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Governo vai reduzir barreiras à importação de carros

O governo prevê que, em dois anos, 25% dos carros vendidos no Brasil sejam importados

LOJA DA JAC MOTORS: “A partir de 2018 vamos começar a vender o que tivermos capacidade de vender e não o que a cota nos limita”, diz o presidente Sérgio Habib  (Leandro Fonseca/Exame)

LOJA DA JAC MOTORS: “A partir de 2018 vamos começar a vender o que tivermos capacidade de vender e não o que a cota nos limita”, diz o presidente Sérgio Habib (Leandro Fonseca/Exame)

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Da Redação

Publicado em 4 de outubro de 2017 às 12h10.

Última atualização em 4 de outubro de 2017 às 19h12.

Se o mercado automotivo brasileiro sofreu um baque nos últimos cinco anos, com recuo de 47% nas vendas, o nicho de importados perdeu ainda mais. Em 2011, os importados respondiam por 27,5% das vendas; em 2016, a fatia caiu para 9%. O número de carros importados vendidos caiu de 1 milhão em 2011 para 180.000 em 2016, queda de 82%.

O motivo, além da crise, é o programa Inovar-Auto, implantado pelo governo Dilma Rousseff em 2012, que sobretaxou os veículos vindos do exterior em 30 pontos percentuais extras de imposto sobre produtos industrializados. Desde então, marcas consolidadas e novatas como Jac Motors, Lifan e Chery rezam por uma boa notícia. Os dias de dureza, segundo apurou EXAME, estão perto do fim.

Segundo o secretário de Desenvolvimento e Competitividade Industrial do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC), Igor Calvet, o governo divulgará o novo programa que regerá a indústria automotiva pelos próximos anos em breve. Segundo o MDIC, o programa está estruturado e depende apenas de questões burocráticas para ser anunciado. Os principais pontos foram obtidos com exclusividade por EXAME.

O programa é intitulado Rota 2030. Segundo Calvet, o mercado automotivo ganhou maturidade nos últimos anos e já é hora de reduzir a barreira de proteção. “Estamos afinando os detalhes, mas os 30 pontos percentuais de taxação de veículos importados vão cair. Ainda não posso afirmar se isso será zerado, mas a entrada de importados será facilitada”, diz. “Nossa expectativa é que os carros importados representem 25% das vendas de veículos no Brasil em dois anos”, diz Calvet.

Para atravessar a fronteira – a não ser que tenha vindo do Mercosul – um carro paga 65 pontos de IPI atualmente. A saída das importadoras foi apostar na cota de 4.800 carros, o limite máximo para que não haja a sobretaxação, o que culminou na queda brusca do volume de importados.

A notícia de que a barreira para os importados será afrouxada já começa a movimentar as montadoras que importam modelos, especialmente as chinesas. Na Jac Motors, o clima finalmente é de otimismo. A montadora marcou sua chegada ao país com o que chamou de Dia D, quando abriu 50 concessionárias de forma simultânea e chegou a vender 23.700 veículos em 2011. Atualmente não vende mais que 2.300, segundo dados da Abeifa, associação que representa as importadoras de veículos. Depois do balde de água fria nos últimos anos, que inclui até uma fábrica que não saiu do papel, a notícia da redução do imposto pode ser uma luz no fim do túnel. “A partir de 2018 vamos começar a vender o que tivermos capacidade de vender e não o que a cota nos limita”, diz Sérgio Habib, presidente da Jac Motors no Brasil.

Na Lifan o clima também melhorou. A montadora emplacou 2.000 carros até agosto deste ano, mas já tem planos ousados para o ano que vem e prepara novos modelos para trazer ao Brasil. Com fábrica na China, a companhia monta seus veículos no Uruguai para ter acesso facilitado ao Brasil e fugir da taxa. Segundo Sidney Levy, responsável pela relação comercial da Lifan no país, o portfólio será ampliado no próximo ano. “Finalmente vamos poder pensar com previsibilidade e trazer mais opções para os consumidores”, diz.

A Chery, que vendeu 21.800 carros em 2012, construiu uma fábrica em Jacareí e tem previsão de emplacar apenas 2.400 unidades neste ano talvez tenha sido uma das mais atingidas com a sobretaxação. Em nota, a companhia afirmou que não se pronunciará sobre a redução do posto enquanto o governo não divulgar as regras. A montadora disse ainda que não importa mais modelos e apenas comercializa o Celer e QQ, ambos fabricados na fábrica em Jacareí (SP), que funciona apenas em um turno.

Os resultados da proteção

Para Calvet, a tentativa de proteger a indústria nacional com o programa Inovar-Auto anunciado em 2012 foi válida para incrementar os investimentos locais. Segundo ele, a indústria automotiva aportou cerca de 5 bilhões de reais por ano em P&D durante o regime que finda em dezembro de 2017 – e elevou a capacidade produtiva do país para 5 milhões de unidades, com uma média de 450.000 unidades a mais para cada ano de regime. O problema é que menos da metade da capacidade está em uso atualmente: a previsão é que o Brasil produza cerca de 2,3 milhões de veículos neste ano.

Pesou para o novo programa a crise e a pressão da Organização Mundial do Comércio (OMC). Em agosto, a OMC pediu que o Brasil retire subsídios industriais em até 90 dias após queixas da União Europeia e do Japão contra uma série de incentivos do governo a setores da indústria nacional.

O fato é que, fechada para o mundo, a indústria automotiva brasileira, apesar do aumento da capacidade, foi ficando para trás. “Reabrir o mercado para os importados significa estimular a competição entre as montadoras, que terão de produzir produtos mais tecnológicos, econômicos, eficientes e preparados para a exportação”, diz o secretário.

Atualmente, cerca de 30% dos veículos feitos no Brasil são exportados. Além de continuar brigando por novos acordos internacionais, o MDIC quer que os produtos feitos aqui tenham tecnologia para brigar de igual para igual em países da Europa e Estados Unidos. “O Inovar-Auto trouxe um ganho significativo em desenvolvimento. A meta de eficiência era de redução de 12,8% das emissões com base em 2011 e vamos terminar com 15,4%. Todas as montadoras cumpriram as metas”, diz Calvet.

É bom, mas é pouco. Agora, o plano, é que carros elétricos e híbridos ganhem destaque nos próximos anos. “Dessa vez vamos cobrar resultados efetivos antes de dar subsídios”, diz o secretário. Depois de cinco anos fechado para o mundo, o Brasil corre atrás do tempo perdido.

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