O presidente do Egito, Mohamed Mursi: os juízes deste colégio já tinham demonstrado rejeição às decisões de Mursi (Khaled Desouki/AFP)
Da Redação
Publicado em 3 de dezembro de 2012 às 12h19.
Cairo - O vice-presidente egípcio, Mahmoud Meki, reconheceu que chegou a ficar preocupado com a ata aprovada para blindar os poderes do líder do país, Mohammed Mursi, que, por sua vez, argumentou que só queria "afastar os juízes da política".
Em uma entrevista à televisão estatal egípcia transmitida na noite de ontem, Meki assegurou que Mursi se surpreendeu com a rejeição à ata constitucional emitida no último dia 22 de novembro por parte dos juízes egípcios.
"Mursi se surpreendeu que as frases da ata constitucional fossem interpretadas de uma maneira horrorosa e não imaginava que os juízes iam considerá-las como uma agressão contra eles", apontou Meki.
O vice-presidente, um dos magistrados que se destacou pela defesa da independência judicial frente ao regime de Hosni Mubarak, reconheceu que ele mesmo estava preocupado com a ata constitucional, a qual estabelece que as decisões presidenciais são definitivas e inapeláveis perante a justiça até uma nova Constituição entrar em vigor.
No entanto, Meki explicou que Mursi se comprometeu a não abusar dos poderes que a ata lhe confere e assegurou que o objetivo dessa resolução era "afastar os juízes da política e evitar que uma fragilização das instituições do Estado".
As declarações de Meki vieram à tona depois que o Colégio de Juízes, a principal associação da magistratura egípcia, anunciasse ontem que não supervisionaria o referendo constitucional previsto para o próximo dia 15 de dezembro.
Os juízes deste colégio já tinham demonstrado rejeição às decisões de Mursi, incluindo a de blindar a assembleia encarregada de redigir a Constituição perante a justiça, e entraram em greve - aderida também pelos tribunais de Cassação e Apelações - para exigir uma retificação do presidente.
Além disso, o Tribunal Constitucional egípcio decidiu ontem suspender suas sessões até poderem trabalhar "sem pressões", depois que os protestos em torno da corte impedissem os magistrados de se pronunciar sobre a validade da Assembleia Constituinte.