Indústria brasileira (Arquivo/Agência Brasil)
Agência de notícias
Publicado em 12 de abril de 2025 às 16h03.
Em reportagem publicada neste sábado, o americano The Wall Street Journal usa o exemplo negativo do Brasil como um símbolo de como o protecionismo pode minar uma economia e sufocar a competitividade da indústria. O texto faz um paralelo entre as decisões econômicas do país com o que pretende o presidente americano Donald Trump.
“O Brasil oferece um vislumbre de um modelo econômico semelhante ao defendido por Donald Trump, que propôs impor as tarifas mais altas em décadas sobre quase todos os países”, afirma o texto.
O jornal usa o caso brasileiro para ilustrar os efeitos colaterais de tarifas de importação elevadas, controles cambiais e barreiras burocráticas. Embora o modelo tenha preservado empregos em alguns setores, o WSJ aponta que a estratégia encareceu produtos para os consumidores, desestimulou a inovação e contribuiu para a queda da produtividade da economia brasileira.
A reportagem ressalta que um iPhone montado no Brasil, por exemplo, custa quase o dobro do vendido nos Estados Unidos, enquanto uma caixa de chá inglês pode ultrapassar os US$ 50.
O texto lembra que, nos anos 1980, a indústria representava 36% do PIB brasileiro. Hoje, responde por apenas 14%. O encolhimento, aponta o WSJ, pode ser explicado pela política protecionista implementada nas décadas após a Segunda Guerra Mundial.
Ouvido pela reportagem, o ex-ministro da Fazenda, Maílson da Nóbrega, diz que havia uma ideia no pós-Guerra de que tarifas protecionistas fortaleceriam a indústria nacional e levariam ao crescimento sustentado - uma aposta que fracassou, ressalta ele.
Ao adotar políticas semelhantes, alertam os economistas, os Estados Unidos correriam o risco de repetir o modelo brasileiro — com perdas de eficiência, queda de produtividade e impacto negativo para os consumidores. O texto destaca que, com crescimento médio de pouco mais de 2% ao ano nas últimas duas décadas, o Brasil ficou distante de se tornar a potência econômica como esperado décadas atrás.
Apesar do paralelo entre Brasil e EUA, a reportagem ressalta que as empresas americanas, em geral, contam com melhor infraestrutura, menos burocracia e um sistema tributário mais simples. Mas avalia que a cópia do modelo brasileiro prejudicaria os lucros a longo prazo
Depois do mercado acionário desabar, Trump protagonizou alguns recuos, como uma trégua de 90 dias para aplicação de parte das tarifas e a isenção para produtos de tecnologia, determinada na sexta-feira.
A reportagem conclui que, embora o protecionismo tenha servido como escudo em momentos de crise, ele também alimentou distorções estruturais e contribuiu para o chamado “Custo Brasil” — expressão usada para descrever os entraves que encarecem e dificultam o ambiente de negócios no país.
“O Brasil se amparou no consumo doméstico durante crises econômicas externas — dos choques do petróleo nos anos 1970 à crise financeira de 2008-2009. Mas também cultivou uma cultura de acomodação e protecionismo em tempos de bonança, o que acabou encarecendo os produtos para o consumidor”, afirma o texto.