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A problemática Schincariol vai ajudar a deficitária Kirin?

De um lado, a Schin não consegue crescer; de outro, a Kirin encolhe no Japão – essa parceria pode dar certo?

Campanha da Devassa: a Kirin fará a Schin crescer, algo que nem Paris Hilton conseguiu? (Divulgação)

Campanha da Devassa: a Kirin fará a Schin crescer, algo que nem Paris Hilton conseguiu? (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 2 de agosto de 2011 às 11h49.

São Paulo – Esqueça o tom triunfante dos comunicados ao mercado – afinal, todos que compram algo tentam convencer a plateia de que fizeram um bom negócio. Mas a compra da Schincariol pela Kirin é mesmo boa? E para quem?

No informe ao mercado, os japoneses da Kirin mostraram apenas a metade meio cheia de cerveja desse copo. Ao adquirir 50,45% da Schincariol por 3,95 bilhões de reais, a empresa já estreia no Brasil como a segunda maior do setor cervejeiro e a terceira maior em bebidas não-alcóolicas.

Mas a metade vazia do copo – e que pode acabar numa grande ressaca para a Kirin – vem justamente com os problemas que levaram Adriano e Alexandre Schincariol a vender sua parte na cervejaria.

A Kirin afirmou aos investidores que a transação vai lhe garantir “uma sólida plataforma em um mercado emergente promissor”. Sim, o Brasil é um belo mercado para venda de cerveja, mas o problema é que a Schincariol está patinando há anos no segundo lugar, sem apresentar aumento expressivo de participação. Enquanto isso, assiste à Petrópolis ameaçar seu segundo lugar.

Devassa e escanteada

Outro motivo que teria descontentado Alexandre e Adriano Schincariol seria o fracasso do lançamento da Devassa Bem Loura. Lançada com estardalhaço, a meta da marca era encerrar 2010 com uma fatia de 1,5% de mercado. O resultado, segundo reportagem de EXAME, ficou bem aquém: 0,2%.

Por último, ao reassumir a presidência executiva da cervejaria, Adriano deu início a uma reestruturação da diretoria que, na prática, representou um retrocesso na profissionalização iniciada em 2007, após a morte de seu pai e fundador da empresa, José Nelson Schincariol.

Mas a Kirin será capaz de dar uma guinada na Schincariol, a ponto de a cervejaria crescer com fôlego? Ao comunicar a aquisição ao mercado, a empresa japonesa não se fez de rogada: afirmou que as vendas da brasileira crescerão 10% ao ano.

Para isso, vai investir no lançamento de produtos de maior valor agregado, além de reforçar as marcas já pertencentes à Schincariol. Promessas à parte, o ponto é que isso envolve dinheiro – e a Kirin fez questão de enfatizar que a sua prioridade continua ser crescer e se tornar líder nos mercados da Ásia e da Oceania.


Sol poente

O Brasil é visto apenas como “um mercado emergente promissor.” É claro que a Schincariol deve reforçar as receitas geradas pelo mercado externo, num momento em que a Kirin experimenta uma forte queda de vendas em sua terra-natal.

Somente no primeiro trimestre, a receita da Kirin com bebidas alcóolicas encolheu 8,2% sobre o mesmo período de 2010, no mercado japonês, para 169,3 bilhões de ienes, ou 2,18 bilhões de dólares. Já as vendas de não-alcóolicos recuaram 12,6%, somando 840 milhões.

Em compensação, o desempenho do mercado externo, puxado justamente pela Ásia e pela Oceania, foi bem melhor. Os 1,5 bilhão de dólares de receita representaram um salto de 86%. Tudo somado, o prejuízo do primeiro trimestre foi de 27 milhões de dólares.

É verdade que muito disso foi causado pela tragédia que abateu o país em março, com terremotos de grande magnitude, tsunamis e vazamento nuclear. Mas, na apresentação de resultados do primeiro trimestre – um powerpoint de 30 lâminas publicado em março -, a ênfase da empresa recai sobre “lições de casa”: aumentar a produtividade e melhorar a lucratividade.

Trabalhos internos

A companhia planeja, por exemplo, poupar 9,4 bilhões de ienes (cerca de 121,3 milhões de dólares) neste ano com melhorias nos sistemas de produção, distribuição, compras e tecnologia, entre outros.

No plano externo, aquela apresentação foi muito clara: a empresa quer mesmo é bombar nos mercados vizinhos ao japonês, como a China e a Austrália. Seu plano estratégico para 2015 prevê um faturamento total de 3 trilhões de ienes (cerca de 38,7 bilhões de dólares). O mercado externo deve contribuir com 30% disso – cerca de 12 bilhões de dólares.

O último problema que a Kirin deve enfrentar é a resistência do resto da família Schincariol à venda do controle. Liderado por Gilberto Schincariol, esse grupo pretende contestar o acordo na Justiça, segundo o blog Primeiro Lugar, de EXAME. Gilberto alega que ele e os demais tinham direito de preferência na compra das ações de Adriano e Alexandre - algo que os dois teriam ignorado.

Os japoneses estão acostumados a bebidas fortes, como o tradicional saquê, um destilado à base de arroz. Mas não se sabe se são imunes à eventual ressaca causada pela cerveja brasileira - sobretudo se o tira-gosto que a acompanha é um cardápio de problemas familiares e de gestão.

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