Barack Obama: ele foi primeiro presidente norte-americano em exercício a visitar o lugar onde a era nuclear começou (Carlos Barra/Reuters)
Da Redação
Publicado em 28 de maio de 2016 às 09h36.
Hiroshima - Os sobreviventes do primeiro ataque com bomba atômica estão acostumados a ouvir grandes promessas de livrar o mundo das armas nucleares. Elas porém não costumam vir diretamente do líder do país que atirou a bomba sobre eles.
Neste sábado, um dia depois da partida de Barack Obama a Hiroshima, o sentimento era de gratidão e até mesmo admiração, por ele ter se tornado o primeiro presidente norte-americano em exercício a visitar o lugar onde a era nuclear começou.
Mas havia também um reconhecimento de que a realidade de um mundo perigoso e instável pode superar o apelo de Obama a ter "a coragem de se livrar da lógica do medo" do armazenamento de armas nucleares.
"O mundo prestou atenção ao que aconteceu aqui, mesmo se apenas por um tempo, porque alguém tão importante (como Obama) veio a Hiroshima. Então talvez isso possa tornar as coisas um pouco melhores", disse Kimie Miyamoto, 89, uma sobrevivente da bomba.
"Mas você nunca saberá se isso realmente vai fazer a diferença, porque muita coisa depende do que outros países estão pensando também." Perguntada se a visita de Obama pode inspirar esses países a abandonar as armas nucleares, ela balançou a cabeça. "Eu não acho", disse, "porque há muitas (bombas) no mundo."
Muito depois da partida de Obama para Washington, as pessoas em Hiroshima ainda relutavam em deixar a visita para trás.
Noite adentro, uma fila no Parque Memorial da Paz se estendia do monumento que homenageia os 140 mil que morreram no bombardeio de 6 de agosto de 1945, até o museu que conta a história de alguns dos mortos, cerca de 200 metros adiante. As pessoas esperavam pacientemente, a espera de tirar foto da coroa que Obama deixou.
Pessoas ao redor de Hiroshima ainda comentavam sobre suas experiências ao assistir a visita de Obama, uma performance política cuidadosamente coreografada para fechar velhas feridas sem inflamar novas paixões.
"Não devemos deixar que a visita do presidente Obama seja apenas uma cerimônia", disse o jornal Mainichi, de esquerda, em um editorial sábado. "Ele estará no escritório apenas mais oito meses. Esperamos que o presidente use seu tempo restante de forma eficaz para tomar medidas concretas para deixar um legado político que irá pavimentar o caminho para um mundo sem armas nucleares."
Alguns ativistas antinucleares temem que o discurso de Hiroshima de Obama possa se revelar como seu discurso de 2009 em Praga, que ajudou a lhe garantir um Prêmio Nobel da Paz: após o burburinho morre, e volta-se aos negócios de costume.
"O mundo precisa de mais do que palavras", disse em um comunicado Derek Johnson, diretor executivo da Global Zero, um grupo antinuclear. "O presidente Obama deve tomar medidas urgentes para reduzir a ameaça de armas nucleares serem utilizadas novamente."
Fonte: Associated Press