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A receita da Apple rumo ao trilhão de dólares

Um ano após anunciar quedas nas vendas de iPhone, a Apple se recuperou de vez. Mas as dúvidas sobre o impacto do celular ainda persistem

Apple: companhia ainda é muito depende da venda de celulares

Apple: companhia ainda é muito depende da venda de celulares

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Da Redação

Publicado em 4 de novembro de 2017 às 07h51.

Última atualização em 4 de novembro de 2017 às 14h04.

São Paulo - Os últimos dias ofereceram uma oportunidade de analisar em várias frentes como está o presente e como será o futuro da maior empresa do planeta, a Apple. Num intervalo de 48 horas se concentraram a divulgação do resultado trimestral da companhia, feita ontem e que olha para o passado recente, e a chegada de um novo modelo de iPhone às lojas (além do início das vendas no Brasil de um modelo também apresentado recentemente).

Como costuma acontecer, o primeiro dia de vendas formou filas nas lojas da companhia. Lá fora, a empresa lançou o tão esperado iPhone X, sua edição de aniversário de 10 anos da linha iPhone. Aqui no Brasil, chegaram os modelos 8 e 8 Plus — o X ainda não tem data definida, mas a empresa prometeu até o final do ano.

A Apple, embora produza uma miríade de produtos, é bastante dependente de sua venda de celulares, que chegaram a ser responsáveis por 54,8% de todo o faturamento da empresa no último trimestre. Logo, um bom desempenho nas vendas dos três novos modelos lançados este ano é essencial para os trimestres vindouros.

No balanço financeiro divulgado pela empresa nesta quinta-feira, a Apple vendeu 46,7 milhões de iPhones no terceiro trimestre do ano. As vendas do celular cresceram 2,6% ante o mesmo período do ano passado, e somadas com um bom desempenho em tablets e computadores ajudaram a empresa a ter um sólido último trimestre do ano fiscal, com alta nos lucros e vendas pelo quarto trimestre consecutivo.

O faturamento foi de 52,6 bilhões de dólares, um aumento de 12%, e os lucros foram 19% mais robustos, na casa dos 10,7 bilhões. Até na China, o mercado mais promissor para smartphones, a empresa conseguiu vender melhor no comparativo ano a ano, alta de 12%, algo que não acontecia desde o início de 2016.

A somatória de bons números fez as ações da companhia subirem 3,9% nesta sexta-feira, jogando o valor de mercado para 891 bilhões de dólares, cada vez mais perto da mitológica barreira de 1 trilhão.

É um alívio sobretudo depois que, em maio do ano passado, a companhia teve sua mais recente “crise”, quando pela primeira vez na história a Apple reportou uma diminuição na venda de iPhones. No primeiro trimestre de 2016 o faturamento caiu 14%, os lucros caíram 23% e as vendas de iPhone, o principal produto da empresa, foram 16% menores.

Apesar dos bons resultados muitos analistas estão reticentes em Wall Street sobre o futuro das vendas de celular e as poucas informações que a companhia está fornecendo diante dos altos preços dos novos modelos, em especial o iPhone X, o mais avançado e também mais caro celular que a companhia já fez.

Os modelos 8 e 8 Plus, que começaram a ser vendidos no final de setembro nos Estados Unidos e chegam nesta sexta-feira ao Brasil, ajudaram a compor a alta do trimestre, mas tiveram o pior desempenho para novos modelos em anos, de acordo com estimativas da companhia de análise de mercado Localytics.

O presidente da Apple, Tim Cook, afirmou durante a divulgação de resultados que o desempenho é normal e que a companhia nunca esperou que os iPhone 8 e 8 Plus vendessem mais do que os modelos 7 e 7 Plus no ano passado porque a Apple lançou três modelos este ano. “Decidimos ser mais duros e lançar os três modelos. Tivemos crescimento de dois dígitos nas vendas de iPhone e os números de pessoas que fizeram upgrade em seus celulares ou migraram de Androids também aumentaram. Os resultados são ótimos”, disse Cook.

Segundo um analista do grupo Citi, Jim Suva, o bom faturamento é também resultado de uma venda acima do esperado em modelos antigos da companhia, que tiveram redução de preços às vésperas do anúncio dos novos modelos. “Isso é importante, porque traz muitas vendas novas para a companhia. São pessoas que eventualmente vão adquirir produtos e serviços e fazer upgrade para modelos mais novos”, disse ele à Bloomberg.

As reviews de tecnologia são positivas, o tempo na lista de espera da pré-venda está entre 5 e 6 semanas e houve filas de fãs nas lojas da Apple nos Estados Unidos para comprar o mais novo modelo. O prospecto inicial parece bom, mas a dúvida é se a Apple consegue manter o ritmo no longo prazo em um mercado cada vez mais competitivo e cheio de modelos de empresas como Oppo, Huawei e Xiaomi, que seguem fazendo aparelhos cada vez mais próximos dos top de linha da Apple e da Samsung, a maior fabricante de celulares do planeta.

O preço que virou piada

O analista Mark Moskowitz, do Barclays, disse à agência Bloomberg que muitas perguntas sobre o aparelho e sua pré-venda foram deixadas sem respostas pela Apple. “Na nossa visão, três grandes questões não foram tocadas: por que a Apple não divulga os números de pré-venda do iPhone X? As filas de espera do modelo são grandes por alta demanda ou por baixo estoque? Os preços vão ser um problema depois que a euforia dos primeiros compradores passar nos próximos meses?”

O iPhone X custa cerca de 1.000 dólares nos Estados Unidos — como o país tem uma renda média de cerca de 6.000 dólares mensais, o preço não chega a ser um problema. Mas, em países como o Brasil, a equação se complica, e muito. Por aqui, o preço do celular, anunciado entre 7.000 e 8.000 reais, é absurdamente maior que a renda média nacional, que no ano passado foi de 1.226 reais.

O celular topo de linha da concorrente Samsung, o Galaxy Note 8, custa cerca de 4.700 reais no Brasil. Não faltaram piadas nas redes sociais e notícias na imprensa nacional mostrando como é possível comprar bons carros usados com o valor do celular ou até mesmo viajar para Miami para comprar o iPhone X gastando, em passagens, hospedagem e preço do aparelho, menos do que comprá-lo por aqui.

Na China, onde a Apple busca crescer frente às marcas locais, o preço dolarizado do iPhone X, acima dos 1.000 dólares, é muito maior do que a renda mensal de 400 dólares, bem mais próxima da nossa do que da dos americanos. Ou seja: em países de renda mais baixa, o iPhone virou de vez um produto de luxo. Resta saber se isso será um problema para a Apple.

“Embora os resultados tenham sido sólidos, nós acreditamos que o foco do investidor deve ser na capacidade da Apple de vender celulares premium de 1.000 dólares em quantidades significativas, algo que nós não teremos um bom senso de como está até o final do ano, no mínimo”, disse à Bloomberg, Sherri Scribner, analista do Deutsche Bank.

Mas nem todas as análises são reticentes. “Um aumento nos preços movidos por inovação historicamente aumentam a demanda por produtos na Apple, ao invés de diminuir”, escreveu a diretora de pesquisa do banco Morgan Stanley, Katy Huberty.

Uma pesquisa do banco também aponta que o consumidor da Apple é extremamente fiel aos produtos da companhia: em abril, 92% das pessoas que já tinham um iPhone e planejavam trocar de celular dentro do próximo ano disseram que ficariam na Apple. Com isso, o Morgan Stanley também aumentou seu prospecto de médio prazo para as ações da companhia, de 182 dólares para 194. Nesta sexta-feira as ações da companhia estavam cotadas a 171 dólares.

O problema é que o aumento do preço, aliado ao aumento da demanda, depende da apresentação de novas tecnologias nos celulares. E cada vez mais as companhias de tecnologia, não só a Apple, têm que se desdobrar para apresentar um celular que não seja virtualmente igual ao lançamento anterior. O iPhone X se destaca nesse sentido, o que fica claro no preço do aparelho.

A Apple sabe de sua dependência em venda de celulares, está ciente do acirramento do mercado e investe pesado em outras frentes. O que emergiu de novo no balanço desta quinta-feira foi o crescimento do setor de serviços, que inclui iTunes, Apple Music e iCloud, o sistema de armazenamento em nuvem da empresa. Foi o melhor trimestre histórico para a divisão, que já é a segunda maior em termos de vendas, com faturamento de 8,5 bilhões de dólares, um aumento de 34% se comparado ao do ano anterior. A empresa também contratou dois veteranos da Sony TV e investe 1 bilhão de dólares na fabricação de séries e filmes originais, planejando concorrência com serviços de streaming da Netflix e Amazon.

Para uma empresa que lucra mais de 10 bilhões de dólares por trimestre, dinheiro para buscar novos caminhos não há de faltar.

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