O vídeo chegou aos escritórios do canal de TV em um pacote no qual havia um dispositivo de memória com 25 minutos de imagens e uma carta assinada por Merah (Pascal Pavani/AFP)
Da Redação
Publicado em 28 de março de 2012 às 11h22.
Paris - A notícia da existência de um vídeo com as imagens dos massacres de Mohammed Merah gerou polêmica nesta terça-feira na França sobre o limite ao direito à informação e o respeito às vítimas.
Horas depois de o presidente francês, Nicolas Sarkozy, pedir para que o vídeo não fosse exibido o canal catariano 'Al Jazeera' confirmou que não vai divulgá-lo.
Em nota, a emissora declarou que não divulgará o vídeo em seu poder com imagens dos ataques cometidos por Merah em Toulouse e Montauban (sul), com saldo de sete mortos, porque o mesmo não traz 'nenhuma informação que já não seja de domínio público'.
'Peço solenemente aos responsáveis pelas emissoras que tenham essas imagens em seu poder que não as divulguem sob nenhum pretexto em respeito às vítimas e à República', afirmou Sarkozy, quem acrescentou que as autoridades francesas impedirão a distribuição aos canais que, apesar de sua reivindicação, as façam circular.
Merah, o jovem francês de origem argelina que assassinou sete pessoas em três ataques diferentes que comoveram o país, aparentemente não mostra o rosto na gravação, afirmou 'Al Jazeera'.
A emissora explicou que a difusão das imagens não cumpriria com as normas de ética profissional e por essa razão não fará a exibição, em uma decisão anunciada em Paris, mas tomada no Catar, país onde fica a sede da empresa.
O responsável pela 'Al Jazeera' na capital francesa, Zied Tarrouche, detalhou a Agência Efe que foram levados em conta os critérios de 'deontologia' (ciência dos deveres).
A organização Repórteres sem Fronteiras (RSF) considerou que a decisão de emitir ou não o vídeo dos massacres do assassino confesso Mohammed Merah é uma questão ética que cabe a cada redação.
O vídeo 'não fornece nenhuma informação suplementar' ao que já se sabe sobre os massacres de Toulouse e Montauban e, portanto, divulgá-lo seria 'cair no sensacionalismo', assinalou a Efe o diretor de investigação da RSF, Gilles Lordet, perguntado sobre a decisão da rede catariana.
Na mesma linha, também se pronunciaram familiares das sete pessoas assassinadas pelo jovem francês de origem argelina, quem antes de ser morto pela elite da Polícia francesa na quinta-feira justificou essas ações em nome da rede terrorista Al Qaeda.
O vídeo chegou aos escritórios do canal de TV em um pacote no qual havia um dispositivo de memória com 25 minutos de imagens e uma carta assinada por Merah.
As imagens - editadas e com áudio áudios de cantos de guerra - permitiam ouvir os gritos das vítimas e a voz do próprio assassino, assim como os disparos, contou um correspondente da 'Al Jazeera'.
Citada pela emissora francesa 'BFM TV', a Polícia garante que Merah não pode ter enviado o pacote porque o mesmo tinha carimbo de quarta-feira passada do escritório dos correios da localidade de Castelnau d'Estrétefonds, situada a 20 quilômetros de Toulouse, e o jovem era mantido sitiado em seu apartamento pela Polícia desde um dia antes. Isso significa que o assassino confesso dos massacres tinha um cúmplice.
Em plena campanha eleitoral, as notícias sobre Merah e seus ataques voltaram a ser o assunto do dia do candidato conservador à reeleição, o presidente Sarkozy. Ele aproveitou a ocasião para anunciar que impedirá a entrada na França de pessoas que atacam os valores essenciais do país.
O governo vai também acelerar os processos de expulsão de tais pessoas e precisou: 'os que fizerem declarações infamantes contra a França ou contra os valores da República não estarão autorizados a entrar em nosso território'.
'A França não tem vocação de acolher os que profanam seus valores fundamentais', sentenciou o presidente candidato à reeleição.