Em Nova Caledônia, a produção foi interrompida depois de problemas (Marc Le Chelard/AFP)
Tatiana Vaz
Publicado em 26 de julho de 2012 às 19h00.
São Paulo – Os resultados da Vale no segundo trimestre deste ano, apresentados esta semana, não agradaram por um motivo muito simples: mesmo com o aumento da receita, a empresa teve um lucro de 2,662 bilhões de dólares, valor 58,7% comparado aos últimos doze meses. O Ebitda (lucros antes de juros, impostos, amortização e depreciação) também decepcionou: ficou em 5,119 bilhões de dólares no período, um recuo de 43,6%, na mesma comparação.
Os motivos disso ter acontecido, segundo a empresa, vão desde o atual cenário econômico mundial, que causou uma desaceleração de consumo e queda de preço do minério, até a valorização da moeda americana frente ao real fez a empresa perder 2,548 bilhões de dólares. A recuperação do mercado chinês, pra quem a Vale vende metade do que produz, também foi outro fator.
Ainda assim, a mineradora está otimista na recuperação dos resultados no longo prazo. “Estamos trabalhando para que as perdas sejam menores e otimistas em relação à recuperação do mercado daqui para frente”, afirma Murilo Ferreira, presidente da companhia.
A estratégia da companhia para melhorar os resultados daqui para frente está baseada em cinco pontos principais. São eles:
Cortar custos
De acordo com a companhia, um forte empenho em reduzir custos será um dos focos da Vale para tornar sua gestão mais eficiente. De acordo com a empresa, uma revisão de processos e de orçamentos de alguns projetos está em andamento para avaliar processos que podem ser feitos com menos despesa e, por consequência, que possam trazem melhoria de margem.
“O que tem hoje principalmente é uma preocupação de identificar o que está impactando nossos resultados para solucionar essas questões a curto prazo e estar livre para poder continuar crescendo, inclusive em investimentos, a longo prazo”, disse Ferreira.
Produzir mais níquel
A estação de tratamento de níquel da Vale em Nova Caledônia, arquipélago francês do Pacífico, e em Onça Puma, no estado do Pará, deram retornos bem abaixo do esperado pela companhia por motivos óbvios. As duas unidades estão com suas operações suspensas.
Em Nova Caledônia, a produção foi interrompida depois de problemas na unidade de produção de ácido sulfúrico, em maio. “Os problemas estão sendo resolvidos e a produção deverá ser retomada no último trimestre deste ano”, diz Peter Poppinga, diretor-executivo de metais básicos, os problemas em Nova Caledônia. Já em Onça Puma, vazamentos em dois fornos fizeram com que a empresa iniciasse uma investigação.
"Nossa intenção é fazer com que as duas unidades comecem a operar normalmente em breve para que começamos compensar o tempo em que a produção ficou interrompida", disse Peter.
Normalizar operação
Na primeira quinzena de julho, a Vale fez um acordo para pôr fim à greve de funcionários que enfrentava na construção de sua unidade de processamento de níquel no Canadá, a Long Harbour. A usina deve começar a operar em 2013, mas já enfrentou uma série de atrasos com a paralisação de funcionários, que reclama das condições de trabalho e salários baixos.
Com o acordo, a intenção da empresa agora é treinar as novas pessoas que entraram para trabalhar na unidade e normalizar o trabalho para que o investimento na construção, avaliada em 3,6 bilhões de dólares, trague um retorno rápido.
Entregas diretas
Em maio, o Ministério dos Transportes da China aprovou planos para construção de ancoradouros de minério de ferro para embarcações de até 400 mil toneladas, suficientes para rereceber os cargueiros Valemax, no porto de Ningbo-Zoushan, no leste do país. Navios da Vale estavam proibidos de fazer entregas, por suposta falta de infraestrutura. O primeiro e único Valemax a ingressar na China, o Berge Everest, de 380 mil toneladas, atracou no porto de Dalian em dezembro.
Ainda assim, a empresa terá de esperar a efetiva mudança de lei para fazer as entregas e, assim cortar gastos de logística. “Temos alternativas para continuar fazendo as entregas via Indonésia, mas otimistas que as entregas diretas possam ser feitas logo, o que não deve alterar o preço do minério entregue para a China, mas com certeza vai reduzir o custo”, disse Ferreira.
Rezar pelos chineses
Embora a Vale não tenha tido queda no volume vendido, o preço do minério caiu nos últimos doze meses de 180 dólares para os atuais 120 dólares agora, reflexo claro do momento atual da economia global. Com menos crédito, se produz menos e, com mais oferta de minério no mercado, o preço cai. A conta é simples e a Vale torce pela recuperação do mercado. Mas não há como esconder que a empresa fará uma prece especial pela melhoria da economia chinesa.
Hoje, 43,7% das vendas da Vale tem a China como destino certo e é por isso que a recuperação do mercado chinês se torna essencial dentro da expectativa de voltar a lucrar da Vale. “Temos plena confiança de que a economia chinesa deve melhorar até o final deste ano, já que diversas medidas para isso foram tomadas, como a desaceleração das exportações e investimentos e o incentivo do consumo interno”, disse Ferreira.