Bruno Nunes, CEO da Base39: “A IA entende o contexto e nos permite negociar termos de forma muito mais flexível do que antes” (Base39)
Repórter
Publicado em 2 de outubro de 2024 às 18h03.
Conseguir e conceder crédito sempre foi um desafio no Brasil. Com as taxas de juros altas e os processos de análise, lentos e burocráticos, grande parte da população acaba se afastando dessa oportunidade por estranhamento com o assunto. Já as pequenas empresas financeiras têm dificuldade em se destacar entre os grandes bancos, vistos como mais seguros pelo seu porte. A Base39 vem para mudar esse cenário.
A startup brasileira usa inteligência artificial (IA) para tornar o processo de análise e aprovação de empréstimos mais rápido e barato. Isso significa que, com a ajuda da tecnologia, as instituições financeiras conseguem decidir de forma muito mais eficiente se um cliente pode ou não receber um empréstimo, como o consignado ou o adiantamento salarial.
A ferramenta permite que fintechs menores e outras instituições financeiras possam oferecer crédito de forma mais eficiente e personalizada. A plataforma de IA da Base39 é tão rápida que praticamente elimina a fila de espera para análise de crédito. Isso melhora a experiência do cliente, que consegue ter uma resposta mais rápida, e aumenta a eficiência das empresas que oferecem empréstimos.
Ao usar essa solução, a Base39 conseguiu reduzir em 96% o custo de cada análise de crédito. "Estamos oferecendo a possibilidade de empresas menores, que não têm grandes equipes de cientistas de dados, utilizarem essa tecnologia de ponta sem precisarem investir milhões", disse Bruno Nunes, CEO da Base39, em entrevista à EXAME.
A Base39 surgiu em 2022 como uma unidade de negócio independente, após uma reestruturação da fintech Paketá. A criação de uma unidade voltada à soluções de crédito orientadas por IA foi apoiada por fundos como o Kinea Ventures, o braço de corporate venture capital do Itaú.
Recentemente, ela foi uma das 10 startups escolhidas para um programa de aceleração global da AWS, braço de nuvem da Amazon, com foco em IA generativa. Todas receberam um investimento de até US$ 1 milhão em créditos e reuniões com grandes empresas do setor, como a gigante de chips Nvidia e a startup francesa que compete com o ChatGPT, Mistral AI.
Startup Yolo atrai investidores com IA que libera descontos na mensalidade de universitáriosA solução da Base39 é baseada em modelos de IA que não apenas analisam riscos, mas também ajustam ofertas personalizadas de crédito. Nunes afirma que, com a IA generativa, a empresa consegue ajustar regras e termos dos empréstimos segundo o perfil de cada cliente.
Além disso, em vez de só rejeitar automaticamente clientes com algum tipo de inadimplência, a IA pode oferecer alternativas, como a quitação de uma dívida específica em troca de aprovação do empréstimo. “A IA entende o contexto e nos permite negociar termos de forma muito mais flexível do que antes”, explica. Isso é possível porque a plataforma permite a inserção de novas regras e parâmetros de forma ágil, sem depender de longos processos de atualização.
Um dos maiores desafios ao se implementar IA generativa em serviços financeiros é o risco de "alucinações" da IA, quando o modelo fornece informações incorretas. Para mitigar esses riscos, a Base39 integrou mecanismos de controle e validação que garantem que as decisões financeiras tomadas pela IA sejam revisadas por analistas, ao menos nas primeiras fases do processo. Isso dá mais segurança tanto à empresa quanto aos clientes.
O processo de seleção do programa global AWS Generative AI Accelerator teve uma taxa de aceitação inferior a 2%, e exigia que as startups apresentassem desafios tecnológicos complexos e um plano claro de como transformar essas soluções em negócios lucrativos. "A AWS quer mais do que pesquisa. Eles querem saber se você consegue fazer dinheiro com a tecnologia", explica o CEO Bruno Nunes em entrevista à EXAME. "Não estamos falando de usar IA em um pequeno pedaço da operação. Estamos criando um novo produto para o mercado."
Além de entrevistas criteriosas, o processo envolveu a apresentação de um produto que já estivesse funcionando. Segundo Nunes, a Base39 foi selecionada porque demonstrou não só a viabilidade tecnológica, mas também o potencial de escalar a solução globalmente. Segundo Nunes, a empresa ainda não está ativamente olhando por novos mercados, mas acha atraente regiões como Ásia e também os Estados Unidos, onde as taxas de juros e o modelo de crédito são mais compatíveis com as soluções oferecidas.
Outro ponto alto do programa é o acesso direto aos especialistas da Nvidia e da Mistral AI. Para o executivo, a oportunidade de aprender com essas empresas é tão valiosa quanto o próprio crédito de US$ 1 milhão. "Eu abriria mão dos créditos só para ter contato com essas pessoas. A Nvidia, por exemplo, detém 90% do mercado de GPUs, e poder sentar com eles em Seattle será algo extraordinário", afirma.
Ele transformou a empresa num "grande laboratório de testes". Hoje, faz R$ 217 milhões e mira o IPOO programa inclui ainda 10 semanas de acompanhamento online com os especialistas da AWS, culminando em um evento em Las Vegas, onde a Base39 terá a chance de apresentar seu projeto a investidores de fundos internacionais. O objetivo é acelerar o desenvolvimento técnico da empresa e, ao mesmo tempo, abrir portas para uma eventual expansão internacional.
Além de apoiar startups com o programa de aceleradora, a AWS recentemente anunciou um novo investimento de R$ 10,1 bilhões para expandir sua infraestrutura de data centers no Brasil até 2034. Esse aporte visa fortalecer a infraestrutura de nuvem no Estado de São Paulo e atender à crescente demanda por serviços de computação em nuvem e IA. Com isso, a empresa solidifica sua posição como líder em tecnologia no país, somando o novo valor aos R$ 19,2 bilhões já investidos entre 2011 e 2023. Os investimentos anteriores da AWS geraram R$ 24,1 bilhões ao PIB brasileiro e criaram uma média de 10 mil empregos por ano.