Venezuelanos: População deixa o país por causa da crise e acaba criando demandas de serviços para os que ficam (Luisa Gonzalez/Reuters)
Estadão Conteúdo
Publicado em 31 de julho de 2019 às 21h31.
As quatro milhões de pessoas que deixaram a Venezuela para fugir da fome e das más condições sanitárias deixaram toda uma vida para trás: casas, bens e até parentes. Agora, esses vínculos rompidos tornaram-se uma oportunidade de negócio. Tem aumentado no país o número de profissionais destinados a cuidar de idosos, residências e bens dos que estão em outros países.
Segundo a empresária Silvia Fuenmayor, o êxodo venezuelano levou à criação de diversas ideias para ajudar as pessoas que vivem no exterior e fomentar uma pequena e incipiente indústria de serviços no país.
Psicóloga de formação, Silvia se juntou à amiga Amelí Mata para abandonar os empregos no setor de educação, onde os salários eram devorados pela inflação, para montar um negócio de cuidadores de bens e idosos.
No início, o foco da dupla era entregar presentes enviados por venezuelanos emigrados em datas como aniversário e Natal. Com o tempo, a variedade de serviços exigidas pela clientela aumentou.
A "carteira de serviços" da dupla inclui agora o pagamento de impostos territoriais de apartamentos vazios, pequenos reparos e vendas mediante comissão de móveis e eletrodomésticos deixados para trás.
Um dos "produtos" oferecidos pela dupla, com grande apelo diante da clientela, consiste em frequentar as casas vazias, deixando as luzes acesas e música tocando por um tempo. O objetivo é, ao fingir que o imóvel estar ocupado, afugentar possíveis ladrões.
"Em alguns casos, nos certificamos que tudo está funcionando, como o fornecimento de água e energia", explica Silvia.
Segundo ela, o pacote básico de manutenção de um imóvel sai por cerca de US$ 35. "Se um dia essa pessoas voltarem, suas casas estarão em perfeito estado", argumenta Sílvia.
Amelí acrescenta que da dificuldade imposta pela crise nasceram boas ideias. "Não se trata de querer roubar ninguém, mas ajudar e ao mesmo tempo criar um sustento", diz.No pacote de US$ 35 estão incluídas uma visita de manutenção a cada 15 dias.
Outra consequência do êxodo em massa de venezuelanos para o exterior é o número de idosos que ficaram para trás. Os mais novos da família emigram para conseguir dinheiro e os mais velhos e doentes passam a precisar de cuidados e companhia que antes eram feitos pelos parentes.
A pediatra Evir Sifontes tem uma pequena empresa especializada no atendimento desses idosos. Se o aposentado precisa de um remédio, seu parente no exterior contacta a médica, que busca o medicamento e leva o ancião até a farmácia para comprá-lo.
A cuidadora também acompanha os clientes idosos a consultas médicas e ao banco para recolher o pagamento. Ela diz que o trabalho é voluntário e não cobra pelo serviço.
Na Venezuela, os idosos são uma das faixas da população em maior situação de risco. O chavismo frequentemente atrasa as aposentadorias e há relatos no aumento de suicídios entre anciãos que não têm condições de se manter sem o auxílio da família.