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Vice-presidente egípcio chama Irmandade Muçulmana para o diálogo

Principal entidade de oposição ao governo estaria hesitante em participar das negociações; vice confirmou que conversa com os líderes das manifestações no Cairo

Omar Suleiman, vice-presidente do Egito: conversas com a oposição (Cherie A. Thurlby/Wikimedia Commons)

Omar Suleiman, vice-presidente do Egito: conversas com a oposição (Cherie A. Thurlby/Wikimedia Commons)

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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2012 às 13h58.

Cairo - O chamado à demissão imediata do presidente Hosni Mubarak é um "apelo ao caos", declarou nesta quinta-feira o vice-presidente egípcio Omar Suleiman, ao convocar o país ao diálogo, na véspera de novas manifestações.

Os protestos previstos para esta sexta-feira foram convocados como parte do "Dia da Despedida", em alusão à desejada renúncia do presidente.

A Irmandade Muçulmana, principal força da oposição e apenas tolerada pelo governo, foi convidada a participar de conversações entre o poder e a oposição.

"A Irmandade Muçulmana foi contatada e convidada ao diálogo. Mas eles estão hesitantes", disse Suleiman durante uma entrevista à televisão estatal, no 10º dia de uma onda de contestação sem precedentes.

Confrontos entre partidários e opositores do presidente Mubarak fizeram, desde quarta-feira, na praça Tahrir, no centro do Cairo, oito mortos, segundo novos números divulgados pelo ministério egípcio da Saúde, citado pela agência oficial Mena.

Suleiman precisou, no entanto, que representantes dos jovens manifestantes da praça Tahrir haviam comparecido a uma primeira sessão de diálogo na manhã desta quinta-feira.

Segundo ele, todos os partidos aceitaram participar, exceto o Wafd (liberal) e o Tagammou (esquerda), da oposição legal, mas que não têm peso maior.

"Acho, no entanto, que nos encontraremos muito em breve", afirmou Suleiman, acrescentando que os "independentes" e "personalidades" também tomaram parte do diálogo, sem dar mais detalhes.

A confraria islamita anunciou que rejeitava o fato de Hosni Mubarak permanecer na chefia do Estado até o final de seu mandato, em setembro, apesar de o presidente ter afirmado que não se apresentaria a um sexto mandato.

Os islâmicos são o maior e mais organizado grupo no Egito, mas foram banidos como partido político, e seus seguidores concorrem nas eleições como independentes.

Eles são frequentemente presos por conta de suas atividades políticas, e seu envolvimento em qualquer tipo de diálogo com o governo representaria uma enorme mudança na política do país.

A Irmandade Muçulmana, fundada em 1928, chegou a obter 88 cadeiras nas eleições legislativas de 2005. Em 2010, perdeu sua representação parlamentar, depois de retirar-se das eleições entre o primeiro e segundo turno, alegando fraude.

Suleiman e o primeiro-ministro Ahmad Chafic haviam anunciado um início de diálogo na manhã desta quinta-feira, mas a principal coalizão opositora rejeitou as negociações.

Mais cedo nesta quinta-feira, o vice-presidente anunciou, em nota lida pela televisão, que o filho de Mubarak não se apresentaria às eleições de setembro no Egito, em mais uma tentativa de acalmar a oposição que teme a ascensão de Gamal ao poder.

Mohammed Aboul Ghar, um porta-voz da Coalização Nacional pela Mudança, que se constituiu em torno de Mohamed ElBaradei e conta entre seus membros a Irmandade Muçulmana e o Movimento Kefaya (Basta), também frisou a rejeição a qualquer tipo de diálogo, antes da partida do presidente Hosni Mubarak.

"Nossa decisão é clara: nenhuma negociação com o governo antes da saída de Mubarak. Depois disto, estaremos prontos a dialogar com Suleiman", informou ele à AFP.

Segundo o vice-presidente egípcio, a violência entre manifestantes pró e contra o presidente Mubarak são resultado "de um complô", fomentado no Egito ou até mesmo no exterior.

"Analisaremos estes atos (de violência) diante do fato de que são um complô", disse Suleiman, que foi nomeado para o cargo no sábado passado.

O vice-presidente também afirmou que a violência pode ter sido estimulada por algumas "agendas estrangeiras, certos partidos ou homens de negócios".

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