Forças ucranianas: segundo Kiev, ao menos 15 civis e 12 militares morreram nas últimas 24h no leste do país (Alexei Chernyshev/Reuters)
Da Redação
Publicado em 13 de fevereiro de 2015 às 18h38.
A violência imperava nesta quinta-feira no leste separatista pró-russo da Ucrânia, apesar dos acordos de paz assinados na véspera em Minsk e das ameaças ocidentais de mais sanções contra a Rússia se o conflito não terminar.
As autoridades rebeldes indicaram que os bombardeios contra seu reduto de Lugansk, na madrugada desta sexta-feira, provocaram a morte de três civis.
Segundo Kiev, pelo menos 15 civis e 12 militares ucranianos morreram nas últimas 24 horas no leste da Ucrânia.
Estas são as primeiras vítimas desde que os rebeldes e o governo de Kiev acordaram na quinta-feira um plano de paz em Minsk, na presença dos líderes da própria Ucrânia e de Rússia, França e Alemanha.
O plano prevê um cessar-fogo a partir de domingo à meia-noite, e a posterior retirada de armas pesadas por parte de ambos os grupos.
O frágil acordo - a chanceler alemã Angela Merkel disse que não havia ilusão a respeito - pode colocar fim a 10 meses de conflito no leste do país, que deixou 5.480 mortos e provocou tensões entre Rússia e Ocidente inéditas desde o fim da Guerra Fria.
Kiev e os países ocidentais acusam a Rússia de encorajar a subversão dos rebeldes do leste, fornecendo a eles armas e tropas. Moscou nega estas acusações.
Na noite de quinta-feira, após a cúpula europeia de Bruxelas, Merkel advertiu que a União Europeia pode adotar mais sanções contra a Rússia se o cessar-fogo não for respeitado na Ucrânia.
"Se (a trégua) funcionar, estaremos muito felizes com o acordo. Mas se houver dificuldades, não descartamos outras sanções", disse a chanceler.
Esta também é a posição do presidente francês, François Hollande, que participou das 17 horas de negociações em Minsk junto a seus colegas russo, Vladimir Putin, e ucraniano, Petro Poroshenko.
Se o cessar-fogo não for respeitado, "voltaremos ao processo (...) de sanções, que se somarão às já aplicadas", disse.
No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov, afirmou nesta sexta-feira que a Rússia queria estabelecer um cessar-fogo imediato e não esperar até domingo, dia 15, data escolhida finalmente sob pressão dos representantes dos separatistas em Minsk.
Combates na cidade chave
No leste da Ucrânia se travaram combates em toda a linha de frente e drones (aviões não tripulados) dos rebeldes "sobrevoavam a zona do conflito", indicou nesta sexta-feira o exército ucraniano.
No campo de batalha, fontes militares ucranianas indicaram nesta sexta-feira que eram travados combates ao redor da cidade estratégica de Debaltseve, onde os separatistas pró-russos dizem ter cercado milhares de soldados ucranianos, algo que Kiev nega.
A cidade fica no meio do caminho entre os redutos rebeldes de Donetsk e Lugansk no leste do país. Vários analistas opinam que os separatistas vão tentar conquistá-la antes da entrada em vigor do novo cessar-fogo.
Na quinta-feira, Putin havia convocado os soldados ucranianos cercados em Debaltseve a depor suas armas para que o cessar-fogo acordado em Minsk possa entrar em vigor no domingo.
"A Ucrânia espera um aumento e toma medidas para rejeitar os disparos", declarou o vice-ministro da Defesa, Petro Makhed, que assegurou que os rebeldes tinham tentado tomar Debaltseve e Mariupol na costa do mar de Azov.
Acordos insuficientes
A maioria dos analistas acredita que o novo acordo de paz é insuficiente, já que não prevê mecanismos concretos para resolver questões litigiosas.
Não se aborda, por exemplo, o controle da fronteira com a Rússia, da qual 400 km estão nas mãos dos rebeldes e pela qual, segundo Kiev e o Ocidente, a Rússia faz chegar armas e tropas.
Um controle ucraniano? "Não acredito. Nós ficaremos aqui", afirmou nesta sexta-feira um responsável separatista de Uspenka, um dos lugares que fazem fronteira com a Rússia.
Os acordos "têm toda a possibilidades de fracassar nos próximos meses, e pode-se esperar um aumento da violência e um endurecimento das sanções", afirma o Grupo Eurásia em uma nota de análise.
"O acordo está cheio de buracos e planta muitas dúvidas sobre sua aplicação", afirma Eugene Rumes, diretos do programa sobre a Rússia para o grupo Carnegie Endowment for International Peace.
O chefe da diplomacia ucraniana, Pavlo Kimkin, reconheceu nesta sexta-feira diante dos deputados que nem se quer têm data para a retirada das forças estrangeiras do território ucraniano.