O líder do Partido Direito e Justiça (PiS), Jaroslaw Kaczynski, em Varsóvia, Polônia (Janek Skarzynski/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2015 às 16h18.
Varsóvia - A vitória dos conservadores populistas nas eleições legislativas da Polônia soma este país membro da Otan ao campo de países eurocéticos no interior da União Europeia (UE), reforçado pela crise migratória.
"A Polônia reforça o campo dos países eurocéticos, entre os quais está o Reino Unido, que tenta reformar a UE, flexibilizando seus laços internos", disse à AFP Marcin Zaborowski, do Centro de Análise da Política Europeia (CEPA).
O especialista lembrou que o Partido Direito e Justiça (PiS, oposição) de Jaroslaw Kaczynski, vencedor das eleições, nunca teve um discurso antieuropeu e que, inclusive, apoiou a adesão do país ao bloco em 2004.
Por outro lado, o PiS, membro da bancada de Conservadores e Reformistas no Parlamento Europeu, nunca escondeu seu apoio a uma "Europa das Nações" e suas críticas ao poder de Bruxelas.
O PiS obteve 232 dos 460 assentos no Parlamento polonês, segundo as últimas projeções, e com essa maioria absoluta poderá implementar sua política.
"Porá ênfase nos interesses nacionais, em detrimento dos interesses europeus. Quer uma união econômica, mais que uma união política", afirmou o cientista político Kazimierz Kik.
Soma-se, assim, ao grupo de forças que buscam reduzir o poder de Bruxelas, quer sejam de direita - como a Frente Nacional na França -, ou de esquerda", acrescentou.
O PiS - que derrotou os liberais eurocentristas da Aliança Cívica - tem a intenção declarada de tecer alianças regionais com outros países do antigo bloco comunista que formam o Grupo de Visegrád (Polônia, Hungria, Eslováquia e República Tcheca), com os quais compartilha a resistência à acolhida maciça de refugiados procedentes do Oriente Médio e da África.
"O partido de Kaczynski buscará alianças para reformar os tratados europeus e reforçar as possibilidades" de não participar em algumas políticas comunitárias, acrescentou Zaborowski. "Neste caso, o Reino Unido será seu parceiro preferencial, embora sua lista de exceções não seja a mesma que a de Londres".
Uma primeira aproximação aconteceu durante uma reunião entre o presidente polonês Andrzej Duda, do PiS, e o primeiro-ministro britânico, o conservador David Cameron, em 15 de setembro, em Londres.
"O encontro se deu em um bom ambiente, o âmbito de cooperação entre nós é muito amplo", declarou Duda após a reunião em que abordaram temas de migração, defesa e energia.
Negociações sobre o clima
"Embora David Cameron ainda não tenha telefonado para Jaroslaw Kaczynski a fim de parabenizá-lo por sua vitória, ele deve fazer isso logo", disse Zaborowski.
"Cameron quer deixar o Reino Unido no interior da UE e a Polônia pode ajudá-lo a conseguir concessões para convencer os britânicos a votarem "não" à sua saída da UE no referendo de 2017", acrescentou.
A Polônia espera, sobretudo, conseguir o apoio de Londres durante as negociações sobre o clima. O PiS considera que o carvão deve continuar sendo a principal fonte de energia do país. O partido fez grandes promessas e negociará duramente com a UE sua posição sobre a luta contra as mudanças climáticas.
O partido de Kaczynski, que apoiará Cameron em suas posturas anti-imigratórias, defenderá também os interesses de aproximadamente um milhão de poloneses que vivem no Reino Unido, e dos quase 700.000 que imigraram para a Alemanha.
O PiS, que governou nos anos 2005-2007, se distinguiu por suas opiniões abertamente germanófobas e russófobas e por suas tensões com Bruxelas sobre várias questões.
"Mas aprendeu a lição e não fará declarações polêmicas, nem defenderá uma ação eficaz nos bastidores para não se isolar como aconteceu naquela época", disse Eryk Mistewicz, especialista em marketing político.
"O partido utilizará a União Europeia segundo seus interesses, vai instrumentalizá-la", opinou Kik.