A decisão do Washington Post de interromper os endossos presidenciais gerou polêmica e levou a uma onda de cancelamentos de assinaturas. (©afp.com / KAREN BLEIER)
Redator na Exame
Publicado em 29 de outubro de 2024 às 10h10.
Última atualização em 29 de outubro de 2024 às 13h20.
O Washington Post, um dos jornais mais influentes dos Estados Unidos, enfrentou críticas e a perda de mais de 200 mil assinantes digitais após anunciar que não apoiaria nenhum candidato na próxima eleição presidencial. A decisão, que impede o endosso à candidatura da atual vice-presidente Kamala Harris, foi defendida pelo proprietário do jornal, Jeff Bezos, em um editorial publicado na última segunda-feira, 28.
A medida faz parte de um esforço maior para fortalecer a percepção de independência do jornalismo praticado pelo Washington Post, segundo Bezos. Contudo, a decisão gerou reações polarizadas e acusações de que o jornal estaria se posicionando politicamente, com o receio de represálias em caso de uma vitória do candidato republicano, Donald Trump.
Logo após a divulgação da decisão, assinantes expressaram insatisfação nas redes sociais e no site do Washington Post. A perda de assinantes chegou a cerca de 8% da base total de 2,5 milhões de assinaturas digitais e impressas (200 mil assinaturas perdidas até a tarde de segunda-feira), segundo uma reportagem da National Public Radio (NPR).
Esse impacto levou a uma onda de discussões internas no jornal. David Shipley, editor de opinião do Post, declarou em uma reunião com funcionários que ele e o editor William Lewis haviam alertado Bezos sobre os riscos de não apoiar nenhum candidato tão perto da eleição. Shipley revelou também que teve uma longa conversa com Bezos para discutir o impacto negativo da medida, explicando que o não-endosso poderia enfraquecer a relação do jornal com seus leitores.
Em seu editorial, Bezos argumentou que a decisão de não apoiar candidatos presidenciais se baseia na tentativa de evitar “a percepção de parcialidade” no conteúdo do jornal. Ele afirmou que os endossos de candidatos acabam dando ao público a impressão de que a linha editorial está inclinada em favor de um partido ou de uma ideologia, prejudicando a credibilidade do jornal.
Para Bezos, essa é uma mudança necessária para reconstruir a confiança do público no jornalismo. O fundador da Amazon e proprietário do Washington Post acredita que o fim dos endossos presidenciais oferece uma oportunidade para o jornal se concentrar em reportagens factuais, sem inclinações partidárias aparentes, promovendo uma postura de maior transparência e independência.
Ele reconheceu que o momento da decisão foi infeliz e expressou que, em retrospecto, a medida poderia ter sido comunicada de maneira mais cuidadosa, especialmente em um contexto tão próximo das eleições. “Desejaria que tivéssemos feito essa mudança em um momento mais distante da eleição,” escreveu Bezos.
Outros jornais norte-americanos também estão repensando a prática de endossar candidatos. O Los Angeles Times, por exemplo, optou por não apoiar nenhum candidato pela primeira vez desde 2008, uma decisão que gerou descontentamento entre leitores e membros de sua própria equipe editorial. Após a decisão do Los Angeles Times, três membros do conselho editorial renunciaram, incluindo a editora Mariel Garza.
Os editores do Los Angeles Times justificaram a decisão afirmando que um endosso poderia aprofundar as divisões políticas nos EUA. O proprietário do jornal, Patrick Soon-Shiong, propôs uma análise comparativa das políticas dos candidatos, mas a sugestão foi rejeitada pela equipe editorial, que preferiu manter uma postura neutra.