Albert Bourla, CEO da Pfizer: as ambições da farmacêutica são apenas uma forma pela qual a pandemia está prestes a mudar para sempre o setor de saúde. (Steven Ferdman/Getty Images)
Mariana Martucci
Publicado em 24 de março de 2021 às 07h00.
A Pfizer quer expandir seu mercado de vacinas, e busca tornar-se líder na nova tecnologia baseada em genes, que está por trás de sua vacina contra o coronavírus. A farmacêutica vai desenvolver novas vacinas usando a tecnologia "mRNA", para atingir outros vírus além da covid-19, afirmou o CEO Albert Bourla em entrevista ao WSJ.
O presidente-executivo da Pfizer disse que cientistas e engenheiros da empresa ganharam uma década de experiência no ano passado trabalhando na vacina contra covid-19, em parceria com a alemã BioNTech SE, e estão prontos para expandir o método mRNA por conta própria. “Somos a empresa mais bem posicionada no momento para dar o próximo passo, devido ao nosso tamanho e experiência”, afirmou Bourla.
A farmacêutica aumentará a pesquisa e desenvolvimento da tecnologia, incluindo a contratação de pelo menos 50 funcionários cujas atribuições serão focadas na nova tecnologia de mRNA, aproveitando a rede de fabricação criada no ano passado. “Agora estamos à frente e planejamos manter a vantagem”, afirmou o executivo sobre o setor de vacinas de mRNA.
Bourla não explicitou quais vírus a Pfizer está atrás e se negou a comentar sobre as futuras vendas de vacinas. Ele espera que o mRNA também possa ser eficaz em áreas onde as vacinas existentes têm efeitos colaterais indesejáveis ou fornecem proteção inferior do que o esperado.
As ambições da Pfizer são apenas uma forma pela qual a pandemia está prestes a mudar para sempre o setor de saúde. A adoção da telemedicina — que reduziu a necessidade de pacientes visitarem hospitais — é outra. Especialistas também esperam que a entrega de medicamentos por delivery também continue.
A Pfizer já possui uma das vacinas mais vendidas do mundo, a pneumocócica Prevnar 13, que no ano passado teve quase US$ 6 bilhões em vendas. Os reguladores também analisam uma vacina de alta performance contra pneumonia, com uma decisão esperada ainda neste ano, além de outras vacinas em andamento.
Para a farmacêutica, mais vacinas poderiam reduzir a dependência de medicamentos contra o câncer, que agora representam cerca de um quarto das vendas e um terço do portfólio geral de produtos da empresa.
Vacinas mais potentes também poderiam ajudar a Pfizer a competir com rivais como a GlaxoSmithKline PLC do Reino Unido e a Sanofi SA da França, ambas com negócios mais consolidados no ramo de imunizantes. As vendas globais de vacinas devem totalizar mais de US$ 64 bilhões em 2026, quase o dobro do total do ano passado, de acordo com a empresa de pesquisa de mercado Evaluate Ltd.
O sucesso das vacinas é desafiador pois elas geralmente levam mais de uma década para serem desenvolvidas, com muitas falhando durante os testes. Além disso, a tecnologia de mRNA não foi comprovada além da covid-19, e concorrentes como a Moderna, têm mais experiência com a tecnologia.
Com as vacinas de mRNA, as moléculas levam instruções às células para a produção de proteínas, que então treinam o sistema imunológico para se defender contra um vírus. A maioria das vacinas usa uma parte enfraquecida ou inativa de um vírus para desencadear uma resposta imunológica.
A primeira investida da Pfizer na tecnologia veio em 2018, quando ela se associou à BioNTech para fazer uma vacina contra a gripe com base na plataforma de mRNA da empresa alemã. A parceria levou à colaboração das empresas na luta contra a covid-19 há um ano. Com o trabalho sendo iniciado pela BioNTech, a Pfizer se juntou à alemã para acelerar o desenvolvimento, a fabricação e a distribuição da vacina.
As duas empresas continuarão a colaborar no enfrentamento do coronavírus. Mas agora, depois de concluir etapas cruciais, como projetar e conduzir testes clínicos e obter matérias-primas especializadas para a fabricação, a Pfizer está confiante de que pode fazer vacinas de mRNA sozinha, segundo Bourla.
“Gostamos de trabalhar com a BioNTech, mas não precisamos trabalhar com a BioNTech”, disse ele. “Temos nossa própria experiência desenvolvida.”
Quando a parceria com a BioNTech terminar, em julho, a Pfizer assumirá a pesquisa, desenvolvimento e a fabricação da vacina contra gripe, e continuará a ter os direitos para comercializar o imunizante. A parceira alemã já até repassou certas informações técnicas para a Pfizer.
“Consideramos um grande avanço para as tecnologias de mRNA que empresas como nossa parceira Pfizer estejam se envolvendo na construção de sua própria estratégia de vacina”, disse um porta-voz da BioNTech.
Bourla disse que as apostas altas para buscar uma vacina contra covid-19 — sem financiamento público — valida sua decisão de seguir seu próprio pipeline de crescimento. A Pfizer aumentou os gastos com pesquisa e desenvolvimento em 21% desde que Bourla assumiu o comando da farmacêutica no início de 2019.
A chave para fazer vacinas de mRNA é possuir uma capacidade de fabricação suficiente, e a Pfizer construiu uma rede de produção sob medida. Fazer vacinas com esta tecnologia requer equipamento especial e matérias-primas que não estavam amplamente disponíveis antes da pandemia. Os cientistas da Pfizer aprenderam a produzir ingredientes essenciais para a injeção que antes dependiam de fornecedores externos.
Outra razão para se comprometer com o mRNA, segundo Bourla, é que a Pfizer prevê a produção de vacinas covid-19 por alguns (vários) anos, na expectativa de que as doses de reforço serão necessárias anualmente para manter a eficácia do imunizante.
O mercado global de vacinas contra o coronavírus poderia valer mais de US$ 15 bilhões em 2023 se vacinas anuais fossem necessárias, segundo estimativa da Bernstein Research. A Pfizer, que está dividindo o lucro da vacina contra covid-19 igualmente com a BioNTech, disse que espera cerca de US$ 15 bilhões em vendas da vacina este ano. Analistas do JPMorgan prevêem mais de US$ 10 bilhões em vendas da Pfizer-BioNTech no próximo ano e US$ 2,4 bilhões em 2025.