bilionárias, que foi de 160 em 2015 para 233 em 2018. O número de bilionárias saltou 46%, ante alta de 39% no número de homens no grupo.
Ainda assim, as 233 mulheres bilionárias no mundo representam apenas 0,11% do total do total de 2.101 bilionários no mundo. Na lista de pessoas mais ricas do mundo, a primeira mulher é Francoise Bettencourt Meyers, herdeira da L'Oreal (11ª na lista da Forbes), e Alice Walton, herdeira do Walmart (15ª).