O presidente ucraniano Volodimir Zelensky (AFP/AFP)
Agência de notícias
Publicado em 12 de abril de 2023 às 17h53.
Última atualização em 12 de abril de 2023 às 18h07.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenski, pediu nesta quarta-feira, 12, à comunidade internacional e seus líderes, que ajam urgentemente com medidas concretas para ajudar Kiev a derrotar a Rússia, após a divulgação de um vídeo que mostra supostamente um soldado russo decapitando um prisioneiro de guerra.
"É algo que ninguém no mundo pode ignorar: a facilidade com que essas bestas matam", disse Zelensky em um vídeo gravado do gabinete presidencial, no qual afirma que não é um caso isolado, mas sim "a nova normalidade" que a Rússia tenta impor.
Um vídeo encontrado nas redes sociais russas pela emissora de televisão americana CNN mostra o que seria a decapitação de um soldado ucraniano vivo nas mãos de um militar russo.
O vídeo teria sido gravado no ano passado. O Serviço de Segurança da Ucrânia (SBU) anunciou hoje a abertura de uma investigação para identificar os autores da decapitação.
"Já aconteceu antes. Já aconteceu antes em Bucha. Milhares de vezes", acrescentou Zelensky, referindo-se à cidade perto de Kiev onde centenas de civis ucranianos foram mortos durante a ocupação russa.
O presidente ucraniano pediu então a "cada um dos líderes" da comunidade internacional que reaja com medidas que contribuam para "derrotar o terror" que, em sua opinião, a Rússia representa.
"Ninguém entenderia porque os líderes não reagem", comentou, para em seguida pedir a criação de um tribunal especial para julgar essas atrocidades russas.
A gravação da decapitação foi publicada pelo assessor do gabinete presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, juntamente com uma mensagem na qual condena a "sede de sangue" da Rússia e se dirige àqueles que pedem à Ucrânia a troca de territórios pela paz.
"Talvez os pacifistas que cinicamente sugerem 'trocar territórios pela paz' finalmente entendam o que significa 'o mundo russo'", escreveu Podoliak, usando a expressão russa para países sobre os quais Moscou exerceu influência.
No vídeo, que tem imagem desfocada, é possível ver a decapitação e ouvir os gritos de terror da vítima. Ele tem duração de 1 minuto e 40 segundos e circula na internet desde terça-feira. Na imagem, um homem com roupa camuflada e o rosto coberto ataca o outro, de uniforme, que está caído no chão, gritando.
Após alguns segundos, os gritos param e é possível ouvir um homem que está atrás da câmera incitando, em russo, o carrasco a "cortar a cabeça". Ele termina a decapitação com uma faca e mostra a cabeça para a câmera.
"Você deve colocar em uma sacola e enviar para o comandante", diz uma voz, em russo. A câmera também mostra o colete da vítima que tem o tridente do brasão ucraniano e a imagem de um crânio.
A CNN também encontrou uma segunda gravação, mais recente, na qual supostos mercenários do Grupo Wagner cortam a garganta de dois soldados ucranianos mortos em uma explosão.
O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, considerou a Rússia "pior que o Estado Islâmico", a organização extremista que filmava as execuções de seus reféns, geralmente por decapitação. "Os terroristas russos devem ser expulsos da Ucrânia e da ONU e responsabilizados por seus crimes", escreveu no Twitter.
O Kremlin afirmou nesta quarta-feira que o vídeo divulgado deve ser verificado. "Para começar, é preciso verificar a veracidade das imagens", disse o porta-voz da Presidência da Rússia, Dmitri Peskov, em sua entrevista coletiva diária.
O chefe do grupo de mercenários russos Wagner, Yevgeni Prigozhin, negou nesta quarta-feira que suas unidades, que combatem atualmente em Bakhmut, na região de Donetsk, estejam ligadas à decapitação de um soldado ucraniano.
"Eu vi esse vídeo. É errado decapitar pessoas, mas não encontrei em nenhum lugar nada que indique que isso aconteça em Bakhmut ou que combatentes de Wagner tenham participado dessa execução", disse Prigozhin em sua conta no Telegram.
Na França, o governo qualificou como ato bárbaro o vídeo divulgado e pediu que todos os responsáveis pelos crimes cometidos na Ucrânia sejam responsabilizados.
"Condenamos veementemente este ato bárbaro que constitui uma clara violação do direito internacional humanitário", disse uma porta-voz do Ministério das Relações Exteriores francês.
A chancelaria francesa considerou ainda que esta decapitação é "um atentado insuportável à dignidade humana" e fez um apelo para que "todos os responsáveis pelos crimes cometidos na Ucrânia" sejam levados aos tribunais, embora sem citar os responsáveis.