Caracas: afetada pela crise política e econômica, capital da Venezuela também sofre com o forte aumento da violência (Bloomberg/Bloomberg)
Agência Brasil
Publicado em 8 de julho de 2019 às 16h35.
Última atualização em 8 de julho de 2019 às 16h37.
A Venezuela foi em 2017 o país sul-americano com os maiores índices de mortes violentas, com quase 57 homicídios dolosos para cada 100 mil habitantes, segundo o Estudo mundial sobre o homicídio de 2019, divulgado nesta segunda-feira (08/07) pelas Nações Unidas (ONU).
De acordo com o estudo elaborado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (Undoc), a Venezuela presenciou entre 1991 e 2017 o "aumento mais dramático" de mortes violentas nas Américas, um salto de 13 para 56,8 homicídios dolosos por 100 mil habitantes.
O Brasil, segundo lugar na América do Sul, registrou uma taxa de homicídios de 30,5 mortes para cada 100 mil habitantes em 2017. Estimam-se 1,2 milhão de vítimas de homicídios dolosos entre 1991 e 2007.
Ao levar em consideração todo o continente americano, a Venezuela foi superada apenas por El Salvador, que apresentou uma taxa de 62,1 assassinatos. De fato, os quatro países com as taxas mais altas do mundo estão na América Latina: El Salvador e Venezuela são seguidos por Jamaica (57 mortes por 100 mil habitantes) e Honduras (41,7).
Caracas, a capital do país que mergulhou nos últimos anos em uma profunda crise política, econômica e institucional, registrou em 2017 a estratosférica taxa de 122 mortes por 100 mil habitantes – mais que o dobro do índice computado a nível nacional na Venezuela.
O risco de morrer assassinado na Venezuela é excepcionalmente alto para homens entre 15 e 29 anos de idade. A taxa de homicídios neste segmento da população foi de 200 por 100 mil habitantes.
Embora abrigando apenas 13% da população mundial, o continente americano soma 42% de todas as vítimas de homicídio A situação é particularmente grave na América Latina, onde confluem problemas de desigualdade, fraqueza de sistemas judiciais e poder do crime organizado.
A média anual de homicídios nas Américas é 17,2 por 100 mil habitantes, quase três vezes a média mundial e seis vezes mais do que na Europa. A América Central, com 25,9, América do Sul, com 24,2, e o Caribe, com 15,1, são as sub-regiões com as maiores taxas de homicídios do planeta. De fato, a América é a única região em que a taxa de homicídios aumentou desde 1990.
Por outro lado, a Undoc destacou a redução do número de homicídios registrados na Colômbia, de 80 para 25 mortes por 100 mil habitantes. A Undoc atribuiu a queda em parte à "intensificação da ação estatal contra o narcotráfico".
Na parte inferior da tabela do continente americano, mas ainda acima da média mundial de 6,1 homicídios por 100 mil habitantes, estão países como Argentina, Peru, Uruguai ou Nicarágua. Apenas o Chile, com uma taxa de 3,1 mortes, ficou abaixo da média mundial.
O relatório da ONU apontou o crime organizado, especialmente o relacionado ao narcotráfico, como principal responsável pelo alto número de homicídios na América Latina. "Existem outros tipos de homicídios, como a violência no casal ou na família, mas o elemento do crime organizado é muito maior do que em qualquer outra região do mundo", explicou Angela Me, chefe do departamento de pesquisa do Undoc.
"No mundo, em geral, as diferenças nas taxas de homicídio entre países podem ser explicadas principalmente com o desenvolvimento socioeconômico; na América Latina, não. A interpretação é de que há um componente que outras regiões não possuem, que são o crime organizado e as facções."
A especialista identificou, ainda, três causas principais para a situação na América Latina: desigualdade, impunidade e acesso a armas de fogo, responsáveis por mais assassinatos na região do que em qualquer outro lugar no mundo.
O Undoc alertou que "uma Justiça fraca leva à impunidade e cria um ambiente no qual os criminosos conseguem operar mais facilmente". Em 2016, apenas 43% de todos os homicídios cometidos nas Américas foram resolvidos pela polícia – a menor taxa do mundo e quase a metade da Europa.
Para Angela Me, as soluções passam por uma combinação de medidas: melhorar o trabalho policial, aproximá-lo da comunidade, investir em educação e fortalecer o sistema judiciário.