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Violência na Síria deixou 520 mil deslocados em dois meses

Deslocamento no noroeste da Síria ocorreu após intensos conflitos entre tropas governamentais e grupos jihadistas e rebeldes

Síria: civis abandonaram suas casas e buscam refúgio em zonas relativamente protegidas perto da fronteira com a Turquia (Yamam Al Shaar/Reuters)

Síria: civis abandonaram suas casas e buscam refúgio em zonas relativamente protegidas perto da fronteira com a Turquia (Yamam Al Shaar/Reuters)

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AFP

Publicado em 4 de fevereiro de 2020 às 17h04.

Última atualização em 4 de fevereiro de 2020 às 17h39.

Os combates nos últimos dois meses no noroeste da Síria entre tropas governamentais e grupos jihadistas e rebeldes deixaram quase 520.000 deslocados, anunciou nesta terça-feira (4) a ONU, em uma das maiores ondas de êxodo no país em guerra.

Desde dezembro, a província de Idlib e seus arredores se tornaram alvos, praticamente diários, de ataques e bombardeios aéreos do regime de Bashar al-Assad - apoiado pela aviação da Rússia -, que resultaram na reconquista de dezenas de cidades e localidades.

A violência provocou um deslocamento em massa neste último grande reduto dos jihadistas e rebeldes. Os civis abandonaram suas casas para buscar refúgio em zonas relativamente protegidas mais ao norte, perto da fronteira com a Turquia.

"Desde 1º de dezembro, quase 520.000 pessoas foram deslocadas (...), a grande maioria - 80% - mulheres e crianças", afirmou à AFP David Swanson, porta-voz do Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

O êxodo das últimas semanas é um dos mais importantes desde o início da guerra na Síria, em 2011 que forçou o exílio de mais da metade da população, que antes do conflito era de 20 milhões de habitantes.

ONU pede "fim das hostilidades"

O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu nesta terça-feira o "fim das hostilidades" entre Turquia e Síria na região de Idlib, alertando para uma "mudança na natureza do conflito extremamente preocupante".

É preciso "um fim das hostilidades antes de uma escalada que leve a uma situação totalmente fora de controle", declarou Guterres.

"Não acreditamos em solução militar na Síria. Dissemos mais de uma vez que a solução é política", afirmou.

Já o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, disse em um comunicado que os ataques com morteiros contra as posições turcas em Idlib eram "uma grave escalada" e que as autoridades dos EUA "apoiam plenamente as ações em defesa própria da Turquia, em resposta".

"Sofrimentos injustificáveis"

"A violência quase cotidiana provocou sofrimentos injustificáveis para centenas de milhares de pessoas que vivem na região", declarou Swanson.

A maioria dos novos deslocados viaja para áreas urbanas e acampamentos de deslocados ao noroeste de Idlib" e outros para os territórios do norte da província de Aleppo, perto da fronteira turca.

Mais da metade da província de Idlib e algumas zonas das províncias vizinhas de Aleppo, Hama e Latakia estão sob controle do grupo jihadista Hayat Tahrir al Sham (HTS, ex-braço sírio da Al-Qaeda), que tolera a presença de alguns grupos rebeldes.

Metade dos quase três milhões de habitantes da região de Idlib já são deslocados. Eles fugiram para outros redutos rebeldes recuperados nos últimos anos pelo regime.

Na sequência da ofensiva do regime, pelo menos 53 estabelecimentos médicos foram fechados na região em janeiro, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

A vizinha Turquia, que apoia alguns rebeldes e envia tropas no noroeste da Síria, vê com desgosto o avanço do regime, e o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que não permitirá que o regime "ganhe terreno" em Idlib.

Entre abril e agosto de 2019, a região de Idlib foi alvo de uma forte ofensiva do regime, que deixou cerca de mil civis mortos, segundo o OSDH.

Desde meados de dezembro, a ofensiva custou a vida de 294 vcivis, entre eles 83 crianças, segundo o OSDH.

O governo sírio, que controla mais 70% do território, está decidido a reconquistar todo o país.

O conflito na Síria, iniciado em 2011, deixou mais de 380.000 mortos e milhões de deslocados.

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