O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fala durante uma coletiva de imprensa conjunta no fórum "Ucrânia. Ano 2025" em Kiev em 23 de fevereiro de 2025, em meio à invasão russa da Ucrânia. (Foto de Tetiana DZHAFAROVA / AFP) (Tetiana DZHAFAROVA/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 1 de março de 2025 às 12h14.
A relação entre os Estados Unidos e a Ucrânia sofreu um novo abalo após uma discussão pública entre o ex-presidente americano Donald Trump e o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. O episódio ocorreu antes de uma reunião que deveria formalizar um acordo para o acesso dos EUA a recursos minerais ucranianos.
"É muito importante para nós que a Ucrânia seja ouvida e não esquecida" , escreveu Zelensky em sua conta no Telegram, após o incidente.
O encontro entre Trump e Zelensky, realizado na Casa Branca, foi marcado por desentendimentos. Trump afirmou que o líder ucraniano "desrespeitou" os Estados Unidos e declarou que Zelensky poderá retornar a Washington "quando estiver pronto para a paz" . O episódio gerou espanto, e o fim abrupto da visita coloca em dúvida o compromisso americano com o apoio militar a Kiev na guerra contra a Rússia.
Logo após a discussão, Trump utilizou sua rede social, o Truth Social, para minimizar o ocorrido, classificando o encontro como "muito significativo". No entanto, ele lançou um ataque direto ao presidente ucraniano, sugerindo que Zelensky vê a presença americana como uma vantagem em negociações.
"Eu determinei que o presidente Zelensky não está pronto para a paz se a América estiver envolvida" , escreveu Trump.
Pouco depois, a Casa Branca cancelou uma entrevista coletiva prevista para a tarde de sexta-feira, enquanto a delegação ucraniana deixava o local. Nenhum acordo foi assinado entre os dois países.
O encontro entre Trump e Zelensky era esperado há semanas e deveria selar um acordo que garantiria aos Estados Unidos acesso a parte dos recursos minerais ucranianos. Para Trump, essa seria uma forma de compensar os pacotes de ajuda militar enviados a Kiev.
As negociações, no entanto, enfrentaram desafios. Zelensky exigia garantias de segurança para evitar uma nova invasão russa, algo que Trump se recusava a discutir, alegando que essa responsabilidade caberia à Europa.
O clima na Casa Branca ficou ainda mais tenso quando Trump e seu vice, J.D. Vance, criticaram a postura do líder ucraniano e o acusaram de ser "ingrato" e "desrespeitoso".
— Você quer que eu diga coisas realmente terríveis sobre Putin e então tente negociar? Não funciona assim — rebateu Zelensky.
Trump, por sua vez, reafirmou sua posição de que a Ucrânia foi responsável pelo conflito com a Rússia e deixou claro que não pretende garantir apoio incondicional.
"Ou você vai fazer um acordo ou nós estamos fora. Se estivermos fora, você vai lutar" , disse o ex-presidente.
A escalada de tensão ocorre logo após visitas de líderes europeus a Washington, em uma tentativa de convencer Trump a manter o apoio à Ucrânia. No entanto, o ex-presidente demonstra maior interesse em negociar diretamente com Moscou, sugerindo que poderia "fechar um acordo sem os ucranianos" .
A falta de consenso sobre o acesso aos recursos minerais e as garantias de segurança expõe a divisão entre os países e pode alterar os rumos da guerra. Com as eleições americanas se aproximando, a postura de Trump adiciona novas incertezas sobre o papel dos Estados Unidos no conflito.