Agência de notícias
Publicado em 3 de agosto de 2024 às 10h10.
A Venezuela terá neste sábado, 3, um dia crucial de manifestações contra a reeleição de Nicolás Maduro, que intensificou as ameaças contra os líderes da oposição, que foram obrigados a permanecer escondidos.
A líder da oposição, María Corina Machado, convocou um protesto para uma das grandes avenidas de Caracas.
Mas o fantasma da repressão de 2017, que deixou quase 100 mortos já durante o governo Maduro, gera medo de sair às ruas após o aumento das ameaças do líder chavista, declarado vencedor das eleições de domingo passado pelas instituições eleitorais controladas por seu governo, em meio a denúncias de fraude por parte da oposição e de países da região.
Sem surpresa, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou Maduro como vencedor com 52% dos votos, contra 43% atribuídos a Edmundo González Urrutia, representante de Machado, impedida de disputar a presidência. As atas de votação não foram apresentadas.
"Foram múltiplos os chamados e gritos de fraude por parte desse setor da direita, radical, criminosa e violenta da Venezuela", disse Maduro em uma coletiva de imprensa com correspondentes estrangeiros. "Eles não querem reconhecer os mecanismos nacionais e soberanos da Venezuela, apenas querem manter o show da farsa".
A oposição afirma ter provas de fraude e apresentou um site no qual publicou cópias de 84% das atas de votação em seu poder. O chavismo afirma que os documentos são forjados.
"Precisamos continuar avançando para fazer valer a verdade. Temos as provas e o mundo já as reconhece", afirmou Machado na rede X, dizendo ter passado para a clandestinidade por temer por sua vida.
Segundo a oposição, González recebeu 67% dos votos.
Ao menos 11 civis e um militar morreram em protestos após a votação e mais de 1.200 pessoas foram detidas durante manifestações em todo o país nos dias seguintes à eleição.
A oposição, que denuncia uma "repressão brutal", anuncio um balanço de 20 mortos e 11 desparecimentos forçados.
Na sexta-feira, também denunciou uma ação contra sua sede em Caracas por um grupo de homens armados e encapuzados, assim como a detenção arbitrária de um de seus líderes, o jornalista Roland Carreño, na capital.
Em questão de horas, cinco países latino-americanos reconheceram na sexta-feira a vitória de Edmundo González Urrutia nas eleições.
O Peru foi o primeiro na terça-feira, quando alguns governos denunciavam uma fraude eleitoral. Lima reconheceu González Urrutia como "presidente legítimo da Venezuela", rejeitando o anúncio da autoridade eleitoral venezuelana que proclamou a vitória de Maduro para um terceiro mandato de seis anos, que o deixaria no poder por 18 anos.
Depois de pedidos reiterados de transparência, Argentina, Uruguai, Equador, Costa Rica e Panamá reconheceram na sexta-feira a vitória da oposição.
O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Antony Blinken, afirmou que existe "evidência esmagadora" que certifica González Urrutia como o vencedor das eleições de 28 de julho.
Maduro, por sua vez, agradeceu os esforços dos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, Colômbia, Gustavo Petro, e México, Andrés Manuel López Obrador, a favor de um acordo político na Venezuela.
"O presidente Lula, o presidente Petro e o presidente López Obrador estão trabalhando em conjunto para que a Venezuela seja respeitada, para que os Estados Unidos não façam o que estão fazendo", comentou o presidente socialista.
Maduro acusa Machado e González Urrutia de promover atos de violência e um "golpe de Estado" com o apoio de Washington. Na quarta-feira, ele afirmou que os dois deveriam "estar atrás das grades".
Também disse que havia planos para uma violenta "emboscada" durante uma manifestação convocada em Caracas para sábado por Machado.
Ele denunciou que "criminosos" que vincula à oposição planejam "um atentado" perto do bairro de Caracas no qual Machado convocou uma manifestação.
Maduro, 61 anos, no poder desde 2013, convocou para este sábado o que chamou de "a mãe de todas as marchas para celebrar a vitória".
Entre os países que reconhecem a vitória de Maduro estão Nicarágua, Rússia e Irã.