Tim Cook, CEO da Apple: o CEO tenta encontrar um modo de utilizar os fundos sem incorrer em impostos nos EUA (Getty Images)
Da Redação
Publicado em 23 de julho de 2015 às 17h33.
O caixa da Apple Inc. ultrapassou US$ 200 bilhões pela primeira vez, e a porção do dinheiro retida no exterior aumentou para quase 90 por cento do total.
Isso redobra a pressão sobre o CEO Tim Cook para encontrar um modo de utilizar os fundos sem incorrer em impostos nos EUA.
O boom das vendas de iPhone no exterior está acrescentando dinheiro à pilha da Apple, o que leva a empresa a adotar afiliadas offshore para preservar e investir o montante.
Cook, que foi convocado a se apresentar diante do congresso dos EUA em 2013 para defender a Apple contra as acusações de driblar impostos, está enfrentando questões sobre o que a empresa fará com seu dinheiro e lidando com pedidos de investidores, como o bilionário ativista Carl Icahn, de retornar capital aos acionistas.
“Na verdade, eles não têm muito dinheiro onshore”, disse Tim Arcuri, analista da Cowen Co.
“De certa forma, eles continuam tendo dificuldades em relação ao que podem fazer, o que frustra sua capacidade de repatriar um monte de dinheiro offshore”.
Cook tem expressado claramente seu desejo de que os legisladores americanos emendem as leis tributárias do país para que as empresas possam repatriar mais dinheiro.
O montante da Apple no exterior cresceu 70 por cento desde que Cook falou no congresso e agora equivale a 89 por cento dos US$ 202,8 bilhões da Apple em dinheiro e investimentos no fim de junho, disse a empresa na terça-feira, frente a 72 por cento dos US$ 146,6 bilhões em dinheiro há dois anos.
Esse montante está sendo impulsionado pelo boom da receita mundial da Apple. As vendas na Grande China, por exemplo, mais do que dobraram e chegaram a US$ 13,2 bilhões no último trimestre em relação ao ano anterior.
Política tributária
Conforme a lei atual, as empresas americanas devem a alíquota corporativa completa de 35 por cento – a mais alta entre os países industrializados – da renda que ganham no restante do mundo.
Elas recebem créditos fiscais pelos pagamentos feitos a governos estrangeiros, e só precisam pagar a diferença aos EUA quando levam o dinheiro para o país.
Esse sistema estimula as empresas a transferir os lucros para países estrangeiros com impostos baixos e a deixar o dinheiro lá. Consequentemente, as empresas dos EUA acumularam mais de US$ 2 trilhões no exterior.
A Apple também está procurando retornar uma maior parte da sua crescente pilha de dinheiro aos investidores.
Em abril, a empresa apresentou planos para expandir o programa de retorno de capital em US$ 70 bilhões, aumentando uma autorização de recompra de ações em US$ 50 bilhões e incrementando os dividendos em 11 por cento.
No fim do trimestre encerrado em junho, a empresa tinha retornado US$ 126 bilhões do seu programa de US$ 200 bilhões, incluindo US$ 90 bilhões em recompras de ações, disse o diretor financeiro, Luca Maestri, aos analistas na terça-feira.
A maior contribuinte
Ainda por cima, a Apple já presumiu por motivos contábeis que grande parte do dinheiro voltou aos EUA, o que sugere que o impacto da repatriação do dinheiro sobre os futuros lucros seria mínimo.
No fim de seu último ano fiscal, a Apple estimou que levar os US$ 69,7 bilhões em lucros ainda não taxados para os EUA custaria cerca de US$ 23,3 bilhões em impostos no país.
Cook disse que a Apple já é a maior contribuinte nos EUA e reiterou a necessidade de uma reforma tributária “abrangente”. Um representante da Apple não quis comentar.
“Para todas essas empresas, nós inclusive, não é inteligente ter todo esse dinheiro no exterior, que não pode ser investido nos EUA”, disse o CEO, em uma conferência sobre tecnologia organizada pelo Wall Street Journal no ano passado.
“Seria razoável, digamos, estabelecer um imposto sobre a porção offshore, mas deixar que tudo flua livremente – deixar que o capital tenha um fluxo livre”.