Negócios

A fábrica faliu, ele ficou desempregado — e criou uma marca de calçados que fatura R$ 7 milhões

Criada por um ex-representante comercial após a falência da fábrica onde trabalhava, a marca nasceu quase como um plano de sobrevivência

Renato e Silvia Barboza, da Le Femme: "Crescer com responsabilidade é o que garante que a marca se mantenha sólida” (La Femme)

Renato e Silvia Barboza, da Le Femme: "Crescer com responsabilidade é o que garante que a marca se mantenha sólida” (La Femme)

Daniel Giussani
Daniel Giussani

Repórter de Negócios

Publicado em 23 de março de 2025 às 10h02.

Última atualização em 24 de março de 2025 às 09h06.

Nos últimos anos, centenas de pequenas fábricas do setor calçadista em cidades do interior de São Paulo e do Rio Grande do Sul interromperam a produção, encurraladas por custos altos, concorrência internacional e a pulverização do varejo. Mas a paulista La Femme fez o movimento contrário.

Criada por um ex-representante comercial após a falência da fábrica onde trabalhava, a marca nasceu quase como um plano de sobrevivência.

Hoje, fatura 7,2 milhões de reais ao ano com calçados femininos, apenas com as lojas - sem contar a indústria, que  produz 1.200 pares por dia, emprega 120 pessoas em Birigui, São Paulo, e distribui para mais de mil lojas no Brasil e em mercados como África do Sul, Bolívia e Equador.

“A empresa que eu representava ia fechar. Fiquei desempregado e decidi montar minha própria fábrica. Era um sonho antigo, mas comecei do zero, com um sócio estrangeiro que topou apostar nessa loucura comigo”, diz Renato Barboza, fundador da La Femme.

A pandemia foi o ponto de inflexão.

Com a indústria parando, vendas travadas e estoque encalhado, Renato e a mulher, Silvia, decidiram acelerar a abertura de lojas físicas para escoar o que tinham parado.

Hoje, são quatro lojas (Araçatuba, Rio Preto, Birigui e Votuporanga) e um e-commerce. Juntas, elas representam cerca de 15% do faturamento. O restante vem das multimarcas — que vão de Manaus ao Rio Grande do Sul, com foco no Nordeste, onde a linha tropical da marca tem mais apelo.

De vendedor de sapato a dono de fábrica

A história de Renato começa décadas antes da La Femme. Seu avô e seu pai também foram sapateiros. Ele próprio passou 22 anos na estrada, como representante.

“Andava de Voyage, dormia em hotel municipal. Era apaixonado por calçado”, afirma.

A virada veio em 2008, quando a empresa onde trabalhava anunciou o fim das atividades.

Renato decidiu ficar em Birigui, que já era um polo calçadista. Durante dois anos, preparou a estrutura da fábrica sozinho, até trazer a família. “No começo, a gente fazia 150 pares por dia. Montei uma loja na frente da fábrica só porque o pessoal da cidade queria comprar os sapatos”, diz.

A marca cresceu como marca própria desde o início. Mesmo quando o mercado apertou, Renato preferiu reforçar o time comercial e manter o foco. Hoje, 85% das vendas são da própria La Femme. “Private label é só 15%. A loja própria e o e-commerce fortaleceram muito a marca”, afirma Silvia.

Estratégia com tecnologia na base

O crescimento no varejo exigiu profissionalização. Foi aí que a La Femme começou a investir em tecnologia, com apoio da Linx, empresa de software especializada em varejo da Stone. A meta era ganhar eficiência na gestão dos estoques e ter dados em tempo real para tomar decisões melhores.

“Com mais pontos de venda, a complexidade aumentou. A Linx trouxe segurança na gestão. Agora estamos em fase de integração dos estoques físico e online”, diz Renato. O próximo passo é implantar etiquetas de rádio frequência para melhorar o controle de inventário.

Os resultados já apareceram: em 2024, a La Femme cresceu 12,52% em faturamento e teve um aumento de 10,49% no ticket médio — reflexo da melhoria de gestão e experiência do consumidor.

A parceria entre La Femme e Linx é vista pelas duas empresas como mais que fornecedor e cliente. Rafael Reolon, diretor de retail da Linx, afirma que a marca ajudou a moldar parte das funcionalidades do sistema. “A gente escuta o cliente para desenvolver soluções. A La Femme é uma das empresas que mais contribuíram com feedback. É uma troca”, diz.

Hoje, o sistema usado pela La Femme é o mesmo adotado por grandes redes como Arezzo e Chilli Beans. Mas a Linx mira no varejista médio, como a La Femme, que precisa de tecnologia para crescer com controle.

“A Silvia e o Renato são clientes que inspiram. Se eles quiserem abrir a quinta ou décima loja, vamos estar junto. Nosso papel é ser esse grão de areia que ajuda a praia a crescer”, afirma Reolon.

Apesar do bom momento e do incentivo de parceiros, a La Femme não pensa em franquear por enquanto. “Prefiro loja própria. A gestão direta garante que o atendimento e o produto estejam no nosso padrão”, diz Silvia.

A nova loja, em Votuporanga, foi inaugurada em setembro e ainda está em fase de maturação. “Cada ponto de venda ensina alguma coisa. Crescer com responsabilidade é o que garante que a marca se mantenha sólida”, completa Renato.

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