Empreendedores e consumidores negros movimentam 1,7 trilhão de reais ao ano e precisam ficar no radar de investidores (//Getty Images)
Marina Filippe
Publicado em 16 de junho de 2020 às 17h25.
Última atualização em 16 de junho de 2020 às 17h28.
Quando começou a escrever o livro Oportunidades Invisíveis (editora Matrix), o publicitário e consultor de diversidade Paulo Rogério Nunes queria contar sobre os negócios que deixam de ser grandes oportunidades para investidores, e ao mesmo tempo inspirar novos empreendedores.
Ele, que é co-fundador da aceleradora Vale do Dendê, mapeou empreendimentos do Brasil e do mundo. A necessidade de relatar suas experiências e incentivar a aceleração dos negócios criados por pessoas negras, LGBTI+ e de outros grupos socialmente minorizados era tanta que toda a produção do livro foi feita em nove meses.
"Minha intenção era mostrar urgentemente que acelerar e contratar os serviços desses empreendedores é além de uma questão social, um ganho para o negócio", diz.
Somente os pretos e pardos -- 56% da população brasileira -- movimentam 1,7 trilhão de reais por ano. Na empresas com eles na liderança, o lucro costuma ser 36% maior do que aquelas sem diversidade étnico-racial, como aponta a consultoria McKinsey. "Desenvolver esses negócios é fomentar o potencial econômico do país, assim como de outros grupos diversos", afirma Nunes.
Conheça abaixo os negócios:
Rádio Yandê - A primeira web rádio indígena do Brasil busca priorizar os conteúdos artísticos e jornalísticos também produzidos por indígenas. No Instagram, o empreendimento tem quase 24 mil seguidores.
Laboratório Fantasma – Fundada pelos irmãos Emicida e Fióti, a LAB Fantasma é uma empresa de entretenimento que conta com gravadora, editora, produtora de eventos e marca de roupas. A empresa é reconhecida por preencher uma lacuna nos negócios que valorizam a estética e cultura negra e periférica.
Diáspora Black - A startup, com funcionamento semelhante ao do Airbnb, permite que pessoas se inscrevam-se para viajar ou receber viajantes em sua casa, mas sempre focando na cultura negra, tanto em relação ao tipo de turismo, quanto ao acolhimento seguro de viajantes pretos e pardos. Desde 2017, a plataforma atendeu mais de 4 mil turistas.
Hand Talk - A plataforma desenvolvida em Maceió traduz simultaneamente conteúdos em português para a língua brasileira de sinais. O objetivo é promover a inclusão de pessoas surdas.
Makeda Cosméticos - A empresa de produtos de beleza para negras acompanha uma tendência crescente no Brasil: a da transição capilar. Em agosto de 2017, por exemplo, a busca no Google por cabelos cacheados cresceram 232%, ultrapassando o interesse por cabelos lisos pela primeira vez.
Lady Driver - A plataforma de viagens compartilhadas, semelhante ao Uber, com frota exclusivamente feminina não alcança seu concorrente direto também pela falta de investimento na empresa, como aponta Nunes. Segundo a empresa, o pagamento para as motoristas é o melhor do segmento e mais de um milhão de downloads do aplicativo já foram realizados.
Empregue Afro - A empresa de recrutamento e seleção de pretos e pardos já encaminhou centenas de profissionais para companhias de diferentes portes e segmento. A ideia da consultoria é incentivar a diversidade no mercado de trabalho e gerar valor para os contratantes e contratados.
Da Minha Cor - Foi na adversidade que surgiu a oportunidade de produzir toucas de natação para pessoas com cabelo afro, como black power e dreads. Com o crescimento do negócio foram lançados também maiôs e maquiagens.
Xongani - A empresa de moda que desenvolveu os primeiros produtos a partir de tecidos importantes de Moçambique para a Bahia produz peças africanas para o mercado de luxo. Atualmente, a marca comercializa também pelas redes sociais, como no Instagram com quase 44 mil seguidores.
Enquanto no Brasil esses negócios recebem pouca atenção de grandes investidores e empresas, Nunes ressalta que há importantes exemplos mundo a fora, como da Soweto Gold, cervejaria sul-africana comprada pela Heineken; ou ainda da Sundial Brands, empresa de cosméticos norte-americana adquirida pela Unilever.
"As empresas brasileiras falam de inovação aberta, mas acabam buscando soluções nos mesmo lugares. É preciso iniciativas afirmativas de apoio ao empreendedor de forma a gerar bons negócios para os dois lados".