Jovem levanta uma bandeira palestina: o Egito é informalmente o principal fornecedor de alimentos, combustível e outros produtos para Gaza, que está submetida há seis anos a um ferrenho bloqueio israelense por terra, mar e ar (Ahmad Gharabli/AFP)
Da Redação
Publicado em 19 de agosto de 2013 às 17h54.
Khan Yunes (Faixa de Gaza) - A situação de violência no Egito faz estender sobre Gaza o pessimismo pelo temor de que tenha um efeito negativo sobre as esperanças do fim da divisão na Palestina.
Mohammed Jarghun, ex-policial de 39 anos residente em Khan Yunes, ao sul de Gaza, passou a última semana, assim como muitos de seus vizinhos, colado na televisão acompanhando os eventos no Egito, onde mais de 800 pessoas morreram após a retirada forçada na última quarta-feira dos acampamentos dos seguidores da Irmandade Muçulmana.
"Que Alá proteja o Egito e os egípcios", disse à Agência Efe o policial, que abandonou seu trabalho após a tomada do poder em Gaza pelo Hamas em junho de 2007.
Gaza sempre esteve muito unida ao Egito (que a governou de 1951 até 1976) e nos últimos seis anos o Cairo incentivou e mediou tentativas de reconciliação entre as duas principais facções palestinas, o Fatah, que governa a Cisjordânia e é liderado pelo presidente Mahmoud Abbas, e o Hamas, que controla a Faixa.
O Egito também intermediou os últimos acordos de trégua alcançados entre o Hamas e Israel, que não dialogam entre si diretamente.
Além disso, o Egito é informalmente o principal fornecedor de alimentos, combustível e outros produtos para Gaza, que está submetida há seis anos a um ferrenho bloqueio israelense por terra, mar e ar. Os palestinos se arriscam através de centenas de túneis clandestinos para atravessar a fronteira de Rafah e chegar à Península do Sinai.
"Israel fecha Gaza, o Egito destrói mais de 80% dos túneis e o Hamas mantém seu controle na Faixa. A Autoridade Palestina governa a Cisjordânia e o Egito está se afundando com seus problemas internos: de verdade, acho que não há esperança para o fim do nosso sofrimento", afirmou Jarghun.
Pelo menos 800 pessoas morreram e milhares ficaram feridas nos últimos cinco dias no Egito, a maioria seguidores da Irmandade Muçulmana que protestavam em acampamentos contra a deposição do presidente Mohammed Mursi.
Desde que a violenta retirada dos manifestantes na quarta-feira deu início aos distúrbios, que continuam em todo o país, as ruas de Gaza se esvaziaram e o comércio em seus principais mercados foi reduzido.
"Os distúrbios no Egito não afetaram somente a vida na Faixa de Gaza, mas também as possibilidades de se acabar com a divisão interna entre Hamas e Fatah, por isso o povo aqui não vê nenhuma esperança de que suas vidas vão melhorar", garantiu à Efe Hosni Habib, um analista político de Gaza.
Habib acredita que, mesmo que o Exército egípcio e o novo governo consigam devolver a estabilidade ao país e consolidem a expulsão completa da Irmandade Muçulmana, aliada do Hamas, "será muito difícil que a situação em Gaza melhore".
"É preciso esperar para ver como o Egito lidará com o Hamas no futuro", disse o analista, que afirmou que o movimento islamita palestino se sentiu mais forte do que nunca durante os últimos seis anos, nos quais fracassaram todas as tentativas de reconciliação na Palestina.
A ascensão ao poder dos islamitas no Cairo trouxe grandes esperanças em Gaza de que a situação na Faixa iria melhorar e que a fronteira sul seria totalmente aberta.
Habib lembrou que, "além de ser parte do movimento da Irmandade Muçulmana, o Hamas é um movimento palestino, que controla a Faixa de Gaza, ainda tem poder e é considerado um grupo militante que consegue apoio popular em suas chamadas para destruir Israel", algo que não mudará com a queda de seus parceiros egípcios.
As relações com o novo governo egípcio não parecem muito promissoras, depois que este último acusou o Hamas de enviar secretamente milicianos para o Sinai e outras áreas do país para realizar ataques que causaram a morte de militares e policiais egípcios nas últimas semanas.
Enquanto continua a crise no país vizinho, os esforços de reconciliação entre as principais facções palestinas seguem sem avanços e os dirigentes do Fatah e do Hamas trocam acusações sobre quem bloqueia as tentativas de solução e insiste em manter a divisão política.
Uma delegação do Fatah que visitou recentemente a Faixa de Gaza, pediu que o Hamas permita imediatamente a realização de eleições gerais, que deveriam ter acontecido há mais de dois anos.
"As eleições gerais são um bom passo para se acabar com a divisão que vem desde 2007", disse Amin Maqboul, um alto cargo do Fatah que se reuniu com representantes de diversas facções em Gaza e afirmou que apresentará em breve ao Hamas uma proposta para a realização de eleições.
O movimento islamita, até agora, rejeitou comparecer às urnas até que se resolvam vários assuntos, entre eles a exigência de uma reforma da Organização de Libertação Palestina (OLP), a estrutura dos serviços de segurança, a reconciliação social e a formação de um governo de unidade transitória. EFE