Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco (Teleco/Divulgação)
Gabriel Aguiar
Publicado em 4 de novembro de 2021 às 18h35.
Última atualização em 8 de novembro de 2021 às 10h26.
E não é que o leilão do 5G finalmente saiu do papel? Com as grandes dominando a faixa de 3,5 GHz – mais desejada na disputa e que se tornou o padrão internacional –, também surgiram alguns nomes desconhecidos do público e empresas regionais. É o caso da Winity II, que arrematou a faixa de 700 MHz, de abrangência nacional, por 1,427 bilhão de reais (e ágio de 805,84%).
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Por trás da “novata” está a Pátria Investimentos, considerada um dos principais fundos do mercado e que foi acionista controladora da Vogel Telecom. Só que o comando da empresa passou à Algar em maio deste ano. Para Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco, a Winity II marca o retorno à telecomunicação em atacado, que fornece rede de cobertura a outras operadoras.
Veja a entrevista completa:
“Ela [Winity II] não divulgou os planos, ao contrário da Highline do Brasil [representada pela NK 108], que tinha o objetivo de se manter como operadora de infraestrutura no atacado, principalmente às regionais. Eu acredito que a proposta da Pátria será a mesma, em vez de disputar no varejo. Mesmo porque a faixa que comprou seria pequena para isso”, afirma o especialista.
“Parece que atuará no suporte às operadoras que compraram a faixa de 3,5 GHz, já que é difícil para uma companhia funcionar somente com 5G nessa frequência, que ainda não tem infraestrutura no país. É o contrário da faixa de 700 MHz, mais adequada para pequenas cidades e áreas rurais, que atende à rede 4G atualmente [e que quase foi comprada pela Oi em 2014]”.
“Só há vantagens, porque é uma das melhores faixas para celular. É uma frequência baixa com área de cobertura muito grande. Dá até para colocar 5G, mas o desempenho seria igual ao 4G. E, hoje, as principais do setor [Claro, Tim e Vivo] atuam nessa mesma banda. Elas só poderiam entrar na briga caso não saíssem vencedores nas rodadas. Mas a Winity II nem deu chance”.
“Parece que as grandes conseguiram exatamente o que queriam e precisavam: os 100 MB da banda de 3,5 GHz. E, neste ponto de vista, foram atendidas. Mas só o tempo poderá dizer se surgirá alguma operadora para realmente competir contra Claro, Tim e Vivo”, afirma Tude.
“Temos a Brisanet, que arrematou nordeste e centro-oeste, e já é uma empresa negociada em bolsa. Também tem a Sercomtel, compradora do 3,5 GHz na região norte do país e em São Paulo, que tem participação no Consórcio 5G Sul [junto a Unifique e União Copel], que terá direito de atuar no sul. Ainda teve a Algar, no Triângulo Mineiro, e a Cloud2u, essa sim estreante”.
“Os resultados serão de médio a longo prazo, principalmente porque a faixa de 3,5 GHz ainda terá a implantação atrasada para permitir a limpeza do espectro de frequência, atualmente ocupado pelas antenas parabólicas com sinal de TV aberta por satélite. Isso leva tempo. Enquanto as capitais terão sinal no ano que vem, as cidades menores terão um longo caminho até 2028. Ainda veremos 4G e 5G coexistindo por um bom tempo".
“Para 700 MHz, há uma lista de localidades menores, como vilas e pequenas cidades, que ainda não têm 4G. Além disso, a vencedora terá que garantir a cobertura das rodovias federais. Já Claro, Tim e Vivo terão de pagar pela limpeza da frequência de 3,5 GHz, deslocando as antenas parabólicas para outras bandas. Também há uma série de compromissos públicos, como o projeto Norte Conectado. Por fim, existe o plano de expansão do atendimento com fibra ótica no país”.
“Essa frequência foi arrematada por Brisanet, Claro e Vivo. É normal que principalmente as grandes fiquem interessadas, já que, apesar de ser uma boa faixa, ainda é pouco utilizada mundialmente. Ou seja: ainda há poucos equipamentos que operam nesse espectro. Por isso, dá para dizer que essa é uma aposta mais para médio ou longo prazo”, afirma Eduardo Tude.
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