Cartões: mercado estima que Credicard detenha 7 milhões de plástico (Ernesto Rodrigues/AE)
Tatiana Vaz
Publicado em 9 de maio de 2013 às 15h26.
São Paulo – Noticiada hoje, mas não confirmada ainda pelo Itaú, a compra da Credicard pelo Itaú por 3 bilhões de reais surpreendeu pelo valor, bem acima dos cerca de 2 bilhões de reais que estavam sendo negociado pelos demais interessados e o triplo do valor de mercado da companhia.
Uma oferta grande o suficiente para fazer com que o banco da família Setúbal deixasse para trás os rivais Bradesco e Santander na disputa pela bandeira.
Mas, afinal, por que pagar para o Citibank um preço tão alto por uma empresa?
O Itaú tem lá seus motivos – e, de cara, quatro deles parecem ser bem consistentes. São eles:
Negócio
A Credicard tem 7 milhões de plásticos, estima o mercado, e teria sido responsável por cerca de 4,5% das transações feitas por brasileiros no exterior, um número que beirou aos 500 bilhões de reais em 2011.
Além do que, a companhia é a última “dona” de carteira de cartões em negociação hoje, em um mercado em ascensão em que nenhum banco quer ficar de fora. Isso porque o setor de cartões no Brasil cresce a passos largos em comparação aos demais países, tanto pelo tamanho do mercado e pelo aumento de crédito ao consumidor, quanto pelo hábito de compras por meio de cartões que vêm se consolidando no cotidiano da vida dos brasileiros.
Nos últimos cinco anos, o setor no Brasil cresceu em torno de 20% ao ano, índice que deve se manter pela fase de amadurecimento do setor financeiro pela qual passa o país. Apenas no ano passado, 724,3 bilhões de reais em transações foram feitas por meio de pagamentos por cartões de crédito ou débito, um número 18% maior em relação ao ano anterior.
Concorrência
Não deixar que o concorrente Santander levasse para casa a Credicard também acabaria ajudando o Itaú a tirar da frente um concorrente de potencial imenso de crescimento. Além de ainda desbancar o arquirrival Bradesco do páreo. Dois concorrentes que, sem participar da fundação da Credicard, ainda teriam acesso a uma das marcas mais fortes e tradicionais do setor de cartões do país. Uma hipótese difícil de ser digerida pelo Itaú.
Estimativas de mercado mostram que o Itaú lidera esse setor, com 30% do volume de transações feitos por meio de cartões no país. Bradesco e Banco do Brasil teriam, cada um, cerca de 20% e o Santander 5%.
Além dos ganhos sobre os volumes transacionados, o setor de cartões representa para os bancos uma maneira fácil de capturar e reter clientes. Os plásticos funcionam como uma ferramenta para eles traçarem os gastos e hábitos de consumo de seus clientes, informações que podem ser usadas para a oferta de crédito e produtos financeiros direcionados para tipos específicos de pessoas.
Histórico
A Credicard foi fundada, nos anos 70, pelo Itaú, Unibanco e Citibank e em 2004, o Unibanco vendeu sua participação na Credicard. Cada sócio ficou com metade da carteira. Em 2006, quando Citi e Itaú resolveram finalizar a parceria, um algoritmo matemático fez a divisão entre as partes – e, claro, uma parte de clientes do Unibanco acabou indo para a Credicard.
É esta fatia que o Itaú consegue, agora, reaver com a compra do Credicard. Trata-se de uma carteira de clientes do Unibanco, correntistas do Itaú desde 2008, quando o banco foi adquirido pelo concorrente, que permaneceu com cartão da Credicard.
Presença
Além de ser uma marca com histórico forte na memória dos brasileiros, a Credicard ainda conta com cerca de 100 lojas de rua de sua Credicard Financiamentos, quando ainda controlada pelo Citi. A empresa promove vendas de pacotes de créditos voltados para o varejo – um nicho que vinha sendo renegado pelo Citibank aos poucos, desde os últimos anos, e foi definitivamente deixado de lado com a venda da bandeira para o banco rival.
A dúvida agora é o que o Itaú fará com as lojas de ruas, bem como o que será feito dos cerca de 1.200 empregados herdados da transação. Hoje o Itaú conta com pouco mais de 89.000 funcionários.