Otelmo Drebes, presidente da Lojas Lebes: "A Lebes é uma empresa de 67 anos, que já passou por muitas crises nacionais, e superamos. Eu acredito nas pessoas, no espírito do gaúcho de reconstrução, de fazer" (Leandro Fonseca/Exame)
Repórter de Negócios
Publicado em 12 de julho de 2024 às 07h49.
Última atualização em 12 de julho de 2024 às 10h51.
ELDORADO DO SUL (RS) - No pico das enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul entre o final de abril e início de maio, o estado e dezenas de cidades se viram isolados.
Com desabamentos e inundações, rodovias, ruas e estradas ficaram bloqueadas. Algumas, por semanas. Cidades importantes do Estado, como Caxias do Sul, tiveram todas as entradas interditadas. O acesso à região sul gaúcha também foi praticamente interrompido, assim como para a região central, onde fica Santa Maria.
Esse problema, por si só, bastaria para mostrar o enorme desafio logístico que empresas enfrentaram nessas semanas de chuva e água lamacenta pelo Rio Grande do Sul. Mas não foi só isso: parte considerável de condomínios logísticos de grandes companhias ficam em cidades como Nova Santa Rita e Gravataí, na região metropolitana, e foram total ou parcialmente alagados.
Coincidentemente, era por esses dias que a Lebes, uma das principais varejistas de moda, móveis e eletrodomésticos gaúchas, inauguraria a primeira parte de um ecossistema logístico de 500 milhões de reais que atenderia não só a ela, mas outras empresas parceiras.
A ideia era abrir o espaço em meados de maio e já ter ali todo o centro de distribuição da empresa. Duas semanas antes, porém, os rios começaram a subir, as cidades começaram a alagar, e os planos, começaram a ser revistos.
Assim como diversos negócios, a Lebes também foi impactada pela logística. Seu centro de distribuição em Gravataí não alagou, mas as estradas interditadas impediam que os produtos chegassem às 350 lojas.
"Com estradas interrompidas, pontes interrompidas, mesmo que as lojas não foram atingidas, foram, de certa forma, impactadas pela falta de mercadoria", disse Otelmo Drebes, CEO da empresa, em entrevista exclusiva à EXAME na sede da Lebes em Eldorado do Sul. "Teve estrada que ficou interditada por duas semanas. E ficamos numa encruzilhada, porque as pessoas estavam querendo comprar, mas o produto não chegava para ser vendido".
Tão logo a água baixou e as estradas foram limpas, a Lebes não só retomou a abastecer suas lojas, como a focar neste projeto de meio bilhão de reais. Prova disso é que agora, dois meses após as enchentes, o espaço acaba de ser inaugurado. E já chega com uma demanda reprimida: justamente das empresas que perderam seus espaços logísticos por causa da enchente.
"Muitas empresas já estão nos ligando perguntando se há como ocupar um dos nossos pavilhões, porque os delas foram atingidos pela enchente", diz Drebes. "Isso nos dá um indicativo de ocupação futura muito positivo".
As empresas ainda não podem ocupar esses pavilhões porque eles ainda não foram construídos.
O projeto da varejista é de construir sete pavilhões logísticos nos próximos anos. Seis deles serão para alugar. Já o sétimo será usado como centro de distribuição da próprio empresa. É este que começou a funcionar agora.
"O centro de distribuição de Gravataí já não dava mais conta da demanda, então decidimos criar esse ecossistema logístico. É um projeto que já tem cinco anos, e que agora sai do papel", diz Drebes.
A EXAME visitou as novas instalações logísticas da Lebes uma semana antes da inauguração oficial do espaço. O terreno escolhido fica na cidade de Guaíba, a menos de 10 minutos de carro da sede da empresa em Eldorado do Sul. São 63 hectares e, quando os sete pavilhões estiverem construídos, 264.000 metros quadrados de área construída.
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Além dos galpões logísticos, o empreendimento também terá um espaço para um paradouro com postao de gasolina, restaurante, hotel, home center, atacarejo e heliponto.
"Essa região onde estamos está 90% duplicada e é uma das principais vias que liga o Rio Grande do Sul ao Uruguai e ao norte do país", diz. "Percebemos uma grande carência de investimentos nessa região. A ideia é que os motoristas não precisem mais entrar na capital gaúcha para ter um ponto qualificado para descansar".
Neste momento, apenas o pavilhão que é ocupado pela própria Lebes está pronto. O espaço é praticamente o dobro do CD que a empresa tinha em Gravataí. São 38.000 metros quadrados e 120 docas para atender uma demanda que só cresce. Inclusive, pela enchente, já que mais clientes passaram a procurar por produtos que perderam ou para fazer doações.
Quando todos os espaços tiverem prontos e operando, 3.000 pessoas estarão trabalhando diretamente por aí.
Apesar da cidade ter sido duramente atingida, a sede da Lebes ficou intacta. Diferente de 16% de suas operações: 22 de suas 350 lojas ficaram completamente submersas, e outras 35 sofreram danos significativos.
Para além da estrutura, cerca de 900 funcionários foram diretamente afetados, sendo que aproximadamente 200 perderam tudo o que tinham.
Em resposta à crise, a Lebes adotou diversas medidas para apoiar seus funcionários e a comunidade. A empresa antecipou o 13º salário, vendeu produtos a preço de custo aos empregados e ofereceu assistência psicológica aos afetados. Além disso, foi criada uma ajuda financeira de até 10.000 reais para aqueles que perderam tudo, permitindo-lhes iniciar a reconstrução de suas vidas.
Muito apoiada pelo crediário, também tomou a decisão de não cobrar imediatamente as prestações dos clientes impactados pela enchente. Também criou uma espécie de cartão-presente, chamado Cartão Reconstrução, para quem quisesse doar para os atingidos.
Numa manhã de sol no Rio Grande do Sul, algo raro nas últimas semanas, o presidente da Lebes, Otelmo Drebes, recebeu a reportagem da EXAME para falar dos impactos da enchente e dos caminhos para a reconstrução.
Leia a entrevista na íntegra aqui: De "cartão reconstrução" a R$ 10 mil aos funcionários: o plano de ação da varejista Lebes para o RS