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Xi Jinping prepara plano de estímulo à economia chinesa enquanto guerra comercial ganha fôlego

Tarifas adicionais anunciadas por Trump devem entar em vigor um dia antes da reunião do Congresso Nacional do Povo. Incentivo ao consumo e reforço da aposta em tecnologia estão entre os temas do encontro

O presidente chinês Xi Jinping participa da reunião de formato estendido da cúpula do BRICS em Kazan em 23 de outubro de 2024 (Alexander NEMENOV /AFP)

O presidente chinês Xi Jinping participa da reunião de formato estendido da cúpula do BRICS em Kazan em 23 de outubro de 2024 (Alexander NEMENOV /AFP)

Agência o Globo
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Agência de notícias

Publicado em 3 de março de 2025 às 10h54.

O presidente Xi Jinping chegará ao maior encontro político da China do ano com sua economia finalmente retomando o fôlego. As tarifas crescentes de Donald Trump vão testar a capacidade de Pequim de sustentar esse impulso.

O presidente americano ameaçou colocar em vigor a partir desta terça-feira uma taxa adicional de 10% sobre produtos chineses.

Avanços em inteligência artificial e o recente apoio de Xi a empreendedores privados, como Jack Ma da Alibaba, impulsionaram uma forte valorização das ações antes do Congresso Nacional do Povo.

No entanto, esse otimismo já está sendo manchado, com a nova tarifa de 10% de Trump entrando em vigor um dia antes de o premiê Li Qiang apresentar o plano econômico da China para o ano.

Milhares de delegados, incluindo chefes de ministérios e líderes provinciais, se reunirão nesta quarta-feira em Pequim para o encontro parlamentar, onde as autoridades estabelecerão uma meta de crescimento otimista de cerca de 5%, segundo a maioria dos analistas consultados pela agência Bloomberg.

Risco de guerra de retaliação

A China está prestes a mudar "bastante" sua política este ano, disse Yao Yang, professor de Economia na Universidade de Pequim, que alertou que as medidas ainda podem não ser suficientemente ousadas.

"Minha primeira preocupação é que o estímulo fiscal não é grande o suficiente, particularmente quando consideramos a dívida dos governos locais”, afirmou. “Em segundo lugar, se a China e os EUA não conseguirem negociar um acordo, o governo americano provavelmente aumentará as tarifas. Então, entraremos em uma guerra de retaliação. Isso será muito ruim.”

Os operadores de câmbio estão observando atentamente os detalhes do plano de estímulo, já que as autoridades têm se concentrado mais em manter o yuan estável do que em flexibilizar a política. O Banco Popular da China tem consistentemente estabelecido a taxa de referência acima de 7,2 iene por dólar, resistindo à especulação de que a China poderia desvalorizar sua moeda para compensar as perdas econômicas da guerra comercial.

"A guerra comercial, sem dúvida, estará no topo da agenda, nos bastidores, durante o Congresso Nacional do Povo. Com as últimas tarifas entrando em vigor apenas um dia antes da abertura do evento, a postura fiscal da China provavelmente não mudará imediatamente. Mas, com a pressão externa aumentando, os formuladores de políticas podem acelerar a implementação do estímulo", economista-chefe para a Ásia da Bloomberg Economics, Chang Shu.

Incentivo a gastos dos consumidores

Manter a mesma taxa de crescimento este ano, enquanto lida com esses desafios, exigirá um maior gasto fiscal, dado que as tarifas dos EUA podem paralisar o motor de exportação da China. Analistas, incluindo Lu Ting, da Nomura Holdings Inc., preveem que o crescimento das exportações vai parar depois de um aumento de quase 6% em 2024.

Isso significaria que o governo teria de aumentar seus próprios investimentos e incentivar empresas e famílias a gastar para compensar a desaceleração.

"A forma de lidar com as tarifas é a mesma de lidar com outras questões na economia chinesa, ou seja, aumentar o consumo interno", disse David Li Daokui, professor de Economia na Universidade de Tsinghua e conselheiro regular de políticas em Pequim, à Bloomberg Television.

Veículos elétricos

Mais políticas para impulsionar os gastos dos consumidores "serão implementadas no futuro", acrescentou. Li antecipa que o governo pode combater um excesso de produção em setores como veículos elétricos com medidas como exigir que novos entrantes comprem uma licença de empresas existentes. Isso ajudaria a enfrentar uma guerra de preços que está estimulando a deflação e pressionando o mercado de trabalho.

Um indicador-chave para observar a magnitude da política de estímulo deste ano será a expansão do déficit do governo.

As autoridades irão elevar a meta oficial do déficit orçamentário deste ano para cerca de 4% do PIB, em comparação com 3% em 2024, de acordo com a projeção mediana na pesquisa da Bloomberg com economistas.

Outro número amplamente observado no encontro deste ano será a meta anual de inflação, já que a China se aproxima de seu período mais longo de deflação desde a era de Mao Tsé-Tung. A maioria dos economistas espera que esse número seja reduzido para 2%, o que marcaria a primeira vez em mais de duas décadas que a meta seria diminuída abaixo de 3%.

Após os analistas na China serem orientados a evitar discutir termos sensíveis, como “deflação”, essa decisão sinalizaria que os líderes chineses estão se ajustando à realidade de preços baixos e poderia resultar em maiores esforços para aquecer a demanda.

Impacto do DeepSeek

O presidente chinês tem um delicado equilíbrio a manter ao fornecer a dose certa de estímulo para atingir a meta de crescimento, ao mesmo tempo em que garante que a ajuda vá para as partes da economia que mais precisam.

O sucesso do chatbot de IA DeepSeek está entre as recentes conquistas tecnológicas que podem garantir que o foco das autoridades permaneça em um impulso em direção à autossuficiência e a um modelo de crescimento centrado na manufatura de alta tecnologia, com o Morgan Stanley esperando que apenas um terço do estímulo seja direcionado ao consumo.

A IA começará a aumentar o potencial de crescimento da China até 2026, à medida que a adoção ganhar velocidade, de acordo com o Goldman Sachs. A tecnologia elevará a expansão anual em até 0,3 ponto percentual até 2030, três vezes sua estimativa antes do surgimento do DeepSeek, embora o país precise gerenciar cuidadosamente o ritmo de substituição da força de trabalho.

Os gastos das famílias têm permanecido persistentemente fracos, já que a recessão do mercado imobiliário da China afeta a confiança e as perspectivas de renda e emprego continuam fracas.

A contribuição do consumo para o crescimento do PIB caiu para menos de 45% no ano passado, o nível mais baixo desde 2006, excluindo o ano da pandemia de 2020.

Evitar nova queda desse patamar será crucial enquanto os líderes chineses tentam isolar a segunda maior economia do mundo de uma guerra comercial com seu principal rival.

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