Nicolás Maduro: presidente venezuelano quer tomar mais da metade da Guiana (Marcelo Garcia/AFP)
Repórter de macroeconomia
Publicado em 27 de dezembro de 2023 às 06h08.
Última atualização em 27 de dezembro de 2023 às 09h10.
A consultoria Eurasia fez uma análise detalhada sobre o que espera para o futuro da política e da economia na América Latina em 2024. A região deve seguir com alto nível de insatisfação popular contra os governos, de modo geral, mas mesmo assim alguns presidentes, como Lula no Brasil e López Obrador, no México, devem ter um ano positivo, apesar de alguns entraves pelo caminho.
A Eurasia vê mais dificuldades no caminho de Chile, Colômbia e Venezuela. O presidente Nicolás Maduro deve manter a retórica contra a Guiana, mas sem tomar medidas militares concretas, prevê a consultoria. Veja abaixo mais detalhes das previsões do grupo para o ano que vem.
Em 2024, a Venezuela terá eleições presidenciais pela primeira vez desde 2019, mas em condições ainda incertas. Tanto que a data do pleito em si ainda não foi marcada: a expectativa é que fique mais para o fim do ano.
Outro ponto nebuloso é o quanto a oposição terá espaço de fato para concorrer. "É altamente improvável que Nicolás Maduro permita que Maria Corina Machado [principal nome da oposição hoje] dispute a eleição, e será preciso buscar alternativas. Mas se a oposição se mantiver unida, Maduro buscará outros meios para minar a candidatura, já que ele não pode se arriscar em uma eleição competitiva que certamente perderá", avalia a Eurasia.
Já o plano de se apossar de mais de metade da Guiana deve ficar na intenção, prevê a Eurasia. "Embora a retórica bélica de Maduro vá continuar, é improvável que ele busque uma invasão completa, dado o custo econômico e político substancial", diz a consultoria.
No Brasil, o presidente Lula terá desafios como tensões envolvendo a política monetária e alguma dificuldade para cumprir metas fiscais, espera a Eurasia. O temor é que Lula decida ser "pouco tolerante" com cortes de gastos para compensar eventual queda da arrecadação no ano que vem.
Ao mesmo tempo, a consultoria destaca que Lula segue com aprovação acima dos 50%, em parte por causa da queda no preço dos alimentos.
"Apesar de o governo poder se enfraquecer no começo de 2024, não será algo sério o bastante para causar uma mudança de peso no curso determinado pela equipe econômica. Nesse meio tempo, reformas ambientais e de tributos vão avançar", projeta.
A Eurasia lembra que muitos países da região subiram as taxas de juros de forma rápida após a pandemia, para conter a alta da inflação, e que isso deu resultado na maioria dos casos.
Agora, há espaço para seguir com as quedas de juros, de forma antecipada a outras partes do mundo onde esse processo começou depois, o que pode trazer vantagens para a região.
O presidente Gabriel Boric, que chega na segunda metade do mandato de quatro anos, deve ter dificuldades para avançar com reformas. Sua popularidade termina 2023 abaixo dos 30%. A tentativa de aprovar uma nova Constituição foi rejeitada pela população em dezembro.
Agora, ele tentará avançar com reformas nas aposentadorias e nos impostos, mas as mudanças deverão ser diluídas, para tentar convencer a oposição, que tem vantagem no Congresso, a aceitar as propostas. O Chile terá eleições locais em outubro, o que deve travar ainda mais o debate sobre propostas.
Gustavo Petro, presidente da Colômbia, vive situação parecida com a de Boric: baixa aprovação popular, de 26% em dezembro, e dificuldade para aprovar medidas.
Suas reformas nas aposentadorias e na saúde pública, que pretendem ampliar o papel do estado, também devem sair enfraquecidas do Congresso. Para complicar as coisas, Petro também terá pressão para cortar gastos e se manter dentro das metas fiscais. Com isso, há chance de que ele apresente algum tipo de reforma tributária e busque outras formas de ampliar receitas, projeta a Eurasia.
O México terá eleições presidenciais em 2 de junho, e Claudia Sheinbaum, ex-prefeita da Cidade do México e candidata do atual presidente, Lopez Obrador, é favorita para vencer, aponta a Eurasia. Sua principal competidora é Xochitl Galvez.
Apesar do favoritismo de Sheinbaum, há dúvidas se o Morena, partido do governo, conseguirá obter ampla maioria no Congresso, necessária para aprovar reformas de peso. Houve mudanças em regras eleitorais que favoreciam o partido, e muitos candidatos deixaram a legenda nos últimos anos.
Nayib Bukele, ex-presidente de El Salvador que renunciou ao cargo para poder disputar um novo mandato, dando um drible nas regras eleitorais, deve ter uma vitória fácil, prevê a Eurasia, por ter alta taxa de aprovação. Seu partido, Novas Ideias, também deve ganhar força no Congresso.
No entanto, o novo presidente precisará renegociar um acordo com o FMI após a eleição, e um dos pontos é como ficará a questão do uso de bitcoins. Bukele é defensor das moedas eletrônicas: investiu parte das reservas do país nelas e tornou o bitcoin (BTC) em moeda de uso legal no país.