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A estratégia da construtora da Odebrecht para não se endividar

CNO, que recebeu grau de investimento da Fitch Ratings, reestrutura operações para manter baixo nível de endividamento

Obras do metrô de Lisboa: CNO busca reduzir custos para manter o caixa (Divulgação/Odebrecht)

Obras do metrô de Lisboa: CNO busca reduzir custos para manter o caixa (Divulgação/Odebrecht)

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Da Redação

Publicado em 16 de outubro de 2010 às 16h32.

São Paulo – A Construtora Norberto Odebrecht (CNO), do Grupo Odebrecht, recebeu nesta semana o grau de investimento da Fitch Ratings. É a segunda agência de classificação de risco a elevar a nota da empresa – a primeira foi a Moody’s há sete meses. Para a CNO, isso só foi possível devido à reestruturação financeira adotada há alguns anos – e que culminou num baixo nível de dívida.

“A Fitch reconheceu a qualidade do crédito da empresa”, afirma Jayme Gomes da Fonseca Júnior, diretor financeiro da Odebrecht Engenharia e Construção, à qual a CNO se reporta. Segundo o executivo, a prioridade, agora, é manter o nível de endividamento sob controle – e abaixo do permitido pelo conselho de administração.

O board da CNO permite uma relação dívida líquida/ebitda de até 1,5 vez. “Hoje, essa relação é de 0,96 vez, e temos um compromisso de não nos endividar muito além disso”, diz Fonseca.

Reestruturação

Desde 2007, a CNO vem adotando uma série de medidas para controlar suas dívidas. A holding da Odebrecht costumava, até anos atrás, usar o caixa da CNO como garantia para empréstimos e investimentos de outras empresas do grupo. Agora, a prioridade é trazer parceiros para os projetos que também aportem capital e liberem o caixa da CNO.


Além disso, o grupo começou a utilizar outros modelos de gestão financeira, como o project finance – no qual o financiamento de um projeto é dimensionado e pago pelas receitas que gerará quando entrar em operação. É o caso, por exemplo, da Odebrecht Óleo e Gás. “No project finance, você só precisa aportar de 20% a 30% de capital, financiando o restante”, diz Fonseca.

A CNO conta, ainda, com uma linha de crédito stand by de 500 milhões de dólares, com vencimento em 2013. Essa linha foi contratada com um pool de oito bancos: Santander, Banco do Brasil, BNP Paribas, Calyon, Banco Espírito Santo, Banco Caixa Geral, HSBC e Societé Generale.

Corte de custos

Em junho deste ano, a CNO contava com 1,4 bilhão de dólares em caixa, ante 1,9 bilhão em dezembro do ano passado. A redução do caixa é outro ponto da reestruturação financeira da construtora. Ao contrário do que se pode pensar, nem sempre é bom ter muito dinheiro no caixa. “O custo de arbitragem pode ficar negativo”, afirma o executivo, referindo à diferença de custos para manter o dinheiro aplicado em títulos de curto prazo e o custo dos recursos que a empresa poderia captar no mercado.

Por isso, a empresa também busca um nível menor de caixa. “Um patamar confortável seria 1 bilhão de dólares”, diz. E, para isso, a linha de crédito stand by pode ser estratégica. “Podemos ter 500 milhões de dólares em caixa, e o restante sacado da linha.”


Com notas de investimento conferidas por duas das mais importantes agências de risco do mundo, a CNO entraria facilmente no radar dos investidores. Isso abre uma oportunidade para lançar papéis e captar recursos baratos. Mas, segundo Fonseca, não há planos de grandes emissões neste resto de ano. “Pode haver alguma rolagem de dívida, mas a Odebrecht não pretende voltar ao mercado em 2010”, diz.

Peso corporativo

Apetite para papéis de empresas brasileiras existe, segundo Fonseca. O grupo sentiu o interesse dos estrangeiros em setembro, quando lançou 500 milhões de dólares em notas perpétuas pela Odebrecht Finance Ltd (OFL), o braço financeiro da CNO. “O Brasil está na moda, e infraestrutura também”, diz.

Além dos asiáticos, que estão cada vez mais presentes nas captações, a surpresa ficou por conta dos investidores corporativos americanos e europeus – ou seja, empresas comprando papéis de dívida de outra empresa. “Eles representaram um terço da demanda”, afirma Fonseca.

É um sinal de que, diante dos problemas econômicos dessas regiões, o Brasil segue como uma boa aposta. Com a proximidade da Copa de 2014 e das Olimpíadas de 2016 – nas quais a CNO pretende participar construindo estádios e outras obras de infraestrutura – as perspectivas brasileiras são atraentes para os estrangeiros. E manter as contas em dia é a estratégia da CNO para estimular o mercado.

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