Sede do Banco Central Europeu, em Frankfurt (Arquivo/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 27 de outubro de 2011 às 17h52.
Bruxelas - Os líderes da zona do euro alcançaram um acordo com bancos e seguradoras privados nesta quinta-feira, para que eles aceitem uma perda de 50 por cento nos bônus que possuem do governo da Grécia.
O acordo foi obtido após mais de oito horas de negociações envolvendo banqueiros, chefes de Estado, autoridades de bancos centrais e o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Sob o acordo, o setor privado concordou em aceitar voluntariamente uma redução nominal de 50 por cento em seus investimentos em bônus, para reduzir a dívida grega em 100 bilhões de euros, cortando-a a 120 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) até 2020, ante os atuais 160 por cento.
Em contrapartida, a zona do euro oferecerá aumentos de crédito ou similares para o setor privado, em um total de 30 bilhões de euros. A meta é completar as negociações do pacote até o fim do ano, para que a Grécia obtenha um segundo programa de ajuda antes de 2012.
O valor do pacote de resgate, disseram fontes da União Europeia, será de 130 bilhões de euros --quantia maior que os 109 bilhões de euros combinados em julho.
"A cúpula nos permitiu adotar os componentes de uma resposta global, de uma resposta ambiciosa, de uma resposta crível para a crise que está afetando a zona do euro", declarou o presidente da França, Nicolas Sarkozy, a jornalistas.
Fundo maior - Assim como o acordo para a participação maior do setor privado na ajuda à Grécia --que surgiu após negociações de Sarkozy e da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, com banqueiros --, os líderes da zona do euro também concordaram em aumentar o Fundo Europeu de Estabilização Financeira (EFSF), que atualmente vale 440 bilhões de euros.
O fundo já está sendo usado para dar ajuda a Irlanda, Portugal e Grécia, sobrando cerca de 290 bilhões de euros de seu valor. Cerca de 250 bilhões desse total serão alvancados entre 4 e 5 vezes, chegando a cerca de 1 trilhão de euros.
Os líderes esperam que essa quantia seja suficiente para impedir a piora dos problemas de endividamento público na Itália e na Espanha, que são a terceira e a quarta maiores economias da Europa.
O EFSF será alavancado em duas formas, ou com a oferta de garantias para compradores de dívida da zona do euro no mercado primário, ou por meio de um veículo para fins especiais que será estabelecido nas próximas semanas e que tem o objetivo de atrair investimento da China e do Brasil. Os métodos podem ser combinados, dando ao EFSF mais flexibilidade, de acordo com os líderes europeus.
Hora da verdade - O Japão e o Canadá deram boas-vindas ao acordo na zona do euro. A agência de notícias estatal da China, a Xinhua, informou que o resultado é "positivo, mas repleto de dificuldades." Como o acordo de 21 de julho, que rapidamente falhou quando ficou difícil garantir envolvimento suficiente do setor privado e quando as condições dos mercados pioraram subitamente, a preocupação é que o acordo desta quinta-feira só funcioná se os detalhes forem acertados imediatamente com o setor privado, representado pelo Instituto Internacional de Finanças (IIF, na sigla em inglês).
O diretor-gerente do IIF, Charles Dallara, disse que aqueles que ele representa estão comprometidos a fazer o acordo funcionar.
"Em nome da comunidade dos investidores privados, o IIF concorda em trabalhar com a Grécia, as autoridades da área do euro e o FMI para desenvolver um acordo concreto voluntário, na base firme de um desconto nominal de 50 por cento sobre o valor nocional da dívida grega detida por investidores privados, com o apoio do pacote oficial de 30 bilhões de euros", disse Dallara em comunicado.
"Os termos e condições específicas do voluntário ESP (envolvimento do setor privado) serão acertados por todas as partes relevantes no próximo período e implementados com imediação e força." Os líderes da zona do euro esperam que o acordo --que também será acompanhado por uma recapitalização de cerca de 106 bilhões de euros no setor bancário europeu-- finalmente encerre a crise que abalou os mercados financeiros e ameaçou estragar o projeto da união monetária.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Barroso, disse que os detalhes finais sobre o pacote da Grécia, que vem após um programa de 110 bilhões de euros concedido ano passado, só serão elaborados no fim do ano.
E os ministros das Finanças da UE não devem concordar sobre os detalhes de como o EFSF fortalecido funcionará até algum momento em novembro, com a data exata não fixada.
Como parte dos esforços para atrair investidores no veículo para fins especiais atrelado ao EFSF, Sarkozy disse que conversará com o presidente chinês, Hu Jintao, nos próximos dias. Pequim tem sido um grande comprador dos bônus emitidos pelo fundo, que é classificado como "AAA" pelas agências de risco.