Drone da Força Aérea americana: desde 2004, um total de 337 ataques de drones norte-americanos no Paquistão já mataram entre 1.908 e 3.225 pessoas (AFP/USAF/James Lee Harper Jr.)
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2012 às 07h56.
Islamabad - Os gritos na televisão em comemoração pela reeleição do presidente dos EUA, Barack Obama, deram a Mohammad Rehman Khan uma dor de cabeça lancinante, conforme anos de dor e raiva vieram à tona.
O paquistanês, de 28 anos, acusa o presidente norte-americano de ter tirado dele o pai, três irmãos e um sobrinho, todos mortos em um ataque de uma aeronave não tripulada dos EUA, os chamados drones, um mês depois de Obama tomar posse para o primeiro mandato.
"A mesma pessoa que atacou a minha casa foi reeleita", disse Rehman à Reuters na capital paquistanesa, Islamabad, para onde ele fugiu depois do ataque a sua vila no Waziristão do Sul, uma das várias regiões tribais da etnia pashtun na fronteira com o Afeganistão.
"Desde ontem, a pressão no meu cérebro aumentou. Lembro-me de toda a dor novamente." Em sua campanha de reeleição, Obama não deu nenhuma indicação de que iria interromper ou alterar o programa de drones, que ele adotou em seu primeiro mandato para matar militantes da Al Qaeda e do Taliban no Paquistão e no Afeganistão, sem arriscar vidas norte-americanas.
Ataques aéreos são altamente impopulares entre muitos paquistaneses, que os consideram uma violação da soberania que causam inaceitáveis mortes de civis.
"Sempre que tem uma chance, Obama vai morder os muçulmanos como uma cobra. Olha quantas pessoas ele matou com ataques de drones", disse Haji Abdul Jabar, cujo filho de 23 anos também foi morto em um bombardeio deste tipo.
Analistas dizem que a raiva com o avião não tripulado pode ter ajudado o Taliban a recrutar militantes, o que complica os esforços para estabilizar a incontrolável região de fronteira entre Paquistão e Afeganistão. Isso também poderia atrapalhar o plano de Obama de retirar as tropas norte-americanas do Afeganistão em 2014.
Obama autorizou cerca de 300 ataques aéreos no Paquistão durante seus primeiros quatro anos de mandato, mais de seis vezes o número durante a administração de George W. Bush, de acordo com o instituto New America Foundation.
Desde 2004, um total de 337 ataques de drones norte-americanos no Paquistão já mataram entre 1.908 e 3.225 pessoas.
O instituto estima que cerca de 15 por cento dos mortos não eram militantes, embora esse percentual tenha diminuído drasticamente para cerca de 1 a 2 por cento este ano. O governo norte-americano diz que ataques aéreos são muito necessários e causam o mínimo de mortes de civis.
A obtenção de dados precisos sobre as vítimas e os efeitos dos drones é extremamente difícil nas perigosas, remotas e muitas vezes inacessíveis regiões tribais. O Taliban frequentemente isola os locais de ataques.