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A bancada dos herdeiros e CEOs: quem são os deputados eleitos pelo Novo

Partido elegeu oito deputados federais, a maioria ligada à iniciativa privada. Para especialista, trata-se de uma "substituição de elites”.

Partido Novo: Lohbauer fez a avaliação durante participação no seminário “Brasa em Casa. O Brasil no Divã" (Partido Novo/Facebook/Divulgação)

Partido Novo: Lohbauer fez a avaliação durante participação no seminário “Brasa em Casa. O Brasil no Divã" (Partido Novo/Facebook/Divulgação)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 8 de outubro de 2018 às 16h08.

Última atualização em 25 de outubro de 2018 às 13h20.

São Paulo – As eleições de 2018 foram marcadas por uma aproximação dos empresários com a política, seja através de apoios explícitos, seja com candidaturas de empresários e pessoas ligadas à iniciativa privada.

No caso do apoio a candidatos, o caso mais emblemático é o da rede de lojas de departamentos Havan, cujo dono Luciano Hang foi processado pelo Ministério Público sob acusação de coagir funcionários a votarem em Jair Bolsonaro (PSL). Já no caso dos empresários candidatos, o Partido Novo, de João Amoêdo, é a principal expressão.

Criado em 2011, o partido conseguiu eleger oito deputados federais nessas eleições – só um deles não é empresário, CEO ou herdeiro de um negócio (Marcel van Hattem, 32 anos, que veio do PP e é cientista político). Dos outros sete, cinco estão na faixa dos 30 anos e a maior parte tem perfil na rede social de negócios LinkedIn.

O partido aposta ainda na candidatura de Romeu Zema ao governo de Minas Gerais. Com 42% dos votos válidos no primeiro turno, Zema é dono de uma rede varejista bilionária que leva o seu sobrenome. Passou a maior parte da campanha com 10% das intenções de votos, e só cresceu depois de declarar apoio a Bolsonaro, de extrema-direita.

Para o cientista político Pedro Rocha Lemos, professor aposentado da PUC de Campinas, a eleição de herdeiros e CEOs para o Congresso é “apenas uma substituição de elites”. “É uma nova elite substituindo a velha elite, que tem nomes como Antônio Carlos Magalhães, José Sarney e Jader Barbalho e sempre esteve no poder. Agora teremos uma elite mais jovem, que está acostumada com o setor privado e ainda não tem experiência na política”, afirma o especialista, que atualmente é professor colaborador no Instituto Federal de São Paulo, em Jundiaí.

Na visão de Lemos, o posicionamento político desse grupo é positivo, mas também preocupante. “É algo bom por um lado, porque essas pessoas estão se posicionando, fica claro o que elas pensam. Por outro lado é preocupante, porque o Brasil é um país muito desigual e uma concentração de poder nas mãos dos empresários pode comprometer as pautas sociais. Só a prática vai dizer se esses novatos têm um projeto para o conjunto da sociedade, ou se estão apenas preocupados com o próprio umbigo”, conclui.

Lemos lembra ainda que boa parte dos parlamentares que já atuam na política há mais tempo têm ligações com o empresariado. “Não é um fenômeno novo. Os empresários sempre estiveram no poder. Apenas agora vêm com outra roupagem”, atesta.

Para Michael Mohallen, professor de ciência política da FGV do Rio, o partido Novo e outras legendas como a Rede tornaram-se mais atrativos aos empresários interessados na política após a Operação Lava-Jato. “A política sempre teve uma porosidade para capturar representantes da sociedade, inclusive empresários, que quisessem cruzar para o outro lado do balcão. Porém, o custo para um empresário bem-sucedido se filiar a um partido acusado de corrupção é muito alto. Por isso os partidos tradicionais deixaram de ser essa porta de entrada. No caso do Partido Novo, o discurso ideológico liberal ajuda a atraí-los”, afirma.

Dentre as propostas dos deputados federais eleitos pelo Novo, são frequentes as menções à redução de impostos e da burocracia para quem empreende. Com menos frequência aparecem serviços como saúde e educação. De matriz liberal, o partido Novo tem entre suas plataformas a privatização das estatais, a meritocracia e a redução dos impostos.

Veja a seguir quem são os deputados federais eleitos pelo Novo e que vieram do setor privado:

Lucas Gonzalez – MG

Herdeiro da empresa de logística Transpes, fundada em 1966 por seus avós, Gonzalez tem 29 anos e sempre trabalhou na companhia da família. Com sede em Betim (MG), a empresa atua no setor de transporte de grandes volumes e tem companhias como Petrobras, Alstom, Fiat e Arcelor Mittal entre seus clientes. Agora Gonzalez foi eleito deputado federal por Minas Gerais. Dentre suas propostas estão melhorar a capacitação dos jovens para o mercado de trabalho, corte nos auxílios recebidos por parlamentares e redução de impostos.

Tiago Mitraud – MG

Formado em administração de empresas, Tiago Mitraud tem 32 anos e atuou durante seis anos na Fundação Estudar, entidade com foco em educação criada pelo bilionário Jorge Paulo Lemann, dono da Ambev e homem mais rico do Brasil. Foi CEO da entidade entre 2015 e 2017, quando deixou a organização para se dedicar ao Renova BR, movimento de renovação da política. Eleito deputado federal por Minas Gerais, Mitraud defende prioridade à educação básica, enxugamento do Estado e redação da burocracia para os empreendedores.

Vinicius Poit – SP

Vinicius Poit é filho de Wilson Poit, fundador da Poit Energia, uma empresa de aluguel de geradores que foi vendida à britânica Agrekko em 2012 por 400 milhões de reais. Hoje com 32 anos, Vinicius atuou na empresa do pai até a venda. Em 2016, fundou uma plataforma de recrutamento e seleção, a Recruta Simples. Também tem uma consultoria empresarial, a Ibira Investimentos. Dentre suas propostas estão redução da carga tributária, mudanças nas relações de trabalho e fomentar parcerias público-privadas.

Adriana Ventura – SP

Única mulher da bancada do Partido Novo, Adriana Ventura tem 49 anos, é professor da FGV micro-empreendedora: ela tem um estúdio de dança em São Paulo. Como professora, já deu treinamentos e workshops em grandes companhias como Carrefour, Itaú e Votorantim. Ela foi eleita por São Paulo e defende menos burocracia, menos impostos e inclusão social via empreendedorismo.

Alexis Fonteyene – SP

Fonteyene tem 51 anos e é empresário, dono da Solepoxi, empresa especializada em revestimentos para pisos localizada em Sumaré (SP). Também foi eleito deputado federal por São Paulo. Dentre suas propostas estão “eliminar leis inúteis que dificultam viver e empreender”, mais prazo para o pagamento de tributos das empresas, incentivo às privatizações e lutar pela educação.

Gilson Marques – SC

Gilson Marques tem 37 anos e é sócio do escritório de advocacia Vasselai Vieira Advogados Associados, que fica em Pomerode (SC). Foi eleito por Santa Catarina. Suas plataformas de campanha são contra aumentos de impostos, menos burocracia e contra privilégios de políticos.

Paulo Ganime – RJ

Paulo Ganime tem 35 anos e já atuou em grandes companhias do setor privado, como Shell e Michelin. Desde o ano passado, é dono de uma consultoria empresarial, a Profaktus. Eleito pelo Rio de Janeiro, suas propostas incluem temas como segurança pública e educação. Ele defende menos burocracia, a realização de uma reforma tributária e menos gastos com parlamentares.

*Atualização do dia 25/10/2018.

O deputado eleito Marcel van Hattem, citado na reportagem, enviou o seguinte comunicado a EXAME.

“O Partido NOVO não veio para substituir elites políticas retrógradas e acusadas de corrupção como Sarney e Jader Barbalho e passar a fazer o mesmo que elas fazem. Pelo contrário. O NOVO foi criado exatamente para fazer tudo diferente, para realizar a mudança dando o exemplo, sem usar dinheiro público, sem fazer coligações apenas para garantir que terá mais eleitos, e, principalmente, sem aceitar sequer filiados que não sejam ficha limpa. O NOVO tem, sim, um viés liberal, mas não para ajudar grandes empresários a se eleger ou ter acesso ao poder. O liberalismo verdadeiro serve pada garantir mais liberdade para que todos possam prosperar, sem tantas burocracias impeditivas. É por conta do excesso de intervenção estatal que acaba protegido apenas quem já está estabelecido no mercado, e mesmo assim com dificuldades. Já quem busca iniciar a empreender e a gerar emprego não encontra chances de prosperar e isso precisa ter fim. É para garantir a liberdade individual e um Estado enxuto, mas eficiente nos serviços básicos, que o NOVO existe."

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