Os sindicatos exigem de Morales um aumento salarial geral superior aos 8% (Peter Macdiarmid/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 9 de maio de 2012 às 21h01.
La Paz - O primeiro dia de uma greve sindical de 72 horas terminou nesta quarta-feira na Bolívia com violentos distúrbios perto do Palácio de governo em La Paz, enquanto os partidários do presidente Evo Morales marchavam em outra cidade para apoiá-lo, na sétima semana de conflitos sociais sem sinais de solução.
As maiores desordens foram registradas em La Paz, onde milhares de manifestantes, principalmente universitários e médicos, tentaram entrar à força na Praça Murillo, onde estão as sedes do Executivo e do Legislativo.
Alguns manifestantes lançaram pequenos cartuchos de dinamite contra as barricadas de agentes antidistúrbios, que responderam com gás lacrimogêneo.
Segundo a imprensa local, há universitários feridos e desmaiados pelas cargas de gás e um fotógrafo saiu gravemente ferido na perna pela explosão de uma granada lacrimogênea.
Por outro lado, o vice-ministro de Interior da Bolívia, Jorge Pérez, disse que dois policiais foram atingidos por estilhaços dos pequenos explosivos.
Apesar dos incidentes violentos e dos bloqueios de ruas em várias cidades, a greve geral convocada pela Central Operária Boliviana (COB), maior organização sindical do país, teve baixa adesão nos centros de trabalho.
A greve foi seguida por estudantes e médicos e trabalhadores da saúde pública, que estão há sete semanas parados contra um decreto de Morales que aumenta de seis para oito horas sua jornada de trabalho, mas não afetou a maioria dos setores produtivos.
Foi mais contundente, segundo o governo, a greve de transportes que paralisou na segunda-feira e na terça-feira a capital La Paz e a vizinha cidade de El Alto, também com incidentes violentos.
Os sindicatos exigem de Morales um aumento salarial geral superior aos 8% que decretou no último dia 1º de maio, quando também nacionalizou uma empresa de capital espanhol, e lhe pedem que leve em conta o preço da cesta básica, que calculam em US$ 1.192 mensais, equivalente a oito salários mínimos.
O salário médio da Bolívia, um dos menores da América, subirá com esse decreto de US$ 546 para US$ 590 por mês, enquanto o mínimo aumentará 22 %, até US$ 145.
Os choques desta quarta-feira em La Paz ocorreram pouco depois que o secretário de Estado de Cooperação Internacional da Espanha para região ibero-americana, Jesús Gracia, deixou a Praça Murillo após se encontrar ali com o chanceler boliviano, David Choquehuanca, e antes que retornasse para se reunir com Morales.
Gracia chegou nesta madrugada a La Paz para revisar a cooperação e os investimentos espanhóis na Bolívia, em uma visita prevista antes que Morales expropriasse uma filial da Rede Elétrica da Espanha (REE), alegando uma suposta falta de investimentos que a empresa nega.
Enquanto isso, milhares de partidários de Morales, liderados por produtores de folha de coca, matéria-prima da cocaína, principalmente do reduto político do líder em Chapare, marcharam na cidade de Cochabamba para respaldá-lo frente à onda de conflitos que lhe acossam desde março.
Junto aos cocaleiros, marcharam camponeses ligados a Morales e funcionários estatais, com cartazes contra os indígenas que rejeitam uma estrada em um parque natural na Amazônia, e contra o setor de saúde pública.
A cocaleira Leonilda Zurita, líder em Cochabamba do partido de Morales, o Movimento ao Socialismo (MAS), disse à imprensa que esses manifestantes querem apenas ''brigar com a cidadania''.
A polícia de Cochabamba havia expressado seu temor pela possibilidade de os governistas se chocarem com centenas de universitários mobilizados desde segunda-feira contra o governo, como já ocorreu antes, mas não houve confrontos violentos nessa cidade.
Em Potosí, estudantes de medicina detonaram cargas de dinamite na porta principal da sede do governo do departamento e destroçaram vidros e balcões do edifício.
Já em Santa Cruz um grupo de médicos bloqueou a entrada do aeroporto internacional de Viru Viru, o principal do país, e fechou as estradas que ligam o país à Argentina.
O líder anunciou na semana passada a suspensão do aumento da jornada de trabalho, mas não convenceu os setores mobilizados, que desconfiam de sua palavra.